Merkel, a «jovem» negociadora
Portugal quer iniciar redacção do texto do tratado europeu em Julho para adoptá-lo em Outubro.
Merkel, a «jovem» negociadora
A presidência portuguesa tem um mandato para liderar a redacção e aprovação formal do novo tratado reformador da União Europeia até final do ano, após o acordo da madrugada de ontem, em Bruxelas. José Sócrates já anunciou que o objectivo é ter o texto pronto em Outubro.
Angela Merkel terá vivido em Bruxelas as suas horas mais difíceis na cena política internacional, obtendo um sucesso inesperado na cimeira europeia e confirmando a sua reputação de negociadora tenaz e mulher de carácter. Uma vez mais, tudo acabou bem para aquela que o chanceler Helmut Kohl designava, num misto de afecto e condescendência, como “a jovem rapariga”, que se tornou chanceler da Alemanha e uma das mulheres mais poderosas do planeta. Ontem de manhã, o presidente da Comissão Europeia destacava o papel “excepcional” daquela que “obteve um sucesso que muitos julgavam impensável há alguns meses e mesmo há alguns dias”.
A Polónia, considerada a principal adversária de um acordo, acabou por ceder aos argumentos de Angela Merkel, que pacientemente construiu as pontes para um entendimento com o presidente, Lech Kaczynski, fazendo-o ceder ao oferecer-lhe alterações ao sistema de voto e outras medidas que o tranquilizaram. A chanceler alemã também teve de lidar com o primeiro-ministro britânico, Tony Blair, que se apresentou muito combativo na sua última participação numa cimeira europeia [ver coluna, página 18], ou ainda com o presidente francês, Nicolas Sarkozy, que desempenhou o seu próprio papel para convencer os seus “amigos” polacos. Aliás, o presidente polaco agradeceu a Paris e a Londres pela sua “solidariedade” com Varsóvia nas negociações sobre o novo projecto de tratado europeu e destacou a “atitude excepcionalmente amigável da chanceler alemã”. De Varsóvia, o primeiro-ministro polaco (ausente em Bruxelas), Jaroslaw Kaczynski, declarou que a Polónia “ganhou realmente” a cimeira.
Muitos dirigentes, entre os quais Tony Blair e Nicolas Sarkozy, ajudaram directamente e por telefone a chanceler nos seus esforços intensos para negociar com o presidente polaco, presente em Bruxelas, e com o primeiro-ministro, Jaroslaw Kaczynski. A Polónia exigia um reforço da ponderação dos votos a seu favor nas decisões por maioria qualificada, por considerar que a Alemanha tem um peso excessivo no Conselho europeu. Já o primeiro-ministro britânico, Tony Blair, saudou o acordo sobre o futuro tratado como uma “oportunidade para a União Europeia avançar”.
De resto, o presidente francês, que desempenhou um papel crucial no acordo, impôs-se como um novo actor de peso na cena europeia. No final, Nicolas Sarkozy exclamou: “uma semana como esta conta para a vida inteira de um presidente!”.
Logo ontem, José Sócrates anunciou que a presidência portuguesa decidiu lançar a conferência intergovernamental para redigir o texto do futuro tratado em Julho, com vista a adoptá-lo em Outubro".
(in Primeiro de Janeiro)
Obs: Em matéria de negociações políticas vale mesmo tudo, até desenterrar os judeus mortos na câmara de gás do "amigo" Adolfo a fim de se conseguir fazer prevalecer um ponto de vista político à mesa das negociações. Mas tudo fica bem quando acaba bem. Haveremos de perceber melhor quem deu o quê e a troco de que contrapartidas.
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