segunda-feira

Contabilidade dos sonhos e a política portuguesa. A egomania

Por vezes acordamos e no decurso dos primeiros 25 ss. não sabemos bem quem somos, onde estamos e o que fazemos. Depois descobrimos uma coisa tão comezinha quanto fascinante: somos todos líderes duma espécie de vazio que anda por aí. Além de necessitarmos de liderar as nossas próprias vidinhas estamos sempre a impingir as nossas ideias às outras pessoas que, por seu turno, também fazem o mesmo. Todos, portanto, andamos a convercer-nos a fim de aceitarem o que pensamos, dizemos ou fazemos. Daí, na prática, sermos todos uns líderes.
Só que nesta tramitação houve três fases que importa explicitar: a fase dos líderes advogados, dado que o País e a sociedade carecia de resolver problemas jurídico-legais, foi o Portugal do post-25 de Abril com a descolonização à porta (Soares, Almeida Santos, Mota Pinto e outros), a democracia e o desenvolvimento (chamada a política dos 3D); depois sobrevieram as questões do mercado e da tecnologia que exigiram um novo tipo de líderes, por regra já com grande formação não em direito mas em economia e engenharia (Cavaco, Guterres e Sócrates) para enfrentar as vantagens competitivas resultantes daqueles inovações tecnológicas e da agressividade crescente do mercado dinamizado pela chamada globalização predatória que gera riscos e oportunidades.
Depois as questões monetárias e de natureza organizacional exigiram talento financeiro, logístico e administrativo para gerir esse novo conhecimento, o que se resolveu em parte com gestores, economistas e juristas. Mas hoje nada disso faz sentido se não se conseguir gerir e fixar o tal capital de atenção gerador de identidade e de significado numa certa tribo. Ou seja, voltamos ao mesmo: sem recriar esse campo de forças gerador de atenção junto dos melhores talentos nada feito.
Se atentarmos hoje nas agendas politico-partidárias nada mais vemos do que essa liderança de umbigo de que, por exemplo, este PsD de MMendes é expert. A questão europeia é disso mau sintoma, pois o tratado ainda não está fixado no texto e já ele anda a soprar com o referendo, que até se deverá fazer mas a seu tempo. É um precoce este MMendes. Mas nos outros partidos a egomania também não é muito diferente, todos procuram convencer as pessoas da bondade das suas razões e propostas. Sob a capa da solidariedade e do progresso para o país o que os partidos fazem é, no fundo, tantar salvar a sua pele junto dos eleitores e fixar eleitorado para, por sua vez, convencer mais e mais eleitorado na senda daquela egomania.
Agora este PsD vem-nos tentar convencer de que está muito preocupado com o pulsar do povo relativamente à marcha europeia, por isso reclama já um referendo, querendo assim construir a casa pelo telhado. Lindo!!!
O que se pretende dizer é que hoje em Portugal faz-se velha política, todos olham para o umbigo, e se este PsD já perdeu muita credibilidade política tal deve-se, precisamente, a essa egomania, a esse vested interest que procura mitigar o interesse nacional com o interesse partidário e depois redunda na questão que começamos a assistir com este PsD a enfraquecer a posição negocial do governo no quadro da presidência portuguesa da UE.
Bem sei que não é fácil ao PsD e aos partidos em geral encontrar uma visão alternativa para esta velhinha, soez e cabotina forma de fazer política, mas, ao menos, os líderes partidários que temos também poderiam ter sonhos mais nobres e construtivos, como procurar fazer da diversidade partidária um enriquecimento de políticas nacionais no espaço da UE.
Ao fim e ao cabo entre PS e PsD nunca houve divergência em matéria europeia, o que agora desponta mais não é do que um mau sintoma daquela miserável egomania e intriga que se explora por mero taticismo partidário e que não leva a lado nenhum. Nem sequer MMendes ao cadeirão de S. Bento que ele parece tanto desejar..
Revoltas da memória recente

Nota prévia: Sócrates, e bem, lembrou em 2004 ao então PM Santalopes a mancha que fez ao permitir que um seu ministro censurasse o analista e prestidigitador Marcelo na TVI, acusado de cabala contra o governo por Gomes da selva. Hoje, o Macroscópio - para sermos coerentes, lembra a Socas que não pode mais "segurar" a delatora e perseguidora da DREN em funções. O PM subiria na minha consideração, e da dos portugueses, certamente, se metesse a dita dona Guida no olho da rua imediatamente.

José Sócrates na AR - 14/10/2004