António Vitorino vai à RTP e põe o País real a mexer
Ontem, na sua habitual análise da semana no programa Notas Soltas - António Vitorino - referiu-se ao caso-problema da construção do novo aeroporto internacional de Lisboa e marcou a agenda que o País hoje discute. Disse o que anda a dizer há um ano, que eu me lembre, pelo menos. Primeiro deveriam fixar-se os critérios estratégicos que servem de base à tomada de decisão: viabilidade económica, impacto ambiental, custos/benefícios, etc. Tudo numa lógica comparada entre dois ou mais estudos. Lógica essa que Mário Lino relativizou dada a complexidade da Obra...
E que o PS formal não quer avançar para não induzir politicamente a dicussão, como defende Vitalino Canas - e, assim, dar trunfos ao PSD e à oposição que se engalfinha nesta questão sempre adiada pelo PSD - que meteu o projecto na gaveta ao tempo de Durão Barroso, o trânsfuga que emigrou para Bruxelas e deixou Portugal a arder nas mãos do "menino guerreiro" - que hoje não sabe o que fazer no hemiciclo, ou anda em busca de papel e de missão para a sua vidinha.
Entretanto, o PS rejeita a audição em comissão parlamentar de Obras Públicas, Transportes e Comunicação - dos autores do estudo encomendado pelos patrões/CIP por entender que neste momento, até fase de conclusão do estudo do LNEC, não é útil fazê-lo, e compreende-se. Em bom português, "o baile está armado!!!" e com cimento armado...
Por outro lado, o ministro Mário Lino também tem alguma razão, além da extrema prudência que terá de ter daqui para a frente. Não apenas para evitar criar outro episódio de humor caricato em Portugal com a "estória" do "deserto e dos camelos da margem sul" (que gerou em Portugal um surto de criatividade fantástico e neo-realista como nunca se viu, sobretudo na blogosfera), mas porque a construção duma infra-estrutura desta natureza, eminentemente de natureza política, não se pode subsumir a uma check-list em que de um lado se apresentam 10 vantagens para a construção do aeroporto na Ota e no outro lado lado folha se sistematizam um decálogo de desvantagens do lado de Alcochete. Isto, obviamente, é redutor.
Portanto, a elaboração prévia dos critérios que reclama António Vitorino - embora condição necessária pode não ser condição suficiente para esgotar o problema que preside ao processo de tomada de decisão duma obra desta envergadura e que marcará o futuro das novas gerações e das opções do Plano do País nas próxima décadas.
Seja como for, talvez em Portugal, na última década, nenhuma outra obra exiga do poder em funções duas coisas que aqui têm de aparecer intimamente ligadas de forma credível e sustentável aos olhos da Nação e do real interesse nacional do País:
1. Uma visão desenvolvimentista para Portugal no quadro do seu sistema de transportes e comunicações, planeamento e ordenamento do território, exportações, redução de assimetrias regionais e tudo que tenha conexão (directa ou indirecta) com a construção deste crucial equipamento na óptica do desenvolvimento sustentável, logo que não comprometa as gerações futuras;
2. E que as razões e determinações de ordem técnica que apontem numa ou noutra solução sejam de tal modo claras e inequívocas que entre uma opção e outra não restem dúvidas aos decisores e ao País que uma delas é melhor porque nos integra no quadro de desenvolvimento e de modernização que Portugal carece para se inserir plenamente no âmbito do sistema de transportes e comunicações da Europa que está em curso.
Só uma nota mais: há tempos o sr. dr. Vasco Pulido valete, que se julga uma "vaca sagarada" da nossa prosa e da análise política em Portugal (a mim já me enjoa, confesso, adivinho sempre como começam os seus textos e como terminam), e que apelida os seus alunos de besta e de cavalgadura para cima (se fosse comigo engolia essas palavras na hora a toque de caixa!!!) defendia o seu amiguinho Marcelo rebeleo de Sousa e depois comparava-o a António Vitorino - para concluir que "este não valia uma unha do pé de Marcelo".
Na altura fiquei a pensar nessa unhada de Pulido Valente e hoje percebo o sentido dessa afirmação, mas num sentido inverso que passo aqui a explicitar ao génio Valente (que vive frustrado por vender dezenas e o seu concorrente Miguel Sousa Tavares vender às centenas de milhar de exemplares):
a) De facto, quando Marcelo vai à TV debitar as suas rezas é para fazer implodir o psd e triturar os seus líderes naquele seu registo misto de intriga palaciana e comentário do Guincho;
b) Quando AV vai fazer análise na caixa negra é para por o País a discutir no day-after. Aquele destroi e tritura, este contribui para uma discussão desenvolvimentista acerca do futuro de Portugal.
Valente continua a dar unhadas, desta vez no Miguel Sousa Tavares que o bate aos pontos, e há dias numa entrevista na tsf, até disse ter pena de Valente. Confesso que tudo isto me intriga, vindo de quem vem. Será que é da idade!? Se for, só peço a Deus quando for velho para não ficar assim...
<< Home