terça-feira

A visita de Cavaco à Índia: quando os anões encontram os gigantes 5-2=7

O portão da Índia
Depois do Brasil Cavaco faz agora bem em visitar a Índia, outro imenso mercado que, bem explorado, pode servir de canal privilegiado para a economia e as exportações portuguesas para aquela antiga jóia da coroa inglesa. A qual teve uma história de independência tão dramática quanto carismática pela liderança talentosa assente na resistência passiva hábilmente conduzida por Mahtma Ghandi, talvez um dos homens mais excepcionais de todo o séc. XX. Depois do Brasil, portanto, está agora a Índia na calha, considerada já o "escritório do mundo" - tal como a China representa a "fábrica" deste nosso mundo.
Julgo que o programa oficial está definido, até porque Cavaco nada deixa ao acaso, nem as vírgulas. Sabemos como é avesso ao improviso, à criatividade discursiva, à espontaneidade que deveria fazer muito mais pela política. Mas o conceito restrito que Cavaco tem da política leva-o a ser sempre aquele "bom aluno", que nunca se despenteia, hiper-programado - como um robot - que só diz o que decorou em casa, nada mais nem menos. Neste sentido, é um PR previsível, e antes de dizer o que tem para dizer já todos sabemos o que irá dizer. É como se fosse uma gravidez programada ao milímetro, anunciada cirúrgicamente no dia e hora. Perante isto seria bom que essa agenda presidencial portuguesa de uma semana consiga, de facto, tirar partido dos encontros empresariais agendados, das conferências, das entrevistas, das reuniões empresariais que Cavaco leva na sua comitiva e o mais. Desta vez, parece que são os empresários que pagam do seu bolso a respectiva viagem, porque o Estado não sustenta... empresários. Já ía para dizer uma palavra feia... A escolha da Índia não se deve, certamente, ao amor pela Vaca, animal sagrado, mas ao facto de as ligações históricas, todo um passado comum aliado a um contexto geo-económico de ordem global, priorizam esta viagem. Digamos que enquanto Sócrates fala em Espanha, Espanha, Espanha - Cavaco, por seu turno, clama por Índia, Índia, Índia.
A par com a China, a Índia é dos países do mundo que mais e melhor cresce ao ano, e em sectores de futuro que serão verdadeiramente essenciais à economia do conhecimento que está, todos os dias, a dar cartas na vida económica mundial. Veja-se o caso de Bangalore, capital do Estado de Karnātakā e que representa hoje uma espécie de Silicon Valley da Índia - um grande centro tecnológico de excelência onde se concebem e executam os mais indispensáveis sistemas informáticos que respiram informação por todos os poros e fazem funcionar os mercado global.
Resta saber que visão de negócio é que levam à Índia os grandes grupos económicos como a CGD, o grupo Sonae, o banco Efisa/BPN, o Bes e outros que também se farão representar na comitiva de Cavaco à pérola do Oriente. Uma coisa é certa: a Índia respira informação, tudo alí remete para as melhores opções de mercado, para a solução mais viável e competitiva, desde o comprimido ao equipamento informático, o que exige empresas pouco (ou nada) verticalizadas - em que o tempo da decisão da cadeia de comando se revela desfazado com a intantaneidade que aquelas opções de mercado exigem no actual panorama económico global.
Práticamente, todas as componentes que, em tempos, eram feitas internamente podem agora ser compradas a terceiros. Em tais condições, as empresas têm de desenvolver novas estratégias, caso contrário morrem. E eu, como português, desejaria que estivessem integrados na comitiva presidencial outro tipo de empresas que não fossem predominantemente o sector bancário, que gera lucros mas não cria a riqueza que hoje as economias e as sociedades de todo o mundo mais precisam.
Cavaco, que é economista, terá de ponderar bem isto, mormente numa fase em que para se ter êxito as empresas têm de utilizar, em seu benefício, mercados transnacionais hipereficazes e actividades, processos, componentes e pessoas igualmente qualificadas e competitivas. Que é, em rigor, o que tem faltado à sociedade portuguesa. A Ydreams, por exemplo, é um caso de sucesso empresarial em Portugal, mas é uma ilha rodeada por um deserto.
De facto, passámos dum mundo do fabrico para um mundo da compra, da subcontratação a terceiros. Os executivos das empresas já não só acreditam que 2+2=5; eles agora pretendem que a fórmula empresarial assuma uma racionalidade mais exuberante, de molde a que 5-2=7, porque, em rigor, quantas mais actividades secundárias ao âmbito do métier da empresa se colocarem out of game do circuíto produtivo da empresa tanto maior será o valor que se pode gerar. Esperemos que a visita presidencial e dos portugueses à Índia se salde por esta última equação, e que ambas as economias possam ganhar com os trade-of entretanto gerados. Veremos se os resultados são bons e a vaca ajude, e depois que os resultados sejam contagiosos...