sexta-feira

Al Gore e o Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas da ONU distinguidos com o Prémio Nobel da Paz

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al Magnus

Al Gore galardoado com Prémio Nobel da Paz 2007

A escolha do comité recaiu sobre estes dois vendedores devido ao seu «esforço conjunto na criação e disseminação de um maior conhecimento acerca da influência humana nas mudanças climáticas, e pelo lançamento das bases necessárias para inverter essas mudanças», explica o comité Nobel no seu site.
Al Gore é conhecido pelo seu trabalho na luta contra as alterações climáticas iniciado há mais de 20 anos. No ano passado o seu filme Uma Verdade Inconveniente ganhou um Óscar.
O prémio, constituído por um diploma, uma medalha de ouro e um cheque no valor de 1,08 milhões euros será entregue dia 10 de Dezembro, data do aniversário da morte de Alfred Nobel.
Últimos 10 vencedores do Prémio Nobel da Paz
2006: Muhammad Yunus Economista e criador do Grameen Bank
2005: Mohamed ElBaradei - Director-geral da Agência Internacional de Energia Atómica (AIEA)
2004: Wangari Muta Maathai - Biólogia e activista ambiental
2003: Shirin Ebadi - Juíza e activista pelos Direitos Humanos
2002: Jimmy Carter - Ex-Presidente dos Estados Unidos e activista pelos Direitos Humanos
2001: Kofi Annan - Economista e ex-secretário de Estado da ONU
2000: Kim Dae-jung - Ex-Presidente Sul Coreano
1999: Médicos Sem Fronteiras
1998: John Hume e David Trimble - Políticos irlandeses
1997: Jody Williams - Coordenadora da Campanha Internacional para a Eliminação das Minas Terrestres (ICBL)
SOL
Obs: Confesso que esta atribuição do Nobel da Paz ao ex Vice-Presidente dos EUA, do tempo de Bill Clinton (um dos melhores presidentes da América do Norte) não me surpreende. Surpresa, igualmente agradável, foi o facto de o mesmo prémio ter sido partilhado com o Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas da ONU.
E não me surpreende porque Al Gore deve ser a pessoa que no mundo inteiro, e desde de 1988, mais eficazmente tem tratado a problemática do aquecimento global do planeta, nuns casos até com algum alarmismo como convém à causa e aos ambientalistas, doutro modo certas issues também não se projectariam na arena internacional e informariam as agendas políticas dos Estados e das sociedades. É o efeito de "pimenta-política" que faz sempre falta para inscrever uma issue na agenda política internacional.
Enquanto que na década de 80 esta temática não passava duma hipótese académica e discutida por académicos em gabinetes fechados, sem que a sociedade global percebesse sequer a linguagem ou as consequências do que estava em jogo, na década de 90, mercê também da influência pessoal e política de Al Gore e da Adminisstração Clinton (que lhe deu cobertura política), o assunto ganhou foros de cidade e catapultou o tema para a agenda mundial.
Depois Al Gore, que não é parvo, soube tirar partido dos dispositivos da sociedade da informação que tem à sua disposição e até fez muito dinheiro com isso. Dinheiro que não deve ter revertido para a caridade ambiental, mas para os seus bolsos, pois lamentável foram as condições que impôs aos media portugueses em matéria de cobertura noticiosa das suas intervenções. Ou seja, money talks, e aqui Gore poderia ter sido menos materialista como acabou por ser, o que denota uma certa cultura do individualismo norte-americano incompatível com o seu (proclamado) ambientalismo.
O recurso às palestras (pagas a peso d' ouro), aos filmes e aos livros foram uma troika de instrumentos de comunicação estratégica que lhe permitiu duas coisas: enriquecer e potenciar o seu trabalho de consciencialização ambiental à escala planetária. De certo modo, foi a compensação psicológica e política por nunca ter sido eleito presidente dos EUA. Daí a sua auto-ironia com o facto de ser o eterno n.º 2. Será isto (parcialmente) censurável?! Será isto apenas e tão só o mercado (político) a funcionar...
Por outro lado, o Comité Nobel da Noruega ao premiar este tipo de trabalho está a contribuir directamente para se tornar também num actor importante nessa área. Como?
- Sensibilizando o mundo para a importância da redução de ameaças à Paz agora por via ambiental;
- E contribuir para controlar os desequilibrios decorrentes das mudanças climáticas, em boa parte aceleradas pelas emissões industriais.
Mas a que se deveu, concretamente, o sucesso de Al Gore, como é que ele o alcançou? É bom dizê-lo... Al Gore, e este é um mérito de coordenação sua ao nível da formação das equipas de trabalho, soube rodear-se de grandes experts mundiais em ambiente e mudanças climáticas - para ele trabalharam através dos seus pareceres, dos seus relatórios circunstanciados que vieram enriquecer o saber adquirido na área. Sempre expostos de forma muito colorida e apelativa.
Mas a persistência de Al Gore ao longo destes últimos 20 também foi uma marca d'água do prémio que agora recebe em conjunto com o Painel Intergovernamental da ONU - fórmula mista encontrada para prestigiar a ONU e, assim, "matar dois coelhos" duma só cajadada. Boa jogada...
Influenciando decisores políticos, ONGs, empresariado, aristocratas do risco, financeiros, especuladores, movimentos sociais anti-globalização... Al Gore "subverteu" tudo e todos, com a cobertura política de Bill Clinton (então atrapalhado com as saias da secretária Mónica num País puritano...,e com o fundamentalismo do Procurador, que deveria ser um tarado em privado). Naturalmente, que por motivos eleitorais lhe interessava explorar esse filão estratégico e desenvolvimentista de alcance mundial. Foi isso que fez com o agreement de Bill Clinton, pelo que este prémio também deveria ter uma menção ao ex-Presidente dos EUA, um dos melhores desde o post-II Guerra Mundial, em 1945.
O resultado não sendo estrondoso, até porque os EUA, paradoxalmente, não assinaram o Protocolo de Quioto, acabou por gerar um clima de alguma exigência global em querer subscrever e mitigar as emissões de monóxido de carbono para a atmosfera e, dessa forma, gerar uma adaptação em conformidade com as mudanças climáticas que se começaram a sentir nesta última década. De que o degelo é um preocupante sinal...

