Spinning
O ano de 2009 será o ano de todas as verdades, até já o designámos o ano Borda d'Água e a sociedade da mentira. Os majistrados querem ser os donos do direito, da justiça e da honra universais, os políticos já não são omnipotentes, as corporações ganham poder pela pressão que fazem junto dos poderes até que estes cedam às suas pretensões, os jornalistas querem ser os novos heróis - pelo romantismo, e pelo poder que sentem ao fazer perder o poder aos que o têm. Todos estes players na sociedade ultrapassam as suas funções naturais, é como se saíssem da sua casca natural para entrar na casca do vizinho, influenciando-o, condicionando-o, por vezes destruindo-o. Isto é tanto mais assim porque a crise seguida da recessão se instalou na Europa e em Portugal, e quando assim é as relações inter-institucionais ficam mais ríspidas e tensas, o mercado de trabalho rigidifica-se, o desemprego dispara, as injustiças sociais e as desigualdades - acabam por fazer a sua carreira agravando as clivagens e fracturas sociais. Num caldo macro-económico recessivo é isto que sucede em qualquer sociedade. Veja-se a Islândia, ontem um modelo de desenvolvimento e qualidade de vida, hoje está falida com o PM obrigado a demitir-se. Este clima de penúria crescente obriga-nos a ter filtros especiais para compreender a realidade, precisamente para nos protegermos das falsas ideias, das falsas promessas - que todos aqueles players procuram impingir à sociedade. Até os jornalistas, alguns deles, seguramente, já se vão habituando, conhecendo o poder de que dispõem, a desenvolver processos de manipulação - spinning -. Seja num contexto de meras relações públicas, em que posicionam certos eventos ou factos mais a jeito de A ou B, contra C ou D - para daí extrair um efeito legal, político, moral ou outro que - directa ou indirectamente - influencie a opinião pública. Neste jogo há sempre alguém que perde e alguém que ganha. Daí a importância das notícias e as suas legiões de especialistas que também não deixam de manipular a informação de que dispõem, especialmente desde que os media se tornaram um veículo de levar a informação ao público. E nós, consumidores, alternadamente, ou nos deixamos levar ou temos filtros capazes de separar o trigo do joio. O ano de 2009 será, pois, o ano dos analistas e de todas as análises. Especialmente porque muitos desses analistas passarão metade do seu tempo a tentar explicar por que razão as suas análises não se concretizaram.
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