quarta-feira

Barack Obama - in PS Lumiar

Barack Obama
Acabou há dias o primeiro ciclo das próximas eleições presidenciais dos Estados Unidos da América.
Terminadas as primárias, ficam designados os candidatos dos dois principais partidos políticos: pelos republicanos, John McCaine e pelos democratas, Barack Obama.
A candidatura dos republicanos não tem exposto ideias, nem apresentado propostas que, pequenas variantes à parte, difiram das que têm sido propagandeadas anteriormente.
A candidatura dos democratas aparece com novidades que obrigam a profunda reflexão, pelo menos em dois sentidos.
Primeiro, que influência vão ter as ideias e as propostas anunciadas na política interna e externa dos Estados Unidos da América?
Segundo, o que vai acontecer nos países de democracias consolidadas, como é o caso português?
Obama corporiza a candidatura democrata.
Obama é um mestiço afro-americano que conhece, percebe e assume os valores políticos pós-modernos.
Perante a clivagem entre os valores materialistas (bem-estar económico e segurança pessoal e colectiva, ou seja, luta contra a inflação e salvaguarda da ordem pública) e os pós-materialistas (auto realização privada, reforço da liberdade de expressão e participação democrática), Obama reconhece que sempre manteve uma relação curiosa com os anos sessenta.
Os anos sessenta são os anos da geração do Baby Boom, a geração dos valores pós-materialistas, os anos em que o relativo desafogo económico possibilitou as preocupações com novos temas, para além dos ligados à sobrevivência.
A geração que vive e transmite novas clivagens, que acredita que a fractura tradicional entre a esquerda e a direita, ideológica, classista e religiosa, é circundada e, por vezes, superada por novas fracturas que se polarizam em assuntos de cariz social e que dividem as nossas sociedades e os nossos eleitores.
A interrupção voluntária da gravidez, os fundamentalismos religiosos, as questões ambientais, os poderes locais, o controlo da posse de armas de fogo, os vencimentos dos altos dirigentes, a segurança social e o serviço nacional de saúde são alguns dos pontos focais que podem dividir ou unir eleitores de vários quadrantes ideológicos, sociais e religiosos.
Ciente deste quadro social, Obama rejeita nichos, interstícios e ambiguidades políticas.
Só os conservadores de direita e de extrema-direita manifestam receios perante as proclamações de Obama. E têm fortes razões para recear.
Na verdade, Obama assume-se como um político realista que advoga a paz, orientado por valores, que faz a união para ganhar, que defende uma democracia mais participativa, mais garante dos direitos fundamentais, da liberdade individual, mais de uma esquerda altamente moderna.
Nas sociedades actuais, é necessário, diz Obama, utilizar a linguagem dos valores, unir eleitoralmente todos os que se empenhem “na promoção das oportunidades e na prosperidade de todos os Americanos... que se reorganizem no projecto de renovação nacional e que vejam o seu interesse pessoal intrinsecamente ligado aos interesses dos outros.”
As ideias e as propostas de Obama merecem, só por si, inequivocamente toda a nossa reflexão e estudo, mas merecem-nos também, porque, em breve, teremos igualmente entre nós um apertado ciclo eleitoral.
Por tudo isso, “Yes, we can” e queremos também para nós “A audácia da esperança”.
TEMAS: europa e internacional, reflexão e análise Publicado por: FFLeite
Obs: Divulgue-se (ainda mais) o pensamento de Obama em Portugal. Os valores, a arrumação de ideias, os conceitos e a forma como são operacionalizados com a práxis política em Washington DC, a sua geração, a forma como está na vida pública representam, de per se, factores de mudança estrutural que fazem dele uma esperança viva da América e do mundo do nosso tempo.
Até mesmo em matéria de formulação de política externa - Obama parece ter ideias mais consensuais, pacíficas e criativas do que as "conversas duras" do velhinho da guerra do "Nam" - que é apoiado pela maior nódoa da América post-11 de Setembro: G.W.Bush. Ou melhor, pela maior nódoa que demandou a Sala Oval desde que as 13 colónias se libertaram do jugo colonial britânico...
O tempo de cruzada e do isolacionismo de pendor hegemónico da super-potência restante da Guerra Fria já lá vai: a invasão do Iraque (à margem da ONU) e com a grave ajuda de Durão+Blair+Aznaz - na Cimeira dos Azores - onde aquele foi o mordomo-mor cuja rampa de lançamento o catapultou para a Presidência da Comissão Europeia), as aventuras no Afeganistão, o enfraquecimento galopante da NATO - tudo isso representam factores de declínio do poder da Amérina no mundo actual, e será esse o traço deixado por G.W.Bush - que hoje apoia MacCain - da mesma linhagem política.
Ora, isto não interessa nem à América nem ao mundo. A América precisa hoje de um homem com um perfil de Obama, o seu oponente não é mais do que um sub-produto - numa idade avançada - duma América neoconservadora, fundamentalista e anquilosada feita com o trauma do terrorismo global e suicidário cujas raízes e os actores inspiradores ainda estão bem vivos na memória de todos nós.
Duas notas: amanhã perfaz 7 anos após o 11 de Set./2001; e Bin laden ainda anda por aí, esquecido num dos buracos tenebrosos algures nas montanhas do Afeganistão...
Obama ao pé desta escuridão representa o céu, a Audácia e a Esperança... cujo livro deveria ser documento obrigatório em todos os Cursos de Licenciatura em Ciências Sociais em Portugal.