terça-feira

Cavaco é forte com os fracos. Racionalização política do ressentimento

Cavaco foi forte com os fracos - tentando cilindrar os Açores - cujo Governo regional é verdadeiramente democrático e pluralista;
Mas tem sido fraco com os fortes - vide a relação medrosa com Al berto da Madeira - podre durante décadas. Em S. Bento Cavaco era anualmente chantageado com o Orçamento porque Al berto queria comer sempre uma fatia cada vez maior do bolo; já em Belém - o líder da Madeira, para achincalhar Cavaco, chamava-lhe o "sr. Silva", como se fosse um mero empregado duma charcutaria da Morais Soares. Este nunca reagiu.
Cavaco ao não remeter para o TC o diploma que considerava inconstitucional quis medir forças - públicamente - e testar o seu poder com a maioria rosa. Tramou-se.
Hoje o ambiente é de desconfiança recíproca, e tudo porque cavaco quis condicionar a vontade da maioria de deputados na AR através do seu demo-populismo feito nos media, marginalizando os órgãos de soberania competentes para o efeito.
Cavaco preferiu os media ao Tribunal de Contas, perdão, Constitucional...
Não obstante Cavaco ter razão na substância, perdeu na forma. E, pelos vistos, citar o eminente constitucionalista de Coimbra, Vital Moreira, que é da área do Governo, só ridicularizou ainda mais a autoridade e a credibilidade de cavaco em Belém. Ter que citar um constitucionalista, só porque ele integra a área do actual poder, denuncia uma concepção provinciana da política, do País e até das relações humanas.
Cavaco, como aqui temos dito, tem feito o seu mandato de forma muito semelhante à de Américo Tomáz antes do 25 de Abril: corta fitas, inaugura estátuas, estradas, hospitais, escolas e monumentos, faz turismo diplomático mas, na realidade, a sua capacidade para atrair IDE, dinamizar os principais indicadores sociais e económicos, é práticamente nula. Bem sei que as funções presidenciais são mais de representação do que executivas, mas, ao menos, o turismo diplomático que Cavaco tem feito com a sua entourage ao exterior, poderia saldar-se em algum investimento positivo para Portugal, mas o saldo é indiferente.
Cavaco apenas diz que recebe centenas de cartas do zé povinho sem dinheiro para comer, etc, etc... Mas, para além da denúncia pública desta pobreza que alastra em Portugal, Cavaco não tem feito mais nada. Limita-se a ser o pombo correio das cartas do zé povinho ao país. É uma espécie de carteiro de Belém que anuncia as más novas da pobreza em Portugal. E Cavaco, recorde-se, é o PR, não é um cidadão comum.
A dois anos de mandato, não tenho dúvidas que se Mário Soares tivesse ganho Belém, mesmo com aquela provecta idade, o quadro de relacionamento entre órgãos de soberania já teria promovido uma melhor imagem de Portugal no exterior e, por consequência, Portugal também teria conseguido captar mais investimentos infra-estruturantes que hoje estariam a contribuir para valorizar os nossos recursos humanos potenciando também as exportações do país.
Cavaco tem um baixo perfil democrático, a sua personalidade adaptou-se a um cargo executivo num país subdesenvolvido - a sair da grelha agrícola e rural que nos tolhia no post-25 de Abril.
O Portugal da post-modernidade precisa em Belém de um perfil mais desenvolvimentista, mais cosmopolita, mais dialogante e interactivo com a sociedade e com o Governo - e Cavaco, pelo seu perfil e provas que deu nestes dois anos - tem-se revelado um player que paralisa mais do que dinamiza. Até o poeta Manel Alegre, entre poesias e gaffes económicas, faria uma melhor performance.
A cooperação estratégica é, afinal, uma fórmula vã. Se não deu para apoiar a sua amiga e discípula Ferreira leite (que é o maior fiasco político de que há memória, seguida de Santana Lopes), se não deu para coadjuvar o Governo nas questões ligadas ao desenvolvimento e à coesão social, tenho sérias dúvidas que dê para dinamizar o crescimento e o desenvolvimento económico e social em Portugal.
Infelizmente, não é com o Estatuto dos Açores, que Cavaco reputa uma questão crucial (sendo, na realidade, uma matéria esotérica para a maior parte dos portugueses), que aumentamos a nossa taxa de empregabilidade, combatemos a pobreza, coadjuvamos o empresariado a sobreviver à crise dos mercados e, em suma, fazemos de Portugal uma nação moderna e desenvolvida.
Veremos como cavaco irá racionalizar políticamente o ressentimento que acumulou com o averbamento duma derrota que o afectou psicológicamente.
Cavaco promulgou o Estatuto dos Açores porque era obrigado a tal pela CRP, veremos, doravante, se as fiscalizações preventivas, os vetos e outras armas constitucionais em seu poder para paralizar a governação - decorrem duma vontade autentica ou, simplesmente, emanam duma implicância presidencial resultante do ressentimento - ainda que escudadas naquilo que Vilfredo Pareto designou de sistemas intelectuais de justificação.