quarta-feira

A teoria do funeral: uma omnipresença estranha senão mórbida

Anacleto Louçã é o conhecido académico e economista que lidera o BE e no Parlamento "parte a loiça" toda com aquela sua preparação numérica que constrange o Poder e obnubila o insignificante MMendes que, não raro, não passa de simples verborreia ao permitir-se prometer o paraíso na terra por saber, antecipadamente, que nunca será poder.
Aparte isto, ele é uma pessoa qualificada, mas essa qualificação intelectual, cultural e até política, mormente em acções de agi-prop, deveria ter limites e encontar algumas fronteiras éticas. Pois ultimamente ele anda por tudo quanto é funeral, e no átrio das igrejas, onde os defuntos aguardam o sinal da emigração para debaixo da terra, para um jazigo ou para o além, lá está o Anacleto de pescoço erguido mais parece um boneco articulado em busca de palco mórbido - diante da camara de tv dando a sua entrevistazinha. Confesso que já chateia, e no outro dia até o Jumento (de quem esta foto é pertença) sublinhou isso, como que a antecipar o meu próprio feeling - que ora desenvolvo.
Isto até me faz lembrar aquele take, igualmente lamentável, do SLOpes a visitar a campa do Sá Carneiro e a deixar-se filmar diante da mesma naquela sua posição de devoção de falsete a orar pelo falecido, seguida duma entrevista à boca do cemitério. Nesse dia, confesso, vomitei.
Somando um e outro take, apesar do Anacleto ser mais reincidente neste tipo de cerimónias fúnebres, pergunto-me se não estaremos diante uma nova forma de fazer política para, desse modo, gerar uma compaixão contagiante junto da opinião pública e, assim, as ditas carpideiras entrarem melhor nesse tal sub-consciente colectivo que faz da memória um lugar do voto que pode, a prazo, reproduzir-se (e ampliar-se) em contextos eleitorais?! Ou talvez não..., pelo efeito de boomerang que gera nas pessoas que não são parvas e sabem "filtrar" os comportamentos e condutas políticas.
Dito isto, desejaria perguntar ao frenético Anacleto Louçã se também vai ao funeral do empresário do Norte que foi baleado no outro dia, e se sim daqui gostaria (também) de saber se já preparou o discurso.
Por vezes penso que o hemiciclo, as sedes partidárias e demais forúns de guerrilha politico-partidária se transfere em peso para os átrios das igrejas. O que os mortos diriam se, nesse caso, pudessem abrir a boca e exprimir o seu último desejo?!
Por mim, não terei dúvidas acerca das (hipotéticas) respostas...