Da condição humana: da miséria dos homens
Quando se bate na fronteira dos 40s e se não é completamente destituído começamos a ter uma certa ciência no método da observação a fim de produzir informação, conhecimento e, no limite, também alguma sabedoria. É a vantagem da experiência e da idade, com muitos erros à mistura. Embora o erro, na linha de Vergílio Ferreira, seja a tal verdade a aguardar vez. Daí a percebermos as coisas da vida é um passo. Portanto, não é difícil compreender que na vida há três espécies de Homens: Os que sim e os que não. Depois há os que "Nim" - figura intermédia para gerar ambiguidade, incerteza e, assim, rentabilizar essa zona artificialmente opaca da decisão pública que serve fins pessoais, de poder, de ego, capricho, influência ou outro tipo de traficância e compra & venda de poder - na cadeia infernal dos micro-poderes. Ora, o sistema político, sobretudo após o "soco no estomâgo" representado pela polémica em torno do Estatuto dos Açores, irá ditar se Belém se comportará relativamente a S. Bento explorando a autenticidade ou manipulando o ressentimento, cada vez mais corrente em política. O primeiro grande teste para determinar a conduta política emergente de Belém em relação ao Executivo - decorre da marcação das eleições. E a coisa é tão simples quanto isto para aferir esse quantum político que exala de Belém: 1. Se Belém insistir em agendar as eleições legislativas-autárquicas no mesmo pacote - vingará a tese do ressentimento de Cavaco, precisamente por não ter conseguido digerir a derrota política por que passou pelo tal malfadado estatuto insular. 2. Se outra for a opção, mais realista e consentânea com o sistema político e com a clarificação das posições por parte dos eleitores portugueses, Belém projecta a tese da autenticidade. Veremos se Cavaco denuncia ressentimento ou afirma autenticidade no sistema politico-institucional em Portugal em função do agendamento das eleições.. Tenho para mim, porque não tenho grandes ilusões acerca da condição humana e da miséria que ela encerra (embora também seja capaz do melhor), que os homens quando estão em grupo não dizem mal dos outros homens. Apenas trocam informações vitais e fazem comparações e estatísticas sobre aqueles com quem se relacionam. Bem ou mal, a vida pública está repleta de situações anómalas. Situações há em que não podemos acreditar em nada, nem mesmo quando nos juram que estão a mentir. Ou me engano muito, apesar de ser contraproducente para Portugal, ou iremos entrar numa fase de alguma recessão política, seguida da outra: a económica. E se assim é, a responsabilidade só deverá ser imputada a Ferreira Leite, por uma razão simples: sendo ela fraca politicamente, insustentável, sem ideias, projecto ou sequer ideia do País que temos e de quem somos, Belém sente-se sempre na obrigação (política e moral) - de co-adjuvar a senhora a carregar a sua cruz na Lapa, e isso - directa ou indirectamente, só pode contribuir para envenenar as relações políticas entre Belém e S. Bento. Ainda que Paulo Rangel, entalado entre o professor e a pupila, seja o homem do "Nim". No fundo, Cavaco ficou refém do actor político mais fraco e insustentável em Portugal, o que não deixa de ser uma curiosidade política e, no caso de Ferreira Leite, já etnográfica e digna de museu. Por vezes espirramos, e o tempo de frio polar impele a isso, mas, na realidade, aquilo que fazemos é atar os atacadores. Por vezes até dá vontade de entregar os comandos do sistema político ao engraxador da Baixa.
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