quarta-feira

O ciclo eleitoral começou em Portugal

Manuela Ferreira Leite, falou na Praia da Vitória, durante uma sessão em que o PSD/Açores apresentou o seu "Pacto com a Sociedade", voltou a criticar o facto de "com a proposta da nova lei o PS pretender retirar ao PSD os deputados que tem pelo circulo da emigração".(Lusa). E reforça a nota onde defende que os deputados do PS-Açores já deviam ter-se insurgido com Cavaco a propósito do Estatuto dos Açores. Por aqui até se poderia pensar que Leite foi aos Açores cumprir cabalmente o seu papel: instigar à conflitualidade política entre o Governo e Belém.

Daqui se depreende que Leite quer é "sangue" político, pois entende que quanto mais conflito ela conseguir fomentar entre o PS e Belém - mais o psd - dirigido pífiamente por ela - terá oportunidades de ser alternativa política em Portugal. É um pensamento e uma conjectura miserável, mas não deixa de ser uma deriva que povoa o cérebro de Ferreira leite.

É por esta razão que há dias chegámos à seguinte conclusão política: se Ferreira Leite não serve para governar o País, servirá para envenenar o ambiente politico-institucional entre Belém e o PS para facilitar a emergência socioeleitoral do PSD. É assim, de forma mitigada com as suas ausências na vida pública, que Ferreira leite vê e lê a política em Portugal, é assim que o seu cálculo se faz, é assim que Leite age e reage aos eventos públicos no País. É assim que hoje o PSD - conduzido pela "governanta da Moviflor da Lapa" planifica as acções políticas pelo lado da social-democracia. O que diria Francisco Sá Carneiro desta "planificação" política!???

Entretanto, se olharmos para o lado do PS, e do PM in concreto o que vemos: Sócrates vai a Sines anunciar um dos maiores investimentos jamais feitos em Portugal: a Repsol investe mais de mil milhões na expansão em Sines. A Repsol deu hoje início às obras de expansão das suas instalações no complexo petroquímico de Sines, que receberá investimentos acima de mil milhões de euros, um dos mais importantes na história de Portugal , segundo a companhia espanhola. (in JN).

Será uma acção de política corrente do Governo, de propaganda, de puro interesse nacional? Cada um fará, seguramente, a sua leitura dos factos e o seu juízo. Mas este comesinho paralelo entre Leite e Sócrates - revela um fosso entre ambos que é inquestionável. Sócrates não se resigna e procura fazer o que pode para atrair Investimento Directo Estrangeiro (IDE), Leite faz o que pode para envenenar o ambiente politico-institucional em Portugal, mormente tentando contrapor as relações entre S. Bento e Belém, agora por via insular. No fundo, cada um faz o que pode, a seu modo, a seu jeito e recorrendo aos instrumentos e rede de influência de que dispõe para melhor consecução dos seus objectivos políticos. Uns são objectivos nacionais, os outros são objectivos pessoais e mesquinhos.

Mas isto é só a ponta do iceberg, cabe-nos ver o que está mais fundo, revelando que hoje a democracia representativa assemelha-se a um mercado político que confronta a procura dos eleitores com a oferta dos candidatos, ainda que uns ofereçam mais investimento para o País (Sócrates) e outros contribuam para deteriorar o clima político em Portugal (Ferreira leite). Bem ou mal, goste-se ou não dos actores políticos objecto de avaliação, as coisas são assim.

Eis o postulado, com fins diversos, que o PM e a oposição seguem em Portugal. Será isto normal? Em parte, é!!! Pois à oposição espera-se "quase tudo" para derrubar o Governo em funções. E do Governo em funções - tudo serve para se manter no poder e, se possível, reforçar a suas condições de governabilidade. É dos livros, e Nicolau Maquiavel ensinou isto há 500 anos. Portanto, este postulado tem o tempo da gesta dos Descobrimentos portugueses. Não é, pois, de admirar ou surpreender.

