segunda-feira

Notas Soltas no arranque de 2007

O regresso dos Notas Soltas teve o mérito de recentrar a narrativa da política doméstica e internacional. Intramuros foi o discurso de Cavaco para se concluir o seu carácter "pendular". Aqui pensei até que António Vitorino fosse dissertar sobre o TGV... Mas não, falava da motivação que animou o discurso do PR - que deve sempre fazer a síntese entre variáveis em confronto, sem nunca quantificar as observações que faz, porque o próprio Cavaco tem de jogar este jogo, tem de representar o seu papel no teatro da democracia.
Registamos aquilo que mais preocupa o analista e, pelos efeitos sociais que gera, a reforma na Administração Pública - cujos resultados só se verão ao termo de uma ou duas legislaturas.
O julgamento e enforcamento de Saddam foi o que foi: um acto bárbaro transmitido em directo para o mundo, quiça o único momento digno em que o ditador se encontrou. Foi a vingança de Bush-filho. Mas mesmo os ditadores são humanos de carne e osso, e mesmo que nos abstraíssemos e pensássemos - que não era um de "nós" que estava alí, houve algo de arrepiante que ficou gravado a lazer nas nossas mentes: o abismo da morte. Lembro-me de alguém dizer, um dia, que quando tiver de morrer que seja ao lado de um pastor alemão...
Creio que o Ocidente - dito civilizado, coisa que este Bush não é, teria a obrigação política e o dever moral de ter evitado essa barbárie. É que à luz daquele enforcamento os crimes cometidos pelo carniceiro de Badgad irrompem - doravante - à história como acontecimentos menores que, com o tempo, se desculpam ou dissolvem na memória. Ao invés, aquele enforcamento, funciona como boomerang que primeiro baterá nas testas do quarteto da desgraça: Bush, Blair, Durão e Aznar - os homens dos Azores - depois, para vergonha de todo o Ocidente, baterá em toda a civilização judaico-cristã que integramos e que dizemos respeitar. Foi o momento zero da nossa civilização, e como português cooresponsabilizo durão Barroso por aquela acção negligente execrável na história da 1ª década do III milénio.
A Roménia e Bulgária reconfiguram a Europa para 27 Estados-membros, veremos se se traduzirá em mais modernização, crescimento e desenvolvimento, conhecidos que são os elevados índices de corrupção na Bulgária ao nível dos serviços do Estado.
Ainda na esfera internacional António Vitorino ressaltou duas questões mais de pendor desenvolvimentista: o ambiente (post-Kyoto) e o comércio internacional - paralisado que está com a habitual política de subsídios aos agricultores norte-americanos que desvirtua toda e qualquer oportunidade de esse mesmo comércio internacional se poder fazer dentro das regras de sã comércio internacional entre economias ricas e pobres.
Há, contudo, ainda uma oportunidade, e como entre G.W.Bush e durão Barroso há mais coisas que os aproximam do que coisas que os separam, desde logo pela cosmovisão, é natural que, ante o abismo político que ambos já cavaram nos respectivos eleitorados (EUA e na Europa) estes dois players menores da história mundial contemporânea - procurem limar arestas e chegar a um consenso no quadro dos valores a ajustar relativamente aos montantes desses subsídios, de molde a que a OMC reganhe algum prestígio e credibilidade que já vem sendo denunciado há anos, mormente pelo Nóbel da Economia - Josep Stiglitz - que oportuna e corajosamente criticou os seus métodos e reformas ultraliberais em economias de desenvolvimento incipiente.
Também aqui o sistema de Bretton Woods do post-II Guerra Mundial está para o sistema internacional como a dupla Bush & Durão estão para a credibilidade política: ambos precisam de ser jogados no caixote do lixo da estória. Uma estória sem "H"... feita por (h)omensinhos sem escrúpulos que sempre entenderam a política como um tranpolim para atingirem objectivos particulares e, assim, darem pasto aos respectivos egos. Para Bush & Durão - o nosso Manifesto Anti-Dantas - pim!!!
Resta o ambiente, especialmente num momento de viragem política em que os democratas tomaram conta do congresso. E se amanhã poderão votar pela manutenção dos budget ao lado de Bush só para o ajudar a sair do Iraque, como foi referido - e bem - por António Vitorino, é provável que Bush fique prisioneiro na nova política pró-ambiente que acompanha o novo contexto de mudança que tende a ajustar a América para padrões mais civilizados e de qualidade de vida, o que exigirá uma descida drástica do montante das emissões de CO2 previstos e, com isso, fazer convergir os EUA e Europa - já com novas lideranças (bem entendido) - que, juntas, possam empurrar a China e a Índia, a fábrica e o escritório do mundo - também para patamares de emissões mais consentâneas com os actuais padrões ambientais e possibilidades naturais do planeta.
A segurança das pessoas não depende apenas da prevenção de ataques terroristas, depende também da forma como em cada um dos países se harmonizarem os objectivos parciais e globais em matéria de plano integrado de desenvolvido sustentável. Mas aqui a ONU e as suas agências especializadas e a UE terão uma palavra a dizer.
Veremos qual a qualidade dessa palavra...conhecidas que são as "qualidades" das pessoas que estão hoje à frente dos EUA e da Europa.
Já agora, onde fica o exílio...