Globalização a pataco e as novas especiarias do (des)Oriente

Antes de passarmos ao enunciado do conto, um conto per day, todos magníficos e merecem ampliação, importa, talvez, sublinhar algumas velocidades da meretriz da Globalização da comunicação, qual conhece uma troika de etapas:

1) Ligada à conquista do território nos sécs. XVI e XIX,designadamente com o struggle for Africa no séc. XIX;

2) Uma 2ª etapa nos sécs. XVIII e XX - relativa à exploração física e material do mundo, de tal modo que até parecia que ele era infinito e de recursos ilimitados;

3) E uma 3ª etapa - que é aquela em que vivemos - ligada ao mundo de equilíbrios precários do nosso quotidiano, seja em matéria ambiental, seja na segurança social, no emprego, no crime, na saúde, na educação, na droga - todos os sistemas e subsistemas hoje se nos afiguram frágeis, finitos, daí colocar-se com extrema acuidade a questão da coabitação entre os povos e culturas diferentes, porque são esses, afinal, valores e cosmovisões que acabam por influir nos funcionamento do sistema económico internacional e condicionar a operacionalidade do mercado global - com os seus up & donws, activos e passivos para as economias do mundo. Ou seja, é aqui que a globalização vai lavrando a terra de vencedores e de vencidos no carrossel da modernização e desenvolvimento de uns e atraso e pobreza doutros.

E é para melhor se compreender a importância da dimensão cultural na comunicação entre os Estados, as sociedades, as economias e também entre os povos e as pessoas que o conto infra poderá caracterizar, ainda que de forma propositadamente caricatural, as dimensões técnica, política e as condições socioculturais.

Se as duas primeiras dimensões evoluem depressa e paralelamente, a 3ª dimensão revela-se mais complexa e problemática - porque se institui de forma mais lenta.

Quer isto dizer que as pessoas mudam mais depressa de instrumentos do que a sua maneira de comunicar, podemos adoptar as novas tecnologias da informação e da comunicação e decisão estratégica mas, ao mesmo tempo, continuar a viver e a explorar os outros como uns verdadeiros animais.

A Índia tem mais de 1 bilião de habitantes, 18% da população mundial mora alí, desses - 350 milhões - vivem com menos de 1 dólar per day, cresce 7% ao ano, e a Índia ainda se dá ao luxo,a nte tanta pobreza, de ter das 20 maiores fortunas do mundo, segundo a revista Fortune. Índia, Brasil... A grandeza destes países, afinal, reside aqui: nos dramáticos contrastes. E eu a pensar que o critério de grandeza inscrevia-se com base noutros parâmetros e assentava noutros valores... Vejamos agora este conto, entre outros que o nenuco nos narra. É ele que agora tem a palavra:

in Muito Barulho por Nada

"Com a sua habitual argúcia economicista, Cavaco Silva tenta aproveitar a presente deslocação à Índia para cativar empresários locais a transferirem os seus negócios para Portugal.

- CAVACO SILVA – Sr Primeiro-Ministro, Portugal veria com muito bons olhos o investimento do vosso tecido empresarial no nosso país. Afinal, são muitas as afinidades que nos unem…

- MANMOHAN SINGH – O prazer seria nosso, mas a vossa mão-de-obra é muito cara… - CAVACO SILVA – Está a brincar comigo, Sr Primeiro-Ministro…Vê-se mesmo que nunca visitou uma fábrica de calçado em Leça da Palmeira.

- MANMOHAN SINGH – Sr Presidente, nós temos crianças nas nossas fábricas a quem não pagamos mais de 12 dólares por mês. - CAVACO SILVA – Sr Primeiro-Ministro. Nós temos crianças nas nossas fábricas que não recebem um euro há mais de seis meses…

- MANMOHAN SINGH – Mas as nossas crianças são ágeis e conseguem trabalhar um dia inteiro só com 30 gramas de arroz basmati… - CAVACO SILVA – As nossas crianças são ainda mais ágeis, pois conseguem trabalhar um dia inteiro só com um penalty de Porca de Murça.

- MANMOHAN SINGH – As nossas crianças são obedientes e aceitam qualquer trabalho para ajudar a família. - CAVACO SILVA – Sr Primeiro-Ministro, nessa matéria não aceitamos lições de ninguém. As nossas crianças são tão obedientes que só para ajudarem a família até fazem alguns biscates por fora. Seja na prostituição infantil ou no tráfico de droga, os nossos jovens não param um minuto para descansar. Além disso, sempre que algum engraçadinho se arma em esperto ou teima em não acatar as ordens dos pais, os serviços visionários da nossa Assistência Social encarregam-se de lhe arranjar uma nova família onde ele aprende o valor da obediência."

Publicado por nenuco