quinta-feira

Filho de um deus menor: a esquizofrenia catatónica de um burocrata

Fazemos aqui uma caracterização psico-política da conduta do Sr. Paulo Macedo, o que nos obrigou a sofisticar o campo de acção e a intercruzar a malha analítica a fim de compreender e enquadrar toda a sua sintomatologia política.

  • O altar é o palco dos padres
  • Vendo bem as coisas eu não duvido de Deus, ele é que duvida de mim... Por isso se encomendam missas de acções de graça. Mesmo num Estado laico...

Paulo Macedo encomenda missa de acção de graças (in Jornal de Negócios)
"Paulo Macedo fez ontem chegar aos funcionários do Fisco uma mensagem invulgar. O mediático Director-Geral dos Impostos (DGCI) encomendou uma missa de acção de graças pela sua Direcção-Geral e pelos funcionários dos Impostos, e convidou todos quantos se queiram juntar à celebração a acompanhá-lo, hoje, pelas 18h30, na Sé Patriarcal de Lisboa.
Os funcionários do Fisco foram recebendo o convite oralmente pelas respectivas cadeias hierárquicas ao fim da tarde de ontem, no " integral respeito pelas convicções religiosas de cada um", segundo algumas das mensagens transmitidas.
Contactado pelo Jornal de Negócios, o Ministério das Finanças sustenta que iniciativas com este enquadramento não colocam em causa o princípio da laicidade do Estado, e sublinha que também não está em causa a liberdade de culto dos funcionários dos Impostos."
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CARACTEREOLOGIA POLÍTICA DE PAULO MACEDO: UMA PERSONALIDADE EVITANTE COM TRAÇOS DE ESQUIZOFRENIA CATATÓNICO

Não se percebe bem onde é que o sr. Macedo estava com a cabeça ou com as mãos, ou com as mãos e a cabeça quando fez esta encomenda ao Patriarcado que até prestou o serviço religioso à borla. Não teria sido melhor que ele encomendasse o dito serviço religioso alí na Prelatura da Opus ao Campo Grande...
Confesso não ter instrumentos de análise política ou sociológica para enquadrar esta sintomatologia atípica em democracia pluralista, tudo aquilo sai fora do molde, como diria Umberto Eco - (reportando-se ao Ornitorrinco), razão por que terei - à semelhança do sr. Paulo Macedo - de me virar para a religião (respeitando a liberdade de culto de cada um), alguma filosofia e alguma psicologia clínica - visto que aqui estão em causa comportamentos, condutas e e atitudes e todo um quadro clínico dominado por uma obsessão egocêntrica verdadeiramente descomunal e inaceitável em democracia. Ora, este quadro psico-clínico também não deixa de ser relevante para o estudo das organizações e dos fenómenos sociais com peso político, dado que interferem com o bem comum teorizado por Aristóteles há 2 milhares de anos.

Contudo, como não temos tinta da china nas veias, que foi uma frase utilizada por Ferro Rodrigues, começo por enquadrar uma frase de um amigo que, curiosamente, me envia isto do Vaticano via email:-

Sempre me causou forte antipatia, sem saber bem porquê - mas agora com a missa de Acção de Graças, fiquei a perceber a razão... Não posso com beatos, interesseiros e fingidos e fosse eu o deus de que ele se socorre e iria parar ao inferno à velocidade duma bala (ou da luz, acrescento eu, sempre seria mais rápido).

