domingo

António Guterres é hoje o grande inspirador do PSD

Ninguém diria que António Guterres, há uma década, então PM do Governo socialista e hoje Alto Comissário para os Refugiados da ONU, seria o principal inspirador do debate interno que se vive no PSD - onde estão, essencialmente, três candidatos na luta pelo poder: Manuela Ferreira Leite, Pedro Santana Lopes e Pedro Passos Coelho.
Leite e Santana - traduzem um passado com matrizes diferentes (uma cavaquista, outro sá-carneirista) sem rasgo, sem inovação, sem que nenhum tenha dado um contributo efectivo ao desenvolvimento do País. Leite nunca deixou de ser um contabilista duma PME do Vale-do-Ave emprestada ao Governo de Durão para manter o garrote tributário no pescoço dos portugueses e ser aplaudida pelo eurocratas bruxelenses de que hoje, curiosamente, Durão é um timoneiro sem rumo; Santana foi o pior do experimentalismo político no Executivo que a Democracia portuguesa testou. Onde se testemunhou de tudo, até ex-ministros à "estalada" em público ante a impotência do PM meter ordem na casa...
Leite é um sub-produto político do cavaquismo, apenas se lhe reconhece alguma valia em finanças públicas, com aquele discurso da seriedade do Terreiro do Paço que alguns confundem com competência, mas a arte da governação exige um saber cruzado, um domínio intersectorial que Leite, manifestamente, nunca teve nem terá jamais. De resto, expressa-se com bastante dificuldade, sintoma de que tudo aquilo que vá para lá da sua fronteirazinha de finanças púbicas - escapa-lhe completamente.
Como se a falta de vocabulário traduzisse ausência de mundo político ante a complexidade da governação. Pois até na sua tomada de posse a senhora denunciou a sua falta de entusiasmo, dinamismo e inovação num registo de modéstia política típica de quem aceita sacrificar-se em nome do partido, apenas para arrumar a casa, nunca para governar em prol dos portugueses. Coisa que nem Marcelo, Rui Rio ou Pacheco Pereira aceitaram. Alguém imagina Ferreira leite a falar em reformas na Cultura, no Ambiente, nos Negócios Estrangeiros!!??? Seria de fugir pela Calçada das Necessidades abaixo em direcção ao rio e mergulhar no Tejo onde Marcelo tentou - um dia - conquistar a Câmara Municipal de Lisboa a Sampaio, sem sucesso.
Sobra Pedro Passos Coelho e a sua conexão com a inspiração no legado político de António Guterres que governou bem no 1º governo e razoalmente no segundo, até desertar quando perdeu as eleições autárquicas de 2002. Não estava agarrado ao poder e estava, por outro lado, farto das tricas da governação.
Passos Coelho é, de facto, a novidade nestas directas, e ao contrário do que se diz, Pedro Passos Coelho tem experiência política (não governamental), tal como Guterres tinha esse tipo de activo. O que nos coloca uma questão relevante em termos de filosofia política: o que é mais importante para a obtenção de resultados públicos: ter experiência política-partidária (PPC), ou ter experiência governamental (Ferreira Leite)?
Até porque comparar a rica experiência partidária de PPC com a magra experiência governamental de Ferreira Leite - é capaz de ser um exercício com saldo positivo para Passos Coelho - que, de resto, consegue ter um discurso mais articulado sobre os problemas do País do que a dama-de-ferro, que apenas fala de deve & haver nos balancetes da sua anterior governaçãosinha, sem que daí tenha resultado alguma mudança para a sociedade.
Numa palavra: a trajectória política de Guterres é, agora, em contexto de luta interna no PSD, o principal argumento utilizado por Passos Coelho - e pela generalidade dos analistas - em apontar mais vantagens do que desvantagens para a candidatura de PPC. Pode ser uma alavanca para a liderança do PSD, em termos de juventude e de potencial de mudança, assim como o foi para António Guterres modernizar o País em 1995, quando Cavaco definhou - após uma década de crescimento económico e social continuado em Portugal.