terça-feira

O PSD continua o mesmo "saco de gatos" de sempre

Rita Marques Guedes, uma das mais destacadas apoiantes de Passos Coelho, não concorda com o antigo líder do PSD: "Uma paz para as oposições internas? Quais? Se o prof. Marcelo propõe isso é bom que identifique as oposições internas. A dra. Manuela Ferreira Leite foi eleita com um discurso de unidade e, para já, o que temos é um partido com um enorme desafio que são as três eleições do próximo ano".
Nas hostes afectas a Pedro Santana Lopes o pacto também não pega. Rui Gomes da Silva, ex-ministro dos Assuntos Parlamentares e braço-direito de Santana, afirma que "os pactos fazem-se em torno de ideias claras e de propostas. Não há pactos à volta de silêncios". Este fim de semana, Marcelo Rebelo de Sousa quebrou a habitual prudência a comentar assuntos do PSD e, no seu artigo no semanário Sol, lançou a ideia, lembrando os seus anos de liderança, entre 1996 e o fim de 1997: "houve um pacto de unidade interna por causa das autárquicas. Agora, a 13 meses de elegislativas e autárquicas e a nove de europeias, Jardim acena com um novo partido, Bota lança a regionalização e a JSD propõe um referendo interno sobre a matéria. Ora, em tema crucial como este, o PSD tem de definir rapidamente se é 'sim' ou se é 'não'. O silêncio de Manuela só é virtuoso para o exterior se todos os dias não for desautorizada internamente. Ela que não demore uma eternidade a tomar uma posição clara sobre aquilo que pode fragmentar o partido".
Um artigo duro para Manuela Ferreira Leite, onde o actual comentador político defende que há outro desafio: transformar o partido. "Arrancar para um partido diverso do populismo maioritário, mas também diverso no partido da fundação ou do cavaquismo. E apelativo para novas gerações e novas causas. Como o novo partido de Cameron".
Confrontado com a proposta do pacto interno, José Luís Arnaut -dirigente próximo de Manuela e antigo secretário-geral com Marcelo -, ressalva: "Antes de eleições há sempre unidade interna, o PSD une-se nesses períodos". Sobre o que o antigo líder do PSD escreveu diz, no entanto, não estar habilitado a comentar pois não leu, visto que acabou de regressar de férias. Já João Bosco Mota Amaral, ainda de férias nos Açores, diz que "nem sabia que tinha havido esse pacto de silêncio no tempo do Marcelo". Sobre um novo pacto agora, com Ferreira Leite, é peremptório. "A líder do PSD deve ter a liberdade necessária para decidir sobre qual a melhor estratégia".
Obs: Cavaco, nas décadas de 80 e 90 "eucaliptizou" o partido, secando tudo e todos à sua volta. Os melhores quadros dirigentes do partido, como Fernando Nogueira - empresarializaram-se e foram ganhar dinheiro para a "privada", abandonando a política de vez; outros, mais oportunistas, piram-se para a Europa. Até Marques Mendes abandonou recentemente a política por causa do populismo de Meneses e de Santana - que tudo fizeram para o erradicar do psd. Conseguiram. Ficaram aqueles que por paixão ou por não terem grande apetência ou vocação para actuarem no sector privado, como Santana, apostaram tudo no seu regresso. Também falharam.
Ademais, as ideologias que outrora separavam as águas e demarcavam a definição de algumas políticas públicas, dissolveram-se. O que tornou mais indistinta a diferença entre o PS e o PSD. A diferença reside essencialmente nas lideranças, na sua capacidade de executarem reformas, de lutarem contra lobis. Sócrates já provou que não é um osso fácil de roer, está motivado, lidera e é reformista.
E é tudo isso hoje contra quem? A srª Ferreira leite e os conselhos do douto Marcelo, cada vez menos ouvido nas suas lengas-lengas semanais. Confesso que Leite não é exemplo para ninguém na política, e Marcelo é um ilustre professor de direito e um famoso comentarista, mas nem por isso deixa de ser um político falhado. Nem os seus conselhos vingam no partido, nem Ferreira leite é alternativa a Sócrates.
Gerou-se, portanto, um impasse mortal na vida do psd. Ainda pensei que para resolver a crise Marcelo propusse, desta vez, um mergulho no rio Tejo. Desta feita, a partir do patamar da Torre de Belém. Sempre seria um mergulho mais histórico...