sábado

Sampaio é nomeado "papa" do diálogo intercivilizações

O dr. sampaio é uma simpatia de pessoa, afável, informal, põe as pessoas à vontade e eu que o diga, pois em 1996 até tive a oportunidade de receber o prémio de comemoração do cinquentenário da ONU atribuído por ele próprio, recém eleito. Mas daqui não decorre que o ex-PR seja agora, por tudo e por nada, nomeado para funções internacionais para as quais não tem preparação intelectual ou qualquer experiência assinalável na área. É assim nas questões de luta contra a tuberculose, é assim agora com esta nomeação pelo novo Secretário-Geral da ONU para o diálogo intercivilizações - só porque sim - ou se leu Roger Garaudy na década de 70 ou se dispõe de alguns contactos internacionais e algumas ligações ao Médio Oriente. Julgo que é curto...

Naturalmente, numa era globalizada há sempre a necessidade de compreensão mútua e de diálogo, posto que o fundamentalismo e o fanatismo, decorrentes de leituras degradadas dos textos matriciais, abrem sempre possibilidades de violência que fazem perigar a estabilidade nas sociedades europeias. Mormente nos casos de violência inspirados pelo fundamentalismo islâmico e cristão, os exemplos na filiação religiosa são comuns, mas nos últimos anos emergirão outros choques no seio no arco islâmico - que vai de Marrocos à Indonésia, o que globaliza sériamente o problema.

Consabidamente, hoje pessoas de tradições, crenças e culturas diferentes, senão mesmo contrastantes estão crescentemente em contacto uns com os outros nessa vitrine em tempo real em que se converteu o mundo. Desde o mundo científico, religioso, político, económico e empresarial - todos hoje falam com todos em tempo real, ainda que, por vezes, pouco ou nada digam à humanidade. Mas à medida que vamos interiorizando esta forma de ser e de viver verdadeiramente globais, ainda que fronteire com o conceito de multidão solitária de D. Riesman, somos obrigados a viver de uma forma mais aberta e reflexiva, a exigir o "tal" diálogo intercivilizações essencial à paz, à estabilidade e ao desenvolvimento material e espiritual dos povos. Eis o principal modo de dissolver e de aplacar a violência entre governos, sociedades e povos distintos.

Confesso, contudo, que não encontro correlação desta problemática com o perfil profissional e a formação intelectual do dr. Sampaio para o desempenho de mais estas importante (e simbólicas) funções internacionais. Mas posso estar enganado, e a sua praxis política e cultural vir a revelar-se um autêntico golpe de asa capaz de trazer paz ao mundo e instalar o paraíso na Terra nesta nova cosmopolis.

Esperemos, por este andar de nomeações abstrusas, que amanhã ninguém da Federação Portuguesa de Futebol se lembre de nomear o inefável Sampaio para futuro treinador da Selecção Nacional. Porque se o fizeram ele vai novamente dizer que SIM!!!

O que me faz perguntar: afinal, atrás de que bola corre Sampaio?!