Confesso aqui nada ter contra a pessoa do sr. Macedo, cujo pensamento ninguém conhece, nem o tom de vox, pois ele não fala à imprensa manda recados; não expõe as suas ideias - alguém na imprensa (sol, expresso e jornais de negócios participados financeiramente pelo ex-bcp) fazem isso por ele, sempre com uma graxa sabuja e indigna duma democracia pluralista, adulta e madura. Mas é por nada ter contra o senhor - que até me parece dum falso acanhamento e duma conduta comportamental incongruente, pois ninguém pode buscar o low profile e depois encomendar missas desta natureza num Estado laico, além de caricato é incoerente. A não ser que o sr. Macedo esteja a trabalhar tão arduamente para se parecer com aquele elefante na loja de porcelanas...
Vendo alí o sr, Macedo a abetoar-se ou a desabotoar-se, também pouco interessa, e com um sorriso meio jingão de Av. de Roma a rir-se para o Altar do Senhor, percebe-se que aquele baixo perfil que habitualmente mostra diante dos olhos dos media não é congruente com esta tipologia comportamental. Não é necessário ser psiquiatra para o perceber. Basta ser observador e não ser parvo. E hoje a "boa" blogosfera é muito mais do que isso, aliás, a eficiente blogosfera - e bastaria aqui citar meia dúzia de blogs - faz mais numa semana do que o sol, o expresso juntos num mês. Mas adiante, isso são contas de outros rosário.
De facto, toda esta sintomatologia só pode esconder algo de maior e mais grave para a democracia, só se pode justificar com um receio do que possam vir a dar as investigações decorrentes da Operação Furacão, onde está envolvido o ex-BCP - de que o sr. Macedo é oriundo. Só por esta razão, e porque à mulher de César não basta parecer.. - seria motivo mais do que suficiente para que o governo jamais equacionasse a possibilidade de reconduzir o dito beato que agora instrumentaliza o clero para capitalizar mais sede de apoio social e, assim, condicionar a opção do governo. Nunca tamanha e ínvia pressão se viu na democracia portuguesa, uma pressão tentacular, bem ao estilo da Opus day, inaceitável em democracia pluralista. O sr. Macedo deve ainda estar a sonhar que o Primeiro-Ministro de Portugal é José Maria Balaguer, mas não é..
Certamente que José Sócrates não embarca nesta jangada de pedra, que esconde algumas fendas e que caberá à Política Judiciária e ao Ministério Público apurarem, mas não deixa de ser esgotante senão mesmo irritante ver as démarches que são feitas em todas as direcções possíveis para pré-condicionar uma decisão que só terá de será efectivamente tomada daqui por 150 dias. Razão por que ontem dissemos aqui que o sr. Macedo é um precoce. Mantêmo-lo.
Só o "medo" de não ser reconduzido, e de desagradar às empresas de consultores (jurídicas, media, economia, fiscalidade e o mais) que dele directa ou indirectamente dependem ou gravitam, pode formatar toda a conduta do sr. Macedo. Mostrando, por um lado, um comportamento de Príncipe detentor de uma das alavancas primordiais do Estado - a racionalização do imposto - que lhe confere uma armadura feita de escamas ou mesmo de pele de rinoceronte povoada pelos seus súbditos, brandindo a ameaçadora espada (do imposto) sobre as empresas e os cidadãos relapsos; mas, por outro lado, ele exerce o seu poder por temor que inflige aos seus súbditos. Tanto num caso como noutro esta paroquial Acção de Graças só denuncia um equlíbrio de favores e uma rede clientelar de interesses que só ganham com a sua recondução, por isso o apoiam desta forma descarada e pérfida para a democracia.
É aqui que o sr. Macedo entra numa gritante contradição pessoal, política, institucional, funcional, ainda que nem se dê conta dessa contradição dos termos.. Posto que, por um lado brande a sua espada ameaçadoramente, por outro encafoa-se numa Igreja e temerata e reverencialmente pede auxílio ao clero e a um deus que nem sequer o ouve. Denunciando aqui o medo de que a ineficácia daquela espada do imposto possa virar-se contra si e provocar-lhe a morte (política) violenta, ainda antes da consumação daqueles 150 dias remanescentes.
A mim parece-me óbvia as razões e as motivações que empurram o Sr. Macedo entre o mercado do dinheiro, o mercado do poder e o jogo cruzado da influenciação teo-banco-burocrática:
1. Por um lado, o medo do resultado da operação Furacão - e as eventuais operações ilícitas que alí se configuram e que caberá às autoridades judiciais apurarem e julgarem;
2. Por outro lado, o desejo compulsivo (e a necessidade) de querer agradar a Paulo Teixeira Pinto e ao grupo millenium de que as coisas - passadas, presentes e futuras - corram pelo melhor e, doravante, com a graça do Espírito Santo (não me reporto aqui ao Ricardo Salgado - que já tem sarna com que se coçar, mas ao "Outro" que está nos céus - entre as nuvens).
Estas duas razões combinadas tendem as desmacarar Paulo Macedo, dão-lhe uma força traiçoeira que lhe revelam ao mesmo tempo a sua debilidade: o medo. Tem duas tarefas fracturantes por cumprir: fazer com que o Estado e a administração fiscal não sejam lesadas pelas contribuições devidas da sociedade e, ao mesmo tempo, beneficiar, por acção ou efeito de ocultação, o grupo financeiro que integra. E é isto que faz de Macedo um homem sobranceiro, duplice, filho de múltiplas fidelidades e obedecendo a senhores que, por natura, estão em conflito constante: a banca e o Estado. Este visa acautelar interesses gerais, a banca só protege os interesses dos particulares.
Não é par hazzard, aliás, que o perfil de Macedo revela uma conduta (estranhamente) opaca, que nunca fala para não se comprometer (eis a melhor maneira de se preservar e sobreviver, os amigos dos media aparalham-lhe os golpes e fazem-lhe os jeitos de marketing pessoal e institucional) - chegando até a vender gato por lebre, numa ocasião em que procurou mostrar ao país que o DGCI teria direito a certas verbas que, afinal, não eram devidas. Muita coisa nele é falso, contraditório e constitui, só por isso, o abcesso para a democracia.