Todavia, isto decorre ou encaixa com uma verdade maior, e que de certo modo foi sublinhada por António Vitorino na passada 2ª feira, na sua prestação no Notas Soltas, na RTP. Haverá mais tensão política em Portugal. É natural que assim seja, pois dentro de meses teremos três eleições em perspectiva: autárquicas, europeias e as legislativas, o que justifica essa crescente tensão política por parte dos partidos e da generalidade dos agentes formais (e informais) do sistema de poder nacional.

O interesse e a racionalidade governam os seus comportamentos. O jogo político prosseguirá com os lobis e grupos de pressão a fazer o seu TPC, alinhando com uns e com outros, numa contrapartida global de acordos entre empresas, sindicatos e corporações. Tudo para fixar o peso socioeleitoral que, cada agente político, deseja ter no sistema de poder em Portugal.

Os "fantasmas" irão reforçar as condições gerais e específicas que adensem o envenenamento das tensões e relações políticas, aqui destaca-se o papel de Ferreira leite no espaço público em Portugal; o Governo procurará ter mais sensibilidade social, e ir ao encontro dessas naturais expectativas. O BE, o cds/pp de Paulo portas e o PCP procurarão, inevitavelmente, extremar posições, inflamar o discurso para, desse modo, cativar e mobilizar os respectivos eleitorados e reforçar as suas sedes de apoio. Ou seja, todos querem ganhar, ninguém quer perder. E tudo isso decorrerá num universo eleitoral que desconhecemos se irá aumentar ou retrair, em função da elastecidade da mecânica da abstenção, sempre uma variável de grande importância nos momentos eleitorais.

Ou seja, todas estas formulações indicam que o consumismo das escolhas eleitorais face aos programas políticos de cada partido e agentes políticos irão disparar. As prestações nos media, como é natural numa democracia de opinião, por vezes demasiado "sondageira" - irão acentuar-se. Tudo isto representará, naturalmente, a irrupção no jogo político duma nova onda de publicidade das propostas, das aparições e também dos radicalismos, sobretudo pela esquerda da esquerda - que se poderá prometer tudo e mais alguma coisa, pois sabe, antecipadamente, que nunca serão partidos com vocação de poder, apenas partidos-protesto.

Portanto, iremos ver de tudo: fantasmas a andar na bicicleta da política, como Ferreira leite, e o BE e o PCP a prometerem o paraíso na terra, com um cds/pp cada vez mais exíguo confinado às propostas securitárias de um Portas sem credibilidade, mentiroso e em perda crescente de votos - sobretudo, de entre o seu próprio escol político/dirigente, como sucedeu no passado recente entre membros da Concelhia do cds de Setúbal - que registou demissões em bloco por discordâncias de fundo com Portas.

O que é que se perspectiva, ante este cenário de mais do mesmo? Creio que a arte estará em os partidos, sobretudo da parte do PS e PSD, os únicos verdadeiramente com vocação de poder, conseguirem a delicada adição de eleitorados distintos, um pouco como fazem as empresas nos seus segmentos de mercado na âmbito da economia dos negócios que vive do e para o lucro.

Haverá certamente o risco de os partidos políticos confundirem os eleitorados, como por vezes as empresas confundem os consumidores, mas esse é, creio, o desafio que hoje se colocam aos actores políticos em Portugal. Até porque não é novidade para ninguém que o esbatimentos das ideologias que dantes separava e distinguia com nitidez os eleitorados e as propostas políticas - hoje aparece mais esbatido. Colocando-se, portanto, a tónica na qualidade das lideranças e também na forma como se concebe o papel que o Estado deve ter na economia e na sociedade.

E aqui, mormente na Educação, na Segurança Social - o PS terá um mar de distinções relativamente ao PSD. Aqui parece que as ideologias não morreram, e vivem para que a economia e a sociedade seja cada vez mais regulada, orientada e ajudada, pedindo-se ao Estado que arbitre as assimetrias que são preocupantes entre os ricos e pobres em Portugal.

Será também aqui, no combate à pobreza e à exclusão social, porventura através da mola da requalificação da Educação e da valorização da Escola Pública, que o PS poderá fazer uma das suas grandes diferenças relativamente ao PSD, que nunca se sabe o que mais deseja privatizar: se a CGD se o Oxigénio que ainda vamos respirando em Lisboa fornecido - em boa medida - pela mata de Monsanto.