quinta-feira

O grande Voltaire: sabia-a toda, pela Ironia e pela Lógica

Voltaire foi um exemplo de racionalismo, com estilo e muita ironia. Pensava bem e escrevia melhor, foi um mestre na dialéctica, provando coisas que os outros se viam forçados a concordar. Era, pois, um rapaz de talento, mas um patife notável, como se diz no seu curriculo. Aproveito aqui, na sequência do post infra das Pharmácias morais - que é um conceito sui generis, para evidenciar essa mestria na arte da ironia e do seu fino humor. Disse imensas verdades que hoje podemos provar à saciedade: denunciou a perniciosa padralhada e a Igreja católica, coisa que o Eça viria também a fazer mais tarde em Portugal; casou eficientemente o instinto com a razão, podendo - querendo, tomar o destino em nossas mãos e, assim, melhorar a condição humana. Para isso recorria à ciência e à técnica e até às artes, à estética, à beleza.
Em síntese: Voltaire não era parvo, gostava do que era bom, e sabia-o pelo instinto e pela razão. Um tipo assim raramente se deixa enganar, só se for para iludir uma mulher ou um homem de negócios. Na sua filosofia Deus também não entrava, ficava à porta, com ele circunspecto... Mas o que aqui quero frisar é uma passagem deliciosa do seu Cândido ou o Optimismo, em que o mestre diz só isto:

[...] depois do jantar [...] Cunegundes e Cândido encontraram-se atrás de um biombo. Cunegundes deixou cair o lenço. Cândido apanhou-o; ela segurou-lhe inocentemente a mão; o jovem beijou-lhe inocentemente a mão com uma vivacidade, uma sensibilidade, uma graça, muito particulares; as bocas encontraram-se, os olhos inflamaram-se, os joelhos tremeram, as mãos desatinaram. O sr. Barão de Thunder-ten-tronchk passou ao pé do biombo e, vendo esta causa e este efeito, expulsou Cândido do castelo aos pontapés no rabo. Cunegundes desmaiou. Quando voltou a si, foi esbofeteada pela Sr.ª Baronesa e houve uma grande consternação no mais belo e agradável dos castelos possíveis.

Bom e foi assim que começaram as desventuras de Cândido, que numa forçada peregrinação pelo mundo escalou em Lisboa e ainda teve tempo para se surpreender com o Terramoto de Lisboa, tomar chá com o Marquês - que adorava os judeus - , passar pelo estádio da Luz e afagar a Águia e pagar as quotas, comprar preservativos ao C.C.Colombo e depois partiu em direcção aos Azores - para chegar à América, porque tinha lá rendez-Vou marcado com o Alexis de Tocqueville. Ora, como escalou nos Azores e com aquela cabeleira, temo bem que a Eurodeputada Ana Gomes, da Europa, o tenha confundido com um US Marshal a sovar dois terroristas que ali faziam xi-xi - debaixo da asa esquerda do aviaõ da CIA - com destino a Guantanamo com gado bovino lá dentro.

É isto que o Sr. PG. da Repúbica terá de apurar e divulgar ao mundo através da sua vitrine cosmopolita. Já sabemos que o dito não usa blogues, porque detesta cartas anónimas e, e como não gosta de cartas anónimas também detesta blogues. E, para que conste, ele tem uma Senhora que lhe faz o trabalho...

PS: post dedicado ao Voltaire, hoje a braços com um processo na Justiça lusa por ter, alegadamente, sovado dois terroristas sob a asa dum avião enquanto fazia xi-xi...