E é essa personalidade evitante, esse padrão generalizado de (falsa) inibição social, que hoje, com aquela tão extemporânea quanto ridícula Acção de Graças (que até me fez supôr que vivia no Irão - onde religião e política são uma coisa só) - reproduz na consciência colectiva uma avaliação negativa - apesar de alguns resultados positivos - que se devem mais a uma equipa e a uma mudança de organizacional dinamizada pelo governo Sócrates e pela liderança e impulso reformista concreto de José Sócrates do que por este filho dum deus menor, que nem sequer fala aos media.

Em suma: tudo neste homem é anómalo, até os magros sucessos de fuga ao fisco, já que umas empresas conhecem um tratamento, outras outro, dando a entender que consoante os empresários o tratamento assume-se de forma diferenciada, mas isso é questão para as autoridades, não para um analista que aqui se importa com a avaliação dos fenómenos sociais anómalos na polis. Tais anomalias passam pelos seguintes vectores:

1) Evitamento persistente e sistemático com os media. Não se expõe para não ser avaliado e assim preserva-se mais e melhor. Uma coisa é discrição - que a função exige; outra muito diferente é mutismo - que o sr. Macedo segue à risca, e é aqui que se junta o medo de falar com algum comprometimento funcional a que não será alheio a matriz bancária donde parte;

2) Não se envolve com pessoas, salvo quando sabe préviamente que é aceite e promovido, o que sucede pelos media que lhe ampliam e projectam a imagem;

3) Mostra uma restrição de relacionamentos institucionais que só se pode explicar pelo tal medo de ser envergonhado ou ridicularizado ou posto a descoberto

4) Vê-se a si próprio como inepto socialmente, talvez por isso encomenda missas de acção de graças.

Mas será que esta caractereologia é relevante para a avaliação política que fazemos do homem? Creio que sim, na medida em que alí afloram três vectores que, em breve, serão as três principais causas da discórdia deste pecado original:

A nova política é feita com homens sem rosto, mas estão lá...

a) A competição;

b) A desconfiança

c) A glória

Pela competição os homens atacam-se uns aos outros tendo em vista o lucro, o lucro do ex-bcp.

Pela desconfiança visam segurança, a auto-preservação e a sobrevivência. É o que o sr. macedo faz ad nauseaum.

Pela glória o dr. Macedo visa alcançar a reputação e o carisma que manifestamente não tem, nem diante do Altar onde procura colher o apoio funcional e socioeleitoraal do clero mais bafiento..

Voltamos a perguntar ao sr. Macedo: porque razão o senhor não encomendou essa missa na Prelatura do Campo Grande..., assim estaria em casa e tudo seria mais discreto. Mas, ao invés, os verdadeiros objectivos do sr. Macedo eram mesmo dar nas vistas, comportando-se como o tal elefante dentro da loja de porcelanas.

