sexta-feira

Capitalismo de Estado no PSD. Analogias dangereuses...

Na reflexão infra integrámos o papel que Ferreira leite terá no psd neste contexto (re)fundacional que vai de Guimarães até à Lapa (ante as palmas do Antonho Preto à sua madrinha), nas eleições legislativas de 2009. Aqui procuraremos varrer um aspecto dessa realidade cuja ponta ficou de fora. Também sublinhámos que o inimigo é mais interno (Santana Lopes) do que externo (Sócrates). É a neoguerra da política...
Façamos agora um arriscado exercício de analogia política com o comportamento dos actores no sistema internacional. A política, como diria o outro, é uma espécie de continuação da guerra por outros meios, logo a guerra nunca é frontal, é atravessada por milhentos factores, invejas, caprichos, vinganças, soberbas, gulas, ganâncias e outros pecados capitais que perseguem o homem desde à milhares de anos, e que nem Jesus Cristo, através do seu legado, conseguiu eliminar da actual conduta humana.
Dito isto, pareceu-me que o XXXI Congresso do PSD em Guimarães é mais uma afirmação da neoguerra, já que o combate não pode ser frontal entre os oponentes internos, que ficaram tão insatisfeitos quanto irredentos nas suas mais profundas pulsões, mormente Santana Lopes. Que só lá apareceu no cirúrgico momento em que a senhora terminara a leitura do seu rascunho. Santana poderia ter ficado em casa, e do seu sofá dizer umas asneiras, mas não: o canastrão da política lusa optou por ir passear a sua gripe pela terra de D. Afonso Henriques.
Esta conduta, de ele só entrar em cena quando a senhora terminou de ler o rascunho que lhe fizeram para ler, reflecte esse ambiente de neoguerra próprio da natureza selvagem do capitalismo multinacional que invadiu o mercado político-partidário. Ou seja, se olharmos para o sistema internacional, não foi nenhum acidente o facto de o Iraque ter sido armado pelas indústrias ocidentais, como também não foi nenhum acidente que, volvidos dez anos, essas mesmas indústrias armassem os talibãs no Afeganistão - que depois se viraram contra o próprio Ocidente que os armou. Eis a lógica do capitalismo maduro, que escapa ao controlo de Estados individualizados e de qualquer tipo de valor ou de princípio.
Façamos agora a ponte analógica com o ambiente de merceeria política que se vive no PSD desde o termo do cavaquismo: Durão ganhou o Congresso do PSD a Fernando Nogueira em 1995, indevidamente; depois, quando Guterres deixou, Barroso não governou, governou-se, capitalizou-se. Emigrou para Bruxelas com estatuto de refugiado político de luxo. Embora haja quem o designe de objecto de luxo, sempre preferível a "cherne", cognome colocado pela esposa. Hoje diz que vai tentar resolver o problema do Não da Irlanda ao Tratado de Lisboa. Ao menos que faça alguma coisa, burile um pacote financeiro para ajudar o bom aluno da Irlanda.
E mais grave ainda: entregou o País a um ser desatinado e errático profundamente impreparado para a gestão duma Quinta quanto mais a gestão política de um País. E assim Durão entregou as chaves do poder monárquicamente a santana lopes - que escavacou o que havia a escavacar: imagem do país, falta de autoridade do Estado com os seus ministros à tareia em público, maus indicadores económicos, enfim, uma turbulência constante que manchou o semestre e entrará nos anais da historiografia do séc. XXI como uma nota de-roda-pé que figurará entre a nódoa e a mancha. Imagine-se o que seria Santana em S. Bento nesta fase de alta do petróleo!? Provavelmente, privatizaria Portugal em parcelas aos espanhóis...
Em ambos os casos neste capitalismo de Estado - que ora coloniza a vida interna dos partidos ora coloniza as relações internacionais (como vimos nos exemplos do Iraque e dos talibãs alimentados pelas indústrias do Ocidente - contra quem se viraram, numa fase ulterior) completamente à revelia do sentir e do pulsar dos seus militantes e da sociedade que simpatiza com a sua causa, reflecte bem a selvajaria que ora espelha esse capitalismo de Estado que invadiu o mercado da política que nem sempre convoca para os lugares de liderança os mais capazes e os que, verdadeiramente, estão preparados para desempenhar os altos cargos da governação.
A política, como a neoguerra, nunca é frontal. Hoje, já não há lealdade nos combates, e é pena...
Qualquer dia ainda veremos o Santana dar uma tareia na srª Ferreira Leite mesmo diante do Zeca - sem que este nada faça para o impedir. Sinal que, de facto, os tempos estão perigosos. O mundo está perigoso.
Há mais vida para além do carjacking...