sexta-feira

José Pacheco Pereira faz o mea culpa na Quadratura do Círculo. A "meretrização" da política (um conceito emergente)

Todos sabemos que Pacheco Pereira é um intelectual que sabe pensar, sobretudo quando não está particularmente engajado na assessoria da actual "liderança" do PSD que anda, literalmente, a reboque dos acontecimentos. Foi esse o mea culpa que ontem Pacheco Pereira teve a hombridade de fazer diante Lobo Xavier e António Costa no programa semanal Quadratura do Círculo.
E tudo a pretexto de quê, de quem?! De Santana Lopes, evidentemente. O símbolo do passado e do falhanço no governo e na capital - salvando-se, apenas, as palmeiras que plantou na Figueira da Foz... Pois sabe-se que Santana anda sempre por aí, sempre disponível para tudo e para nada, como evidenciou Pacheco - ao sublinhar que ainda não lhe arranjaram um "lugar" e, como tal, ele oferece-se para qualquer lugar impedindo, assim, que o psd discuta internamente e com seriedade propostas credíveis para o país (que acaba por não conseguir pensar). Ora, é a este fenómeno sociopolitico emergente, à falta de melhor definição, que aqui denominamos por meretrização política. Será mais um conceito a integrar a gramática política dos nossos dias...
Pacheco criticou ferozmente Manuela Ferreira Leite por ter sido arrastada para o nome de Santana, através do diktat da Distrital do psd/Lisboa e do sr. Carreiras - que o impôs à actual presidente do partido. A tal ponto que o próprio António Costa perguntou a Pacheco: afinal, quem manda no psd, Pacheco ou o sr. Carreiras? Pergunta que ficou irrespondida...
Nomes como Pedro Passos Coelho, Morais Sarmento (putativo PM) ou mesmo António Borges (putatito-putatitvo ministro da Economia) eram, segundo Pacheco, nomes mais credíveis a concorrer pelo PSD em Lisboa, mas o processo partidário no actual psd tritura qualquer mecanismo de discussão democrática saudável dentro do partido com a finalidade de identificar o melhor candidato no quadro das eleições autárquicas que se avizinham.
Desta feita, Pacheco Pereira distancia-se de Ferreira leite, crê-se mesmo que os seus artigos no Público deixarão de ser as narrativas inspiradoras para Ferreira leite depois confeccionar as suas "lengas-lengas" no Expresso. Consabidamente, António Borges só escreve banalidades neoliberais que o mercado teorizado por Adam Smith já triturou e o Estado-social (que pugna por REGULAÇÃO) se encarregou de reparar, à luz da actual turbulência dos mercados financeiros globais que tiraram o sono a muito boa gente.
Confesso que ontem Pacheco me surpreendeu ao ser tão livre quanto crítico no pensamento que teve a coragem de afirmar publicamente. Só é pena que Pacheco veja o que está a acontecer no psd a pretexto do erratismo genético de Santana e também não tenha igual coragem de criticar a falta de capacidade política de Ferreira Leite em estruturar e articular um conjunto de propostas políticas que devolvam a credibilidade ao PSD - como sublinhou, e bem, António Costa - no referido programa da Sic/News.
Enquanto o psd não tiver uma liderança credível perdemos todos: o país, que se vê privado de propostas alternativas ao PS; o PS que não tem interlocutor à altura no Parlamento e na sociedade para pensar e discutir política a sério - e, por extensão, o PCP e o BE (ambos partidos radicais e um pouco anti-sistema) que assim têm mais espaço sociológico de crescimento. O que só fragmenta o eleitorado e estilhaça a possibilidade da existência de governos maioritários hoje indispensáveis à governação em contexto de crise sistémica.
Nesta conformidade, até Lobo Xavier - com piada - disse que António Costa (seguindo uma dica dum taxista..., eis as referências de Lobo Xavier!!!) "fazia o papel de Ferreira leite"; Costa, com laracha, disse que "iria tentar encontrar uma peruca para se assemelhar à santa senhora" - e o mundo flui assim, com narrativas humorísticas deste calibre, porque, na realidade, aquilo que hoje o psd tem para oferecer aos portgueses é isso mesmo:
- O mea culpa de Pacheco e a peruca de Ferreira leite.