quinta-feira

Sócrates vai ao Parlamento e ganha o debate. Uma molhada de Governo...

É o que se chama uma molhada de Governo por m2. Sócrates foi ao Parlamento e ganhou (mais) um debate. Mérito de Sócrates?! Demérito da oposição? Crise múltipla (interna e estratégica)? Talvez todos estes factores tenham concorrido, mas o que é facto é que não existe alternativa ao modelo de desenvolvimento social e económico traçado pelo Governo socialista liderado por Sócrates.
O Governo foi ao Parlamento anunciar a redução da taxa de IRC para ajudar à competitividade das empresas nacionais. Essa descida de 25% para metade vai beneficiar cerca de 300 mil empresas. Em si isto é positivo. Veremos como as empresas e o mercado reagem a estes estímulos.
O resto é conhecido: contenção orçamental para evitar o défice e manter as contas públicas como um orçamento duma família honrada e continuação das políticas públicas, talvez agora com mais atenção ao vector social, e compreende-se porquê - dada a crise externa que só veio agravar os temores socio-económicos intra-muros.
Mas Sócrates não ganha os debates só pelo facto de apresentar medidas na esfera económica e fiscal e safar-se bem na oratória parlamentar. Sócrates ganha os debates porque consegue fazer passar uma imagem onde a força de uma ideia para Portugal está patente, e que resulta de um misto de ideário de austeridade (contas públicas equilibradas) e uma visão de modernidade na esfera social, puxando pela Educação articulado com a necessidade de pôr em marcha os investimentos públicos projectados.
Ou seja, as razões económicas por si só não explicam o poder que detem. Esse deriva da forma como encarna um certo protestantismo ascético radicado numa ideia de trabalho e de querer-realizar, ausência duma oposição credível e inovadora e pelo facto de não haver modelo de desenvolvimento económico mais competitivo e socialmente coeso do que aquele que defende no âmbito do programa de Governo em funções.
Eis as razões pelas quais Sócrates irá, de novo, ganhar as eleições legislativas em 2009. A dúvida é saber com que percentagem eleitoral.
Mas para mim a novidade foi ver o PM a discutir as teses do Congresso do PCP - cujas narrativas ainda utilizam uma linguagem retrógrada como se o muro de Berlim ainda estivesse de pé, Cunhal instalado na Soeiro Pereira Gomes, Honecker a mandar na RDA, a economia planificada (com os planos quinquenais) como ciência dogmática e infalível que só provocou desgraças no Centro e Leste europeu e, no plano externo e das relações internacionais - com a doutrina da soberania limitada de Brejnev em pleno funcionamento para aplacar os desvios das repúblicas Checas que quisessem manifestar a sua Liberdade à margem do Pacto de Varsóvia e, no domínio económico, do famoso Comecon.
Jerónimo ainda é pior do que Carvalhas, Carvalhas pior do que Cunhal, e todos juntos fazem-me lembrar o Honecker numa versão de Feira da Ladra a dar beijinhos aos seus congéneres do Leste, mas já sem o arame farpado do muro de Berlim.
Convenhamos que foi uma jogada inteligente de Sócrates, no plano da dialéctica derivativa, pois por momentos pensei que o mundo regressara a 1989, com o muro de Berlim ainda de pé, Reagan sentado na Sala Oval e Gorby a vacilar ante as bebedeiras de poder que se adivinhavam por parte de Boris Yeltsin..
Bons tempos, o da Guerra Fria, ao menos quase tudo era previsível, até a guerra. Só não se conseguiu prever que em 2008 um PM de Portugal constatasse que a linguagem e as asserções que consubstanciam as Teses do Congresso do PCP sejam as coisas mais inomináveis e retrógradas de que há memória, elegendo Cuba e Coreia do Norte como referenciais democráticos.
É uma vergonha este PCP, só dão má imagem de Portugal - voltando a falsificar a história.