sábado

Ferreira Leite = Canal Parlamento. Uma catástrofe no psd. Evocação de Bertolt Brecht

Quando Santana Lopes assumiu responsabilidades no País como PM e vimos o que foi o semestre da sua gestão política, disse para os meus botões que Portugal não poderia estar em mãos mais instáveis, sem rumo e incapaz de disciplinar a tralha dos seus ministros, quinquilharia da pior: tão incompetentes quanto indisciplinados, salvo honrosas excepções - como Bagão Félix, mas não com as suas mentirinhas de ministro das Finanças (a avaliar os valores do défice), mas na pasta que conhece melhor: a Segurança Social e o Trabalho, onde até deixou feita e caminhos depois continuados.
Depois o país ficou a conhecer Santana. Sampaio, o hesitante, demitiu-o, embora nunca o devesse ter empossado, mas havia uma maioria parlamentar coesa - e havia que respeitá-la.
Entretanto, o PSD entrou em processo agudo de turbulência e de (histórica) autofagia. Marques Mendes, responsável e com grande capacidade de trabalho - arranjou um sarilho chamado Lisboa. O PSD perdeu a capital para o PS, e devido às constantes intrusões de Mendes na vida da autarquia - então liderada pelo prof. Carmona Rodrigues (um bom e sereno homem) - o PSD entrou em convulsão e escolheu novo líder. Saíu a rifa a Luís Filipe Meneses, que nasceu torto e nunca se conseguiu impôr aos chamados barões do partido. Homens como António Capucho, Pacheco Pereira fizeram a vida negra a Meneses - que antes também já a tinha feito a Mendes, chamando-lhe até um ditador sem estatura.
Meneses tinha a sina traçada: estava a prazo. Ideias alternativas à governação de Sócrates nem uma apresentou. O que Meneses apresentou foram pequenas anedotas, todas extemporâneas, além de promover as Agências de Comunicação - no quadro da sua afirmação pública.
Sem ideia, sem projecto, sem rumo, nada alí funcionava. Nem com um excelente embrulho feito pelas tais agências - que Jaime Gama - no Parlamento, não aceita reconhecer e equiparar ao papel dos jornalistas. Ademais, Meneses tinha uma liderança bicéfala, composta por santana Lopes - que se lhe juntara para cilindrar Mendes do PSD no âmbito do congresso que ratificou a negociata de compra de votinhos que meteu Santana no Parlamento - como presidente do grupo parlamentar onde, de resto, perdeu todos os confrontos contra Sócrates nos vários debates da Nação.
Meneses foi à vida, e Lopes à vida foi. Este continua a andar por aí, quiça na esperança que António Mexia - na EDP - o volte a empregar na Empresa, e Meneses regressou a Gaia - onde era autarca, ainda que muito boa gente pensasse que ele fosse exercer medicina, ou veterinária, segundo outros. Politicamente estão arrumados, pelo menos no plano nacional e nos próximos anos. Lopes ainda se auto-avalia para saber o que gostaria de fazer na vida, e Meneses arranjou uma namorada que o entretém e parece que não é mau autarca.
Mas deste conjunto de acidentes resultou um desastre (ainda) maior: aquilo que podemos designar por efeito de sinistralidade política corporizado em Ferreira leite, o verdadeiro fantasma da vida pública portuguesa. Quando se soletra o nome da senhora - pensa-se logo no Canal Parlamento - que está de férias e avisa que a próxima emissão aponta para o próximo mês. Ora, assim é com Ferreira Leite, que não faz a mais leve ideia do que seja governar um país e coordenar várias pastas e dossiers ao mesmo tempo.
Mas, de facto, foi esta "senhora-fantasma" que saíu na rifa do psd, que merecia melhor. E como a senhora tem, desde logo, vergonha de aparecer em público, fobia às massas, desgosta de sardinha e festanças populares, é incapaz de pensar a política na Saúde, no Ambiente, na Economia, nos Negócios Estrangeiros, no Emprego e por aí fora... - dá de si uma imagem ainda pior do que aquela com que Deus a brindou naturalmente.
Ora, se a imagem que Ferreira leite tinha já era desastrosa - porque de aperto ao empresariado, incapacidade de inovação na esfera económica e esterilidade na captação de Investimento Directo Estrangeiro (além das negociatas com o Citigroup que em Setembro se irá apurar nas comissões especializadas da AR...) - que apesar de tudo o Governo Sócrates ainda tem conseguido alguns sucessos - agora, completamente ausente, a sua imagem de "zero-à-esquerda" da política, consolidou-se. De modo que os portugueses já nada esperam dela, ou melhor: esperam que a srª faça uma coisa. Se vá embora e seja, a tempo inteiro, avó.
Para agravar este efeito de sinistralidade, a srª Leite, mais os seus ilustres conselheiros partidários, sem faltar o songa-monga de Marques Guedes, que a segue para todo o lado (nem os Toilletes escapam) - e de forma muito oportunista - vem pedir a cabeça de um dos membros deste Governo mais activos e competentes, Rui Pereira, que tutela a Administração Interna.
