quinta-feira

Mário Crespo e o "jornalismo-genealógico"

Mário Crespo dá aqui um sinal de mau jornalismo. A dado passo mete os pés pelas mãos, chega mesmo a perder a racionalidade, baralha-se e cai. Vejam a entrevista até ao fim.
Apenas recordo aqui ao jornalista da SIC que os factos são sagrados, as opiniões livres e as baboseiras de certos enunciados pseudo-jonalísticos também. Isto não isenta ninguém do império da lex, mas também nenhum jornalista tem o direito de se lhe antecipar, ou prever efeitos catastróficos pelo perfil familiar deste enredo (Freeport). Crespo, que é jornalista, deveria ter aprendido que uma alegada loira vista por trás, se estiver bem penteada, pode ser uma cadela de raça quando a vemos de frente. Este exemplo, grosseiro, seguramente, era um exemplo dado nos livros de jornalismo há umas décadas. Por vezes, o que parece não é, mas Mário Crespo ainda vive no "salazarismo das ideias" - em que se aplicava essa regra da presunção.
Regressaremos ao tema de forma mais circunstanciada a fim de tentar ajudar o jornalista Crespo a reflectir mais objectivamente - sobre o próprio enunciado das hipóteses que um jornalista tem o dever de saber equacionar. Seja a entrevistar um trolha, um administrador ou um PM. Mas aos informadores deve caber o papel de saberem reflectir "objectivamente" os factos, de forma linear e concisa, sem interpretações, adjectivações ou avaliações. É isso que se espera do jornalismo, e por maioria de razão do jornalismo político - mais sensível por natureza.
E se há coisa que o jornalista Crespo não consegue, aliás, nunca conseguiu, foi perceber isso. Mário Crespo não é um jornalista objectivo, isento, rigoroso - ele é a encarnação da própria adjectivação. E ou adora um entrevistado, como António Lobo Antunes (para dar um exemplo) - e a entrevista deixa de o ser porque o Crespo começa a idolatrar o entrevistado a ponto de enjoar e afastar o telespectador do écran ou mudar de canal; ou odeia suavemente o seu convidado - e não descansa enquanto não brilha à sua custa, nem que isso custe a verdade, a objectividade, o rigor e a isenção que qualquer jornalista se deve esforçar por ter. Aquilo que Mário Crespo não conseguiu nessa entrevista, e em muitas outras.
Hoje impendem dúvidas sobre o PM de Portugal, mas creio não ser função (muito menos missão) de um jornalista, seja Crespo ou qualquer outro, de contribuir para adensar essa onda de suspeição. Mário Crespo tem uma grave dificuldade em separar os factos das opiniões, a imparcialidade e a neutralidade, valores que integram a crença liberal numa democracia pluralista e num estado de direito.
Se aos jornalistas não cabe o papel de elogiarem quem está no poder, também não lhes assiste o direito de adensar as dúvidas que existem para que o seu brio profissional seja valorizado no mercado de jornalistas em Portugal.
Mário Crespo pode estar rotundamente enganado, e se estiver a mancha de mau profissionalismo esmaga-lhe os ombros para o resto da vida, ainda que ele hoje trabalhe árduamente para ser um herói à custa da condenação prévia de Sócrates. Um herói oportunista, portanto. E autor dum jornalismo miserável de tios e sobrinhos - inaugurando, assim, uma nova modalidade de jornalismo: o jornalismo-genealógico. A justiça terá de fazer o seu trabalho.
Se isto é jornalismo eu sou o Brad Pitt. Creio que o dr. Balsemão após ver aquela miserável entrevista, não terá razões para se orgulhar naquele jornalista.