quinta-feira

Alegre e Santana: "eles andam por aí"... Uma nova forma de poesia e de romantismo político. Dissidências emergentes

Entre Manuel Alegre e o deputado Santana Lopes há um universo de diferenças. Contudo, algo os une actualmente.
Vejamos primeiro as diferenças e depois as convergências ou similitudes: Alegre é socialista, Santana um social-democrata (do PPD/PSD, claro!!!); um é estatizante, o outro um liberal; Alegre crê que o Estado é e deve continuar a ser o paizinho dos pobres, Santana atribui uma função mais reguladora e, por consequência, menos interventiva ao Estado. Alegre acha-se um foundingfather do regime democrático (de par com Mário Soares, seu compagnon de route) e um herói mítico da revolução dos cravos; Santana é, apenas, um apóstolo da democracia, porque a sua juventude não lhe permitiria muito mais, além do aperto de mão a Sá Carneiro e do projecto de revisão da Constituição da República Portuguesa que este lhe solicitou (juntamente com Durão Barroso).
Mas se estas são algumas das diferenças que separam Alegre e Santana, também existem similitudes entre ambos. Similitudes que assentam no seguinte: Alegre inaugurou um novo estilo de dissidência política, que consiste em ser contra o programa do PS continuando dentro do partido; Santana, na mesma linha de "jovem-guerreiro" - sempre procurou minar as lideranças do PSD - fazendo oposição interna no seio da mesma família política, i.é, picar a família dentro da tenda. Foi assim com Durão Barroso e com MMendes, a excepção foi com Meneses - mas porque este lhe "deu" o lugar de presidente do Grupo Parlamentar do psd (na negociação feita préviamente para afastar MMendes da liderança do psd). Mas um e outro, Alegre e Santana, prefiguram-se hoje como jovens guerreiros que procuram minar os respectivos partidos (de que são originários) através de dentro.
As similitudes são tantas que quer Alegre quer Santana até já desejaram ou desejam criar novos partidos, mas nenhum ainda teve a coragem política de assumir plenamente as suas intenções. Um índice que revela, no limite, algum sinal de cobardia política.
Alegre, mercê dos votinhos granjeados nas últimas eleições presidenciais, que fizeram uma desfeita a Mário Soares, está hoje em rota de colisão com o PS e o Governo que o sustenta no Parlamento, e até já ameaçou criar um novo partido, nos velhos ou nos novos moldes de cidadania pró-activa que os seus novos amiguinhos do BE lhe sugerem; e Santana, de igual modo, no passado recente, quando estava a na oposição interna a Marques Mendes - também sugeriu a criação de um novo partido (liberal) que funcionasse como alternativa ao PSD (mais próximo, portanto, do cds/pp).
Portanto, Alegre e Santana estão hoje irmanados no mesmo ideário "político" (pessoal) contra os respectivos partidos, inaugurando um novo estilo de dissidência política - que consiste em ser do contra continuando no seio da família política a que pertencem. São e não são; estão e não estão. Como se a mentira fosse verdade, e a verdade uma grande mentira: a deles.
Ambos, no fundo, andam por aí...