sexta-feira

A polémica em torno da transição de Carlos Santos Ferreira da CGD para o BCP

Nestas matérias de banca e finanças não pesco nada. Detesto matérias financeiras, questões orçamentais, taxas de juro, aplicações financeiras e afins. De bancos só percebo os extractos que me mandam e o saldo que me resta depois de pagar religiosamente o empréstimo da casa. E, olhando para os níveis de endividamento do português médio, já acho que sou muito entendida no assunto.

Mas, adiante...

Este prelúdio serve apenas para mostrar a minha santa ignorância nos meandros das finanças públicas ou privadas.

Mas se isso é verdade, não posso deixar de me espantar com esta loucura à volta da mudança de vida do Dr. Carlos Santos Ferreira.

Conheço-o pessoalmente, por ter partilhado com ele um ano curricular de um mestrado e, por acaso do destino, ter com ele trabalhado em diversos trabalhos para esse mesmo mestrado. É um homem inteligentíssimo, dotado de uma capacidade de trabalho ímpar, sempre bem disposto, sempre pronto a ajudar. Dono de um sentido de humor finíssimo, culto e conhecedor da vida, mas muito, mesmo muito, low-profile.

Por isso, quando foi nomeado para a CGD, pensei que, finalmente, o meu dinheirinho ia ficar em boas mãos. E não me enganei. A sua administração conseguiu superar todos os objectivos a que se tinha proposto, pelo que a CGD se viu obrigada a reapreciar esses mesmo objectivos, deixando uma imagem de isenção, credibilidade e trabalho feito, coisas de que poucos poderão gabar-se.

Por isso, quando ouvi pela primeira vez os murmúrios de que CSF seria um bom nome para presidir aos destinos do BCP, não estranhei.

Antes pelo contrário.

Uma instituição financeira que vem de um sem-número de golpes e contra-golpes, de histórias mal contadas, créditos perdidos e OPA's falhadas, só poderia querer à frente dos seus destinos alguém que tenha capacidade para "limpar a casa" e pôr, ou voltar a pôr, tudo no caminho certo. E, sem dúvida que CSF tem provas dadas nessa matéria.

Por isso, porquê tanto caos à volta do seu nome?

Porque é do PS? E depois?

Não é um gestor com provas dadas? Não fez sempre o seu trabalho - tanto no sector privado, como no sector público - irrepreensivelmente?

Não, não é um boy.

Por muito que lhe queiram aplicar esse rótulo, CSF é um bom gestor.
E a inveja é uma merda...

Publicada por Ângela em
27.12.07
Obs: É um texto tão inteligente quanto estimulante, mas coloca algumas reservas. A 1ª é que é sempre problemático um gestor de topo de um banco eminentemente público transitar, de súbito, para a presidência do seu maior concorrente privado, suscitando problemas que decorrem inevitavelmente de inside information que passarão, inevitavelmente, a ser racionalizadas de forma cruzada pelo gestor que ocupará a gestão da nova instituição financeira. Ou seja, pode haver aqui questões de concorrência desleal que penalize certos accionistas e clientes em favor de outros, e de descontinuidade de mercado que poderão colocar-se.
Depois ressalta uma 2ª reserva a este texto: vivemos numa economia de mercado, é suposto que seja esse mesmo mercado, como aprendemos com a mão invisível de Adam Smith, que funcione em benefício de todos, sem interferências dos poderes públicos. Ora, o que parece prefigurar-se nesta solução é alguma influência de bastidores por parte da tutela que, assim, se substitui ao mercado e procura "rematar o negócio" gerado por um problema privado. Levando, por extensão, o psd de Meneses, que é ao mesmo tempo uma falha política e de mercado e o maior equívoco da Lapa desde o post-25 de Abril, a vir a terreiro reclamar a nomeação de um boy do psd a fim de equilibrar as coisas, já que Vitor Constâncio é do PS e ocupa o Banco de Portugal.
Assim, a hegemonia da influência do circuito da decisão económica-financeira em Portugal é total, esmagadora pelo PS, o que poderá colocar problemas de representatividade do conjunto da sociedade. Em tese esta questão coloca-se, inevitavelmente.

Estas duas reservas articuladas entre si, apesar da elevada craveira profissional de CSF como gestor de topo, questionam não apenas a legitimidade política da operação como também a sua legitimidade económica.
Numa palavra: aqui o mercado não existiu, não funcionou de per se, e foi, mais uma vez, o poder político que o criou - demonstrando que são sempre as variáveis políticas, e não as variáveis económicas, como defende a escola (neo)marxista, que determinam as regras do jogo nesta "fábrica" das normas que faz e refaz o capitalismo global na era da globalização competitiva.

Em termos políticos, Sócrates meteu mais um "golo", aos muitos que já acumulou no decurso destes últimos 6 meses de presidência da UE, e bem. Oxalá isso se traduza agora em mais e melhores financiamentos públicos para aumentar a competitividade do nosso tecido económico que é, como sabemos, frágil e muito dependente das exportações e dos apoios públicos, ou seja, dos impostos de todos nós.

Contudo, confesso que gostei da forma como a autora concluíu o seu texto, i.é, exactamente da forma como Luís Vaz de Camões terminou Os Lusíadas, com aquela palavra que ainda, lamentavelmente, nos continua a definir enquanto povo, enquanto personalidade colectiva.

A inveja é, de facto, uma merda...

PS: Pedimos desculpa por ter utilizado a palavra "merda" mas a sucessão de asneiras, erros e ilícitos cometidos pelo sr. engº Jorge Jardim Gonçalves - espelha bem esse esprit..., de merda. E deverá ser responsabilizado por isso. Com toda a "merda" que isso implica... Desta feita, até dá vontade de perguntar onde estava a "merda" da CMVM, do BP e demais autoridades económicas-financeiras de supervisão que tinham por estrita função e competência ter actuado quando deviam, i.é, quando os problemas eclodiram no BCP, e não assobiar ao coxixo e ter arquivado boa parte "da merda" que o sr. engº Jardim Gonçalves andou a fazer nos últimos anos: enriquecimento próprio, naturalmente. Com tanta m...., não admira que cheire tão mal no bcp. Cêntimos meus é que lá não o apanham, certamente!!!