quarta-feira

O peso da imagem. Tributo a Giovanni Sartori. Madonna


Passamos a vida amarrados a imagens. Na tv, na rua, criamos empatia (ou não) em função do peso das imagens, apesar delas, por vezes, muitas vezes, nos dizerem pouco acerca do que retratam e ainda menos do mundo que procuram reflectir. Mas o ponto é que a imagem nos é servida em chinês, árabe, inglês, português. É uma pastilha que todos temos que gramar: a imagem. A imagem é, assim, uma espécie de O2 - sem a qual vivemos.
A televisão é, naturalmente, o seu veículo, ela gera o telever - deslocando o contexto da palavra para o contexto da imagem. A diferença é profunda e altera os fundamentos da nossa comunicação.
A tv é um espaço de aventura (pequeno, é certo). Mas é, acima de tudo, um efeito de substituição que inverte todo o esquema da compreensão em favor do "ver". Ou seja, até certo ponto o mundo e os acontecimentos eram-nos relatados pela palavra (via rádio, veja-se a brincadeira de Orson Welles com a chegada dos marcianos à América em 1938, no arranque da II GM...), hoje o mundo é-nos servido à mesa com belas e desgraçadas imagens. Umas seduzem-nos, outras tiram-nos o apetite. É o que me sucede quando vejo Alessandra Ambrósio e uma líder da Lapa. Deus é assim, um grande sacana - que ao distribuir a beleza - a uns colocou no início da fila, a outros no meio e a outros no fim. E o pior é quando essa alegada "beleza" interior também não existe.
Esta equação leva-nos (até) a supôr que os fundamentos da Bíblia teriam de ser alterados, pois quando se diz que no princípio era o verbo segundo o Evan. de S. João - deveria hoje, pela ultrapassagem da palavra, que no princípio era a imagem. E é com base nesta "evolução" que o Alberoni, curiosamente, chega a uma conclusão tão simples quanto brilhante quando nos diz que:
Os rapazes ouvem preguiçosamente aulas... esquecendo-as rapidamente. Não lêem jornais... Trancam-se no seu quarto com os posters dos seus heróis, vêem os seus espectáculos, andam na rua mergulhados na sua própria música. Acordam apenas quando se encontram na discoteca à noite. (...)
Vem tudo isto a propósito de duas razões que se cruzaram: o facto de uma amiga me dizer que não tem televisão em casa (quer dizer, numa das casas, assim é que é..) e o mundo ser-nos explicado essencialmente através de imagens. A ponto de quando tentamos agarrar uma explicação para o racionalizar e apenas temos imagens, toneladas de imagens - onde quase as palavras não entram como até parecem estranhas a esse mundo.
Isto reconduz-nos ao essencial. Giovanni Sartori - que é um sábio do nosso tempo, e à sua capacidade em ter-nos lembrado todo este desnível que hoje existe quando se compara a imagem relativamente à palavra, com aquela a esmagar. Um esmagamento que nos deixa, naturalmente, culturalmente atrofiados.
Ora, se pensarmos um pouco mais - e olharmos para a América-eleitoral verificamos que Barack Obama é, de longe, um homem que cultiva o pensamento, a palavra e, nesse sentido, recria o contexto conectivo de valores, crenças, concepções, ou seja, recupera as simbolizações que reflectem a sua cultura. E isso não é apenas bom para a América, é também bom para o mundo.
Portanto, estou em crer que se Giovanni Sartori pudesse votar na América votaria Obama.
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Madonna - Don't Cry For Me Argentina
"Hoje acordei assim:" (TO-ACS)

E assim...
Madonna-Miles Away (with lyrics)