quinta-feira

António Vitorino "Sic(a)-liza-se" e faz girar o mundo na ponta do dedo. As análises são boas, o mundo é que não presta. Reforme-se o mundo...

António Vitorino hoje "colonizou" a Sic de balsemão para nos falar do estranho mundo em que vivemos. Lá deu uma pincelada realista neste caos em que vivemos, agora com mais incertezas, contingências, complexidades e nem o trigo para fazer o pão escapa à carestia de vida. Mas se cá dentro a governação e a sociedade estão sendo afectadas por factores exógenos (alta do preço do petróleo que faz disparar tudo), o que dificulta sobremaneira a implementação da onda reformista que estava em curso, na União Europeia - não se encontra um fio condutor, um rumo que revele aos povos da Europa para que lado e a que horas essa mesma Europa deve olhar. É óbvio que esta inércia, esta cegueira política sem horizonte e zenite tem nome: falta de visão e de liderança ao nível da UE. Não basta andar pelo Darfur a acartar sacas de farinha sob os holofotes da CNN; não basta aterrar no município da Capital e receber as chaves da cidade. Nos momentos difíceis há que ser inventivo, porspectivo e, nesse aspecto, as elites europeias têm-se revelado um fiasco. Ao nível da Comissão Europeia, por exemplo, dado tratar-se do "Executivo" da UE - essa cegueira política é manifesta na própria armadilha em que caíu a Europa no pote de mel. Ou seja, à partida era suposto que a Europa "caçasse o urso", desse a volta ao "touro" (que na lógica e cultura orientais personifica os problemas e os obstáculos a ultrapassar) - metesse a economia a crescer, o desemprego a baixar, a modernização da economia europeia aguentasse o embate da China e da India mas, na realidade, é impossível caçar um urso que sabe que está a ser caçado, enfurecendo-o ainda mais. E aí temos o urso do petróleo, da electricidade, dos alimentos. Eis o que sucede à economia europeia, agravada agora com a especulação das energias e dos alimentos. Em vez de pró-acção por parte da Comissão Europeia - aquilo que os europeus vêem é que o suposto caçador vai colocando armadilhas com iscos de mel e continua a não apanhar nada. I.é, as elites que ocupam os poderes bruxelenses não se cansam nem arriscam a vida, mas continuam a ficar à espera que sejam os povos a dar os dois passos atrás para depois seguir em frente. Assim não vamos lá. Mexer nos impostos para ajustar/subsidiar os combustíveis seria como apagar o fogo com octanas de avião ou pedir ao Louçã que matasse o urso; a oposição de Ferreira Leite é tão comesinha que a senhora ainda nem sequer conseguiu constituir equipa, e os que lhe dão apoio fazem-no in private e querem reserva (são os novos envergonhados da Lapa nesta era Ferreira leite); a Irlanda com o seu Não ao referendo - que concitou o voto negativo dos jovens e das mulheres - é mais uma pedrada no charco europeu, o mesmo que deambula entre Bruxelas e Darfur cego, sem plano A, B, C, D, E - até ao fim do alfabeto. Resta-nos o quê? Ouvir as fusões partidárias de José Miguel Júdice ou de marcelo rebelo de Sousa - numa manifestação antecipada de mais um acidente na Lapa!? Basta-nos as excentricidades anarquistas de Louçã que tudo promete no melhor dos mundos possíveis? É óbvio que esta fase que atinge o Governo do PS e os tugas em geral - e as reformas que tinha em curso - é diversa daquela que tolheu o fim do cavaquismo em 1995 - composta pelo caso da Ponte 25 de Abril e do caso dos hemodialisados mal gerido por Leonor Beleza. Se aí o governo Cavaco estava perante factores e ondas de choque que poderia controlar internamente, esta fase crítica que rola e comprime o mundo com o petróleo louco - impõe aos governos dos Estados verdadeiros diktats. Tratam-se, portanto, de factores exógenos que escapam completamente à capacidade de regulação das soberanias estatais. Também aqui esses dois mundos (cavaquismo e o actual governo de Sócrates) - espaçados por uma década - revelam variáveis e condicionantes de poder verdadeiramente diferenciadas. Nas causas e nas consequências. Resta-nos acreditar que pela mudança de hábito e de estilos de vida as comunidades de I. C & T consigam inovar e gerar formas alternativas de energia, os motores queimem nova fonte de energia e os transportes públicos sofram uma melhoria qualitativa na oferta nacional à rede de cidades no país. E como é que tudo isto se faz? Certamente que não é com governos de maiorias relativas, nem com coligações ou alianças à Marcelo Rebeleo de sousa que terminam ainda antes de começar. Daí a importância da existência de um poder forte em Portugal que não só combata a crise (exógena) através de uma nova geração de política públicas e, ao mesmo tempo, se prossiga na via reformista. Uma boa nova veio hoje da OCDE - que reconhece a valia de um novo SIMPLEX - agora para as autarquias. Ainda antes do Verão...
Depois disto só nos falta ver AV fazendo análise na CNN dizendo aos rapazes da Europa como é que se deve começar a governar o Velho Continente, porque os maoismos europeizados e banhados pelas regras do Consenso de Washington gerador da globalização predatória, como a definiu o internacionalista Richard Falk, só tem gerado o tal "urso" (enfurecido) que muitos hoje querem combater e não sabem como.