É certo que a criminalidade existe, aumentou este mês de Agosto e assumiu padrões de violência e de sofisticação que não conhecíamos em Portugal. Mas também é verdade que Rui Pereira esteve bem no sequestro ao bes de Campolide, dando cobertura política às suas forças policiais, motivando-as até em contexto operacional. Mas também não pode dar conferências de imprensa sempre que há um assalto ou alguém morre na sequência de actos de criminalidade. Este é um défice da sociedade como um todo, e só se previne a médio e longo prazos. Com mais investimento técnico, humano e tecnológico nas forças de segurança por todo o país.
Neste contexto oportunista - porque precisamente envolve uma área sensível como o combate ao crime - o psd de Ferreira leite vem pedir a cabeça de Rui Pereira. Tamanho erro. Revela imaturidade e irresponsabilidade, além de ignorância. Não vimos nem ouvimos o eloquente Ângelo Correia, um expert na matéria, de resto já foi MAI, subscrever essa barbaridade política. Tomara o psd - dispôr de homens da craveira técnica, política e cultural de Rui Pereira.
Enquanto isso não sucede, e na esperança de que esse gesto faça esquecer os silêncios, omissões, dislates e até fortes críticas internas de que leite tem sido alvo (a última das quais muito irónica e cartesiana, dirigida por Meneses) - a srª Ferreira leite - perante os olhos dos portugueses - não passa duma imagem vã, decadente, omissa, qual espécie de repolho murcho e estéril. Uma concha sem nada lá dentro. Enfim, uma vacuidade que só por erro e loucura momentânea integrou a quermesse de rifas do PSD e, por lapso, foi rifada em Guimarães... Logo aí - no berço da fundação da nacionalidade.
O que nos faz supôr que em todos os erros existe sempre algo de trágico. E hoje, quando me lembro da srª Ferreira leite, a narrativa que se me depara é a da ARtv - dizendo que a próxima emissão é para Setembro..., como se vê na imagem supra.
Confesso, por último, que tinha o psd por um partido racional no seu esquema de decisão e de eleição dos seus mais altos quadros e dirigentes; hoje, todos nos deparamos com o absurdo, o ilógico, a anti-razão.
Se virmos bem, a avózinha deste psd - nem de Economia sabe. Mas tem a mania que sabe, o que agrava ainda mais as coisas...
Contudo, o Congresso de Guimarães não deixou de comportar uma elevada dose de magia (negra), pois doutro modo não se consegue explicar racionalmente como as bases do partido preterem Passos Coelho ou mesmo Santana Lopes, estafado, para elevar aquela nulidade política, que vive no reino da fantasmagoria, ao estatuto de líder do partido.
Diante do disastre, até apetece subscrver uma famosa frase de Alberto João Jardim, também dita em congresso partidário: Isto está tudo grosso!!!
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UMA NOTA PARA FERREIRA LEITE.
ELA PERSONIFICA AQUILO QUE O ESCRITOR E DRAMATURGO - BERTOLT BRECTH - DESIGNOU DE ANALFABETO POLÍTICO. ENQUANTO O PSD NÃO RECONHECER ISTO NA PESSOA DA SRª FERREIRA LEITE - O PSD NÃO SAIRÁ DO FUNDO DO POÇO E, POR EXTENSÃO, PORTUGAL JAMAIS TERÁ UMA OPOSIÇÃO CREDÍVEL EM PORTUGAL.
Numa sociedade em que todos, ou quase todos, já sabiam que Ferreira leite era a pessoa mais inadequada para a liderança do PSD, na forma e na substância, ainda assim a elegeram, isso só revela que o partido da Lapa bateu no fundo, e daí não consegue sair. É como se estivesse alienado, hipnotisado dum sono deprimente, auto-destrutivo, sem escapatória possível. É como um camião-cisterna que transporta combustível cujo condutor se encaminha a grande velocidade contra uma enorme parede - e se põe a ler o jornal e acaba por adormecer. Ferreira Leite é, na realidade, o condutor desse camião-cisterna, e os co-responsáveis dessas desgraça antecipada são todos aqueles que lhe meteram o camião nas mãos no Congresso de Guimarães. Afinal, por ironia do destino, a srª Ferreira leite nem conduzir sabe...
  • "Não há pior analfabeto que o analfabeto político. Ele não ouve, não fala, nem participa dos acontecimentos políticos. O analfabeto político é tão burro que se orgulha de o ser e, de peito feito, diz que detesta a política. Não sabe, o imbecil, que da sua ignorância política é que nasce a prostituta, o menor abandonado, e o pior de todos os bandidos que é o político vigarista, desonesto, o corrupto e lacaio dos exploradores do povo."
Bertolt Brecht (1898-1956)