Queixas - por António Vitorino -
QUEIXAS, in dn
António Vitorino
jurista
Se alguma característica marca os tempos que vivemos essa é a da grande volatilidade. Durante semanas sucederam-se em plano inclinado notícias desagradáveis, desde a subida continuada do petróleo e dos bens alimentares até às quedas dos resultados das empresas e aos anúncios da redução de pessoal em muitas delas.
Aqui e além, recentemente foram aparecendo algumas notícias mais animadoras: o barril de petróleo desceu do "pico" dos 145 dólares para cerca de 120 dólares e o presidente da OPEP prevê uma "estabilização" à volta dos 80 dólares, os preços dos bens alimentares pararam de crescer no começo do Verão, o dólar valorizou- -se relativamente ao euro, à libra esterlina e ao iene japonês, parecendo inverter a tendência decrescente.
Todas estas notícias colocam a questão de saber se o pior da crise já passou.
Na mesma semana a confiança dos consumidores americanos aumentou e a dos europeus... caiu!
De Geneva chega-nos a nota de que as negociações comerciais da ronda de Doha falharam, sendo pouco crível que retomem antes que haja uma nova Administração instalada em Washington. O insucesso na Organização Mundial de Comércio é lamentado pelos defensores da liberalização do comércio mundial e... saudado pelos mais proteccionistas!
Compulsando todos estes indicadores, provavelmente o mais prudente é não fazer vaticínios precipitados.
A esperança leva-nos a pensar que já batemos no fundo e que, a partir de agora, iremos assistir a uma recuperação progressiva das mais pujantes economias mundiais, mas o choque e a profundidade da crise leva-nos sempre a manter a dúvida sobre se haverá ainda surpresas desagradáveis à nossa espera no regresso das férias de Verão.
No meio desta instabilidade e incerteza, as sondagens de opinião coligidas no Eurobarómetro da Comissão Europeia vêm confirmar o que já desconfiávamos: os portugueses são dos mais pessimistas sobre o estado do mundo e do seu próprio país! Por muito que as lutas políticas internas se centrem na realidade económica nacional, a extensão e a dureza da crise internacional não deixam grande margem para ilusões: mesmo quando fazemos aquilo que temos que fazer (das reformas internas à ofensiva económico-diplomática do primeiro-ministro), no limite estamos sempre dependentes da evolução da conjuntura internacional e muito particularmente do que se passar na nossa vizinha Espanha. Claro que a natureza internacional da crise não pode ser um álibi para a inércia nacional. Mas há que estar atentos aos sinais da evolução global e sabermos como agir em qualquer dos cenários possíveis.
No cenário mais favorável, o de estarmos próximos do fim da crise, a tentação mais forte é a de pensar que tudo não passou de um pesadelo temporário e que, com o tempo, as coisas voltarão a ser como dantes. Ora é essa tentação que devemos evitar a todo o custo.
Se algo vai perdurar da tripla crise internacional - da energia, do crédito hipotecário e dos bens alimentares - é a necessidade de acelerar o ajustamento da nossa economia a um mundo caracterizado pela volatilidade, onde as vulnerabilidades das pequenas economias abertas, como a nossa, têm que ser colmatadas com reformas de fundo. Com efeito, mais do que medidas de curto prazo, o que se torna imperioso é ver mais além do fim da crise e perceber porque fomos atingidos e que mudança de paradigma se operou de modo a melhor resistirmos no futuro.
Tal como no passado, se rapidamente esquecermos as mudanças de comportamentos necessárias e as apostas destinadas a reduzir dependências e vulnerabilidades detectadas, os efeitos de cada crise futura serão ainda mais penosos para todos nós.
O desafio é, pois, o de antecipar essas novas coordenadas da economia mundial que emergirá desta crise e de nos prepararmos para as condições em que teremos que competir à escala global.
O fim da fase aguda da crise poderá ser um alívio, mas sobretudo representa uma oportunidade. Se a desperdiçarmos, a próxima crise só poderá ser pior! E então só nos poderemos queixar de nós próprios.
Obs: AV demonstra aqui que a vida é um carrossel, feito de up & donws. Bem ou mal, essa é a regra que se aplica às vidas privadas, familiares e, hoje, por maioria de razão, vigente também nos grandes agregados que fazem o tecido económico e social de uma nação, de um país. Como pequena e aberta economia, sempre muito dependente das oscilações internacionais, o que convém mais a Portugal(?) quanto à sua atitude face ao futuro: ser passadista, pessimista, derrotista ou olhar para o futuro com um toque prospectivo, exploratório, antecipativo, adaptativo e até voluntarista!? No presente momento, sem que demos conta - mas porque a procura do combustível diminuíu e a loucura especulativa abrandou - os preços do petróleo estão a abaixar. Menos do que subiram, é certo, mas entre os cenários possíveis, desejáveis e realizáveis existe sempre um elo de verosimelhança entre eles e a visão global que hoje urge ter, mormente em matéria económica. Quem diria, o ano passado - que empresas portuguesas estarão, dentro de dias, a exportar PCs made in Portugal!? Ninguém... E os invejosos e sectários do costume, como ainda ontem se demonstrou pela atitude sectária e facciosa de Pacheco pereira no programa da Sic Notícias - Quadratura do Círculo - dizem tratar-se de mera propaganda. Os "putos" das escolas agradecem... E daqui por uns anos, reconhecerão quão importante foi ter um PC nas suas vidas uma década antes. Mas como Pacheco está obstinado em ajudar a líder de transição a chegar ao poder, ele cega ante os factos, que mistura com propaganda. Por isso está mais alienado do que os comunistas quando se lhe pedem um comentário sobre a Guerra Fria, as virtudes do centralismo e dos planos quinquenais no decurso do séc. XX. Dominar a incerteza sempre foi um dos grandes desígnios do homem. No limite, essa questão também se coloca..., relativamente à morte!!! Talvez não seja má ideia que no domínio político, económico e até social adoptar a seguinte máxima como forma de diminuir essa tal volatilidade, reduzir essa tal incerteza que hoje a todos nos esmaga: quando mais depressa se roda, mais longe devem alcançar os faróis... E quanto mais uma árvore demora a crescer, menos se deve esperar para a plantar.
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