Em rigor, a novidade reside na abordagem ao problema, pois não podemos esquecer que este é um Prémio de Paz que tradicionalmente não seria atribuído a uma matéria de índole ambiental, mas também aqui - dada a complexidade crescente da vida política doméstica e transnacional, se passou a considerar que não há mais fronteiras entre os problemas da paz e da guerra entre as nações, como diria Raymond Aron, e que hoje um problema de ambiente envolve sempre dois ou mais Estados, e aqui das duas uma: ou se escolhe a via desenvolvimentista que conduz à cooperação e ao trabalho conjunto com comissões mistas entre Estados, sociedades e povos, ou se caminha para uma lógica de relativização do ambiente, unilateralista e de isolamento que seria perigosa.

Não apenas porque inúmeros conflitos bélicos hoje adensam-se por causa dessas questões ambientais transfronteiriças, mas também porque não contemplar essa nova abordagem sistémica e integrada do Ambiente seria comprometer o desenvolvimento das gerações vindouras.

Nesta perspectiva, o Comité Nobel foi clarividente, pois ao atribuir o Prémio a Al Gore e ao Painel Intergovernamental da ONU também se está a incluir entre os premiados. De modo que, em meu entender, este prémio não teve (só) dois actores, mas sim três...

Parabéns, portanto, ao Comité Nobel da Noruega e ao Sr. Alfred Nobel que um dia andava distraído e descobriu que os explosivos, afinal, poderiam servir a causa da Paz mundial.