segunda-feira

A Filosofia é uma ciência e uma arte de Hoje, de sempre

Já que vivemos na era dos eventos, poder-se-ía criar um "Hotel do Filósofo", um local para discussões e debates de questões de teor filosófico que fosse mais do que uma coutada de fim-de-semana e beneficiasse do concurso de inúmeras pessoas com formações académicas diferenciadas. A ideia não é nova e a Holanda deu esse passo seminal...
Isto porque a sociedade mudou, mudando com ela a sua estrutura e perfil dos problemas que hoje se colocam, na maioria dos casos mais exigentes e mais complexos, mormente porque as questões éticas colocam novos referenciais valorativos que urge equacionar na vida concreta do cidadão.
Em segundo lugar, e porque hoje precisamos de referências, o perfil do pensador e do filósofo hoje também mudou. Basta pensar no perfil de Manuel Maria Carrilho para se perceber a dimensão dessa transmutação... Ou seja, e falando mais a sério, enquanto que no passado os filósofos tomavam por objecto temas e problemas mais abstractos, os pensadores contemporâneos têm uma preocupação mais particular, concreta e detalhada, se possível quantificada no tempo e no espaço, o que obriga a uma dinâmica da filosofia, do seu ensino e da forma como se cruza com os demais saberes.
Estamos, pois, em crer que hoje a filosofia tem muito para dar aos cidadãos individualmente e às empresas - no plano macro-institucional. E são estas novas condições, tomando (ou) não a ideia do Hotel do Filósofo como motor de arranque ou referência - que deverão promover a tão desejada pressão e reforma sobre as Universidades e, bem assim, ter uma palavra a dizer sobre as saídas profissionais, o perfil dos curricula, as competências emergentes e práticas necessárias e ser, por todas essas razões, um parceiro activo na definição do mercado de trabalho. Pois nem tudo tem de emanar directamente da economia, da política ou do direito...
Com isto pretende-se dizer que a adaptação ao nosso mundo tem de se fazer com as pessoas, com as instituições e, naturalmente, também com essa ciência e arte que é a Filosofia. Renunciar a este papel é ser cumplice dos novos crimes civilizacionais que hoje andam por aí antes de chegar aqui... Razão por que me parece que algo tenha de ser feito urgentemente na 5 de Outubro relativamente à Filosofia, logo à posição dos portugueses no mundo.
No fundo, vivemos um dilema que se coloca nestes termos a médio-longo prazo: ou queremos construir o novo pensar e edificar um novo futuro; ou continuamos a andar por aí...