O destino em manobras - por Nuno Brederote Santos -
Jurista
Foi penoso observar como foi evoluindo, no terreno da campanha, a posição do PSD no referendo. Começou numa neutralidade táctica que libertou dezenas dos seus mais conhecidos quadros políticos para o campo adversário. Passou depois a um conúbio indisfarçado com o "não", a pretexto de ser essa a legítima posição pessoal do líder. Terminou com a adopção de uma acrobática teoria que Marcelo Rebelo de Sousa engendrara para sua própria preservação, mas que fazia perder mil votos para a abstenção por cada um que lograsse cativar.
Tudo isto correu tão mal que o PSD surgiu mais penalizado do que o CDS (que segurou com força a trela do "não" e correu, ofegante, atrás dele durante quinze dias).
Perfilavam-se entretanto novas e delicadas batalhas: as do rescaldo do referendo, com a transferência política da matéria votada para o domínio jurídico da lei ordinária. Era preciso juntar os cacos, cuidar dos feridos, reorganizar trincheiras. Era preciso, pois, fazer esquecer os juízos que a campanha e as urnas instalaram no eleitorado.
Para isso, os grandes tácticos sugerem sempre uma manobra de diversão. Mas uma manobra que, para ser credível, deve estar virada, não contra os adversários do PSD, mas sim contra ele mesmo. E aí o destino fez surgir o génio, aquele que por vezes lateja sob os escombros das grandes derrotas: soltar o ilimitado potencial de inépcia, confusão e tiro aos pés da equipa camarária do PSD em Lisboa. Assim foi: e à cratera financeira, às obras paradas, à sensação de uma autogestão omissiva, à ruptura da coligação com o CDS, à auto-suspensão da vereadora do urbanismo, iriam assim suceder delirantes jogadas (como a do seguro de saúde para todas as crianças da cidade) mais o não-suspende-mas-suspende que tirou de cena o vice-presidente e obriga a novas redistribuições de pelouros.
Esta manobra de diversão, porém, descontrolou-se. A ninguém se deseja o dia atormentado e caótico que foi o de sexta-feira, na S. Caetano e na câmara. É uma nova e formidável derrota da imagem do PSD na cidade capital. Agora, bem vistas as coisas, aquilo de que ele precisa é de uma manobra de diversão que afaste da câmara as atenções. Uma coisa que, para ser credível, tem de estar virada, não contra os adversários, mas contra o próprio PSD. Algo digno do génio que por vezes lateja sob os escombros das grandes derrotas."
Sugiro, pois, que o PSD volte ao aborto.
O sublinhado é nosso.
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Obs: um interessante e realista artigo, mas quem diz regresso ao "aborto" diz regionalização, Camarate, CC.Belém, qualquer coisa que faça pensar aos portugueses que este psd não é senão uma caricatura da própria realidade. Em última instância até se pode dizer que a integração de Portugal na CEE foi obra de SLopes e que a morte da ditadura do velho Botas derivou dum espirro de Balsemão ao criar o expresso, ou ainda que a fundacionalidade por D. Afonso Henriques decorreu duma inspiração que teve ao supôr que Pacheco Pereira estaria a reescrever os novos estatutos para o psd.
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