A imaginação socialista: mercado político vs "mercado económico"
Apesar da famosa crise das ideologias, que remonta a discussões do séc. XX, o ano de 2009 será o ano das ideologias, dos projectos, dos programas, das moções, das estratégias, das táticas e o mais que a arte da política permitirá às imaginações do poder e das oposições. O marketing político do psd de Ferreira Leite soprou para Espanha, é lá que tratam da imagem à Lapa; e os demais partidos também terão de recrutar os seus dispositivos de comunicação para fazer passar as mensagens. Mas esse é o problema: o do teor das mensagens. O que nos convoca para saber o que é isso do socialismo ou até mesmo da social-democracia, visto que as necessidades práticas da governação empurram os partidos para saber como resolver problemas concretos e não tanto para aventar ideias - na esperança de que entre uns e outros se estabeleça um debate ideológico ao estilo do séc. XX.
Ferreira leite já disse: "não contem com as minha ideias, elas são só minhas". A República que se lixe. Nem vale a pena devolver a questão à República, porque esta já há muitos anos não deve ter boa ideia da srª Leite, um tremendo erro de casting de Cavaco. Talvez o seu maior embuste.
Por isso não as veicula a ninguém, excepto a Paulo Rangel e a Marques Guedes. Não vá o PS aproveitar algumas dessas "pérolas" para a governação ou, quiça, para integrar já na moção do PS em Fevereiro. Portanto, debate ideológico com a srª Leite será ainda mais difícil do que discutir os contornos do novo capitalismo com Cristiano Ronaldo.
Imaginação socialista, desenvolvimento capitalista, novo capitalismo, regulação, personalização dos mercados - tudo isso serão vectores de mudança que carecem de pormenorização e ajustamento à realidade nacional, e é aqui que o PS terá de repensar a sua grande mensagem para o interior do partido e, ao mesmo tempo, para o País. Será, pois, uma conversa simultaneamente privada e pública, íntima e alargada.
Portanto, o PS em Fevereiro não irá falar para as "comadres", como fez o psd em Guimarães que elegeu Ferreira leite. Aquilo que ao PS será pedido - passará por perceber em que medida mais Tecnologia implicará mais e melhor mercado, ainda que todos saibamos que o mercado é essa coisa individualizada pelo egoísmo.
Nesta medida, o socialismo não poderá ser só mais Tecnologia, terá de saber acumular inovação em todas as áreas da governação, integrar doses maiores de democracia e fornecer projectos à sociedade que a torne mais autodirigida.
O grande constrangimento será pensar e dizer tudo isso num ambiente pessimista e recessivo em que o sal da dinâmica económica falta: a Confiança.
E estando o mercado da economia e das transações de bens e serviços em recessão - a grande questão será saber se o mercado político consegue "dar a volta" ao "mercado da economia" sem grandes danos sociais e, ao mesmo tempo, injectar nele as doses cavalares de confiança que faltam para reanimar os mercados internacionais e potenciar o consumo, alavancar as exportações e pôr os tais efeitos multiplicadores da economia real a gerar riqueza, emprego, investimento e bem-estar, qualidade de vida e coesão no interior das sociedades.
No fundo, é isto que faz a "felicidade" de um povo e a coesão duma sociedade.
O mercado político, de per se, será capaz de fazer essa pequena revolução na economia mundial, europeia e nacional?
2009 - será o ano do grande teste. O ano em que os mercados da política e da economia se defrontam, ainda que saibam que um não pode esmagar o outro, porque ambos só funcionam bem em simbiose.
Pergunte-se a Ricardo Salgado Espírito Santo quantas vezes ele este ano não rezou já a favor do Estado...
Tenho para mim que o Estado, hoje, é o maior credor de missas por parte dos empresários da indústria e da alta finança.
Com o PsD no poder, isto, por razões ideológicas e programáticas, jamais seria possível. O que implicaria, na prática, mais falências, mais desemprego e mais turbulência social.
Mas o tributo que Ferreira leite presta à inteligência é tal que nem isso percebe.
Numa palavra: patrocine-se a sua manutenção no posto onde está. Ela é o "homem" ideal para garantiar uma 2ª maioria absoluta ao PS.
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