Kate McCann força pressões políticas
"Aumentar a pressão política." A frase, de Kate McCann, inscrita nos apontamentos encontrados na sua casa e que a Polícia Judiciária (PJ) mandou apreender, é clara quanto à forma como os pais de Maddie pretendiam gerir o de-saparecimento da filha, trazendo-o para as primeiras páginas da Imprensa e transformando-o num caso com contornos políticos.
Na manhã do dia 23 de Maio de 2007 (vinte dias após o desaparecimento de Maddie), antes de partirem para o Santuário de Fátima, Kate e Gerry deixaram uma mensagem a GordonBrown. A mãe de Maddie descreve-a como uma forma de "aumentar a pressão política" e revela que o actual primeiro-ministro – à data ainda não exercia funções mas já estava confirmado como sucessor de Tony Blair – lhe respondeu apenas três horas depois. Falou com Gerry, foi "muito simpático e deu força", conta Kate, que apelida depois a visita ao santuário católico como avassaladora, potente e emotiva.
No mesmo dia mas à tarde, Gordon Brown voltou a ligar aos pais de Maddie.Os cadernos de Kate não relatam a conversa mas percebe-se que o objectivo era criar pressão política, obrigando a PJ a actuar com celeridade.
Hoje, a mais de um ano de distância do desaparecimento da criança e já depois de o caso ter sido arquivado, os apontamentos de Kate evidenciam as pressões relatadas pelo ex-coordenador do caso, Gonçalo Amaral, que a partir do momento em que foi afastado da investigação percebeu que o processo não ia ter uma acusação.
Com uma investigação inicialmente inclinada para a tese do rapto, em parte forçada pelos McCann, a prova das pressões do casal explica ainda a postura da imprensa inglesa na cobertura do caso, principalmente a partir do momento em que os pais de Madeleine passaram de vítimas a suspeitos e arguidos. Com o próprio primeiro-ministro britânico a apoiar os McCann, através de telefonemas directos e frequentes que Kate revela, tornou-se quase impossível para o governo inglês ajudar uma investigação que indicara os pais como culpados.
Além dos contactos com Gordon Brow, os cadernos de Kate revelam outros aliados importantes. Desde a contratação de Clarence Mitchell como assessor, que à data trabalhava para o Governo, até às conversas com a mulher de Tony Blair, ex-primeiro ministro britânico.
Mitchell, aliás, teve um papel fundamental na máquina de propaganda que em poucos dias foi montada pelos McCann, que contou com a grande ajuda da diplomacia britânica em todas as viagens realizadas por Kate e Gerry.
A primeira e a mais mediática – a Roma, para serem recebidos pelo Papa Bento XVI – foi sugerida pelo assessor, no dia 27 de Maio, depois de já ter falado com Francis Campbell, o embaixador britânico junto do Vaticano. "Roma já estaria a preparar-se", escreveu Kate, antecipando essa visita como aquela que seria a história "principal" dos noticiários desse dia. Um dia depois, estava já confirmada a visita e a audiência com o Papa, cujo programa foi preparado ao pormenor.
No dia 30 de Maio, saídos do consulado britânico em Roma, Kate e Gerry, acompanhados pelo embaixador, fizeram uma paragem estratégica, "para que os fotógrafosconseguissem apanhar uma imagem a olhar para a Basílica", e seguiram para o Vaticano, onde passaram alguns minutos com Bento XVI. Um momento descrito como muito emotivo, positivo e importante e que chamou "montes" de jornalistas e de fotógrafos, decididamente,umapreocupação sempre presente no casal.
Depois de Roma, seguiu-se Madrid, Berlim, Marrocos, viagens com o objectivo de dar a conhecer a cara de Madeleine e que contaram sempre com passagens por consulados ou recepções por embaixadores britânicos e representantes políticos dos respectivos países.
Segundo os apontamentos de Kate, os dias começavam ou terminavam com reuniões, telefonemas e e--mails. Cherie Blair, mulher de Tony Blair, antecessor de Gordon Brown, era um dos contactos de Kate, como o demonstram os relatos de 17 de Julho. Antes de Kate dar uma entrevista à Sky News fala com Cherie, que concorda em fazer um videoclip de 20 segundos para o canal inglês sobre Maddie. Nesse mesmo dia, o próprio Blair promete ajuda e disponibiliza-se para o que for preciso.
Obs: Qualquer pessoa de inteligência mediana percebe duas coisas neste bizarro caso: esta é uma mulher bizarra - que manipulou (até) a vontade do marido e serviu-se das conexões políticas para condicionar a direcção das investigações da PJ e sair inocente do eventual crime por negligência que tenha ocorrido naquele quarto - onde os seus três filhos dormiam; a 2ª, com alguma ironia, é perguntar a Gordon Brown se também quer nomear o novo Director Nacional da PJ... Ao Papa bento nº 16, que também se deixou envolver nesta jogada mediática planetária, dá vontade de fazer a mesma pergunta que milhões de cubanos já interiorizaram há meio século relativamente ao lagarto de Havana que os tem aprisionado, responsável pela miséria daquele país e daquelas pessoas. Numa palavra: apoie-se o tributo e todo o esforço que o ex-inspector da PJ - Gonçalo Amaral - fez e tem feito para tentar lançar alguma luz sobre este caso lamentável que se abateu sobre Portugal e as suas instituições. Já basta a desgraça por que a menina passou...
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