segunda-feira

Cavaco poderia aproveitar a sua mensagem para desejar, ao menos, um Bom Ano aos portugueses. Mas...

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Mas, a argumentação do sr. PR é conhecida, gasta e estafada. Nada de novo na república. Embora Cavaco tenha razão na substância, posto que uma lei ordinária não deve limitar uma lei da CRP nem condicionar os poderes do PR - perdeu na forma política ao desafiar a maioria parlamentar do PS na AR a fazer um braço-de-ferro - que perdeu. Cavaco não quis ab initio enviar o Estatuto dos Açores para o TC, como devia, optou pela luta política através dos media com aquela declaração extemporânea a 31 de Julho, deixando os portugueses abananados. Exasperou a maioria, e a maioria desafiada, deu a sua prova de força. Se fosse o PSD que estivesse no poder o resultado seria equivalente, o poder - quando se tem - usa-se.
E já que Cavaco fala em termos de princípios e dos superiores interesses do Estado - esperemos que use do mesmo critério em relação à "república das bananas" - também conhecida pela Madeira de Al berto, a mesma que lhe chama "sr. Silva" - impedindo até que Cavaco - ao visitar a ilha - se prive de ir à Assembleia Legislativa da Madeira e aí ser formalmente recebido pelos deputados regionais. Isto Cavaco já não considera absurdo!!!
Aqui é pena que Cavaco não faça uma declaração ao País, não denuncie as arbitrariedades cometidas pelo presidente do governo regional, Al Berto, pontapeando a democracia e cuspindo no estado de direito, já para não falar quando o dito Alberto designa os jornalistas de filhos da p...
Aqui Cavaco mingua, dissolve-se, esconde-se no pátio dos bichos em Belém e ninguém o vê e ouve. Finge que não vê TV nem lê jornais, como dizia na década de 80. Numa palavra: acobarda-se politicamente, não tem coragem para enfrentar o líder da Madeira que governa a ilha como um quintal, aquele que Jaime Gama - em tempos - apelidara de "bokassa"... É pena que Cavaco hoje use dos dois pesos e das duas medidas na avaliação dos processos de tomada de decisão em que é chamado a intervir.
Resta a Cavaco ficar com a substância da razão e com os améns dos eminentes constitucionalistas (inclusive Vital Moreira), mas em política - a forma de conduzir os processos, por vezes, é mais importante do que a substância, e esta é a principal lição que o PR deverá guardar para si no futuro.
Cavaco já não está em S. Bento a governar, projectando a filosofia "do quero, posso e mando" - sem nunca dar "cavaco" no Parlamento aos deputados da oposição (ao invés de Sócrates que vai lá todas a semanas) - suportado por uma maioria no hemiciclo que o respaldava pela então "máquina laranjinha", e como faz confusão baralha as pistas...
E ao baralhar as pistas adopta uma atitude assertiva e combativa para com os Açores (liderado por um governo regional socialista), e uma atitude complacente e medrosa com a Madeira (liderada pelo Alberto - há 30 anos no poder..) - revelando uma dualidade que em política é tão perigosa quanto enfraquecedora.
Aqui Cavaco já não invoca o superior interesse nacional, nem os princípios nem as toneladas de adjectivos e a gramática política a que recorre para colmatar os chamados sistemas intelectuais de justificação, como diria Pareto que, a dado momento, os actores políticos têm na polis.
No fundo, Cavaco tem razão ao classificar de "absurda" a lei que foi obrigado a promulgar, parecia um leão velho nas paisagens do Serengethi a ser expulso pelos novos leões, mas se ele quisesse ser verdadeiramente justo (e não apenas quando lhe convém) terá de olhar para os Açores com as mesmas lentes com que deverá, doravante, olhar para o jardim da Madeira - que é só uma coutada para alguns: os amigos do Alberto, os mesmos que, lamentavelmente, designa o PR de "sr. Silva" e ganham os concursos públicos adjudicados pelo Estado, preterindo, sem qualquer legalidade, todo aquele empresário que não tenha o cartão laranja ou não contribua para a causa do Al berto.
Confesso, por último, que me desiludiu a mensagem de Cavaco, que a poderia aproveitar para tecer uma mensagem de ânimo e de esperança dirigindo aos 10 milhões de portugueses uma boa nova. Mas a sua obsessão com o Estatuto dos Açores - que nada diz à maior parte dos portugueses, absorveu a totalidade do seu tempo de antena anti-governo regional dos Açores.
É triste que cavaco não tenha reservado um parágrafo social na sua declaração ao País para endossar uma mensagem de esperança aos portugueses mais desfavorecidos, àqueles que vivem com 400 e 500 euros por mês. Poderia até ter copiado um aparte da mensagem do cardeal D. José Policarpo - para esse efeito, mas a obsessão de Cavaco pela forma política fá-lo esquecer da importância da substância das coisas, daquelas que dão de comer e de beber aos portugueses, e essas necessidades não se atendem com a questão dos Estatuto dos Açores - transformada num casus belli por cavaco a 31 de Julho do corrente.
Cavaco foi o detonador de si próprio, por isso não se pode queixar.
Daqui desejamos um Bom Ano ao sr. PR, que era coisa que ele deveria ter tido a consideração de dizer aos portugueses que o ouviram.