Isto não é novidade para ninguém, graves são as formas degeneradas que estas três vertentes comportamentais assumem no assalto à democracia e ao rule of law, com um Estado cada vez mais pobre e fraco, logo tornando-se fácilmente refém dos grupos económicos e das neocorporações que pululum no mercado da política e do dinheiro - que procuram telecomandar o Estado.. É isto que o sr. Paulo teixeiro Pinto fez quando se fez receber pelo novel Procurador-Geral da República. Há aqui um medo em cadeia que merece avaliação politológica, é o que aqui fazemos.

Pela competição algumas pessoas usam da violência legítima de que dispõem para se tornarem senhores das pessoas, i.é, dos contribuintes; pela desconfiança busca-se a defesa e a manutenção no lugar; e pela glória os homens confrontam-se por ninharias, como uma palavra, um sorriso, uma diferença de opinião ou qualquer outro sinal de desprezo, sejam dirigidos à sua pessoa, aos aliados, amigos ou familiares.

Por todas estas razões, não cremos que Paulo Macedo seja um homo economicus, dado que o seu maior interesse não está em produzir riquezas, o mais importante para ele é controlar o poder a conta-gotas com base na informação económica e financeira que este cirurgicamente prepara para ele. No fundo, o dr. Macedo reclama um sinal de honra e respeito que hoje procurou reforçar diante do Altar, como um bom beato. Ou seja, o homem vive básicamente dessa imaginação, e é ela que lhe tem dado a ilusão do poder que ele julga ter.

Mas o que verdadeiramente interessa ao politólogo não é determinar se o dr. Macedo é amável ou arrogante, mas compreender as razões profundas que o levam aquela esquizofrenia de tipo catatónico cujo quadro clínico é aqui relevante para a política: mutismo, resistência à comunicação sem motivo aparente, um ego do tamanho do mundo, obsessão com a sua manutenção no lugar (mesmo com aquele vencimento tão exurbitante quanto escandalaoso), postura sociopolítica rígida, algo bizarra até.

Tudo características imcompatíveis com a democracia pluralista que temos. Pois se a condição de Paulo Macedo é nunca falar o que lhe vai na alma - o melhor mesmo é que José Sócrates - o cale para sempre, dando assim acolhimento ao mutismo do senhor e satisfação aos 10 milhões de portugueses que não o apreciam.

Quanto ao senhor Macedo, o Macroscópio deseja-lhe um bom ano, mas não sem antes achar que ele ainda terá uma estátua em seu nome no exacto sítio onde durante o Natal esteve aquele árvore gigante do bcp fazendo poluição visual. Esta será a melhor forma de o mutismo do Sr. Macedo ser acompanhado com o novel corpo-estátua. Por isso, sugerimos que o homem se transforme numa estátua, e assim se mantenha congelado por muito e bom tempo.

Quiça os psiquiatras assim mudem de ideias...

PS: Durante algum tempo o dominicano Frei Bento Domingues achou que o Papa João Paulo II pressionou a Igreja inteira a ceder à sua privada mariologia, e por isso o cunhou de grande mariolas. Hoje, é legítimo que os portugueses pensem que Paulo Macedo pressiona o governo da República a ceder à sua vontade, se assim fôr os 10 milhões de portugueses cunharão o Estado português de EStado-otário, que será uma nova figura jurídico-política a entrar nos códigos e a ter objecto de estudo nos curricula das universidades. Esperemos, contudo, que tal não suceda, a bem da higiéne da República, claro está!!! E também das finanças do erário público.

  • REFERÊNCIAS DE QUALIDADE NA BLOGOSFERA QUE JÁ SE REPORTARAM AO ASSUNTO

Alguns blogues com densidade intelectual e dimensão sociológica já se reportaram ao assunto. Fica aqui uma breve resenha - oportunísticamente colhida alí do Tugir - que com graça diz:

Estaremos perante mais um acto, embora sob Protecção Divina, de economia paralela, ou tudo se processou de acordo com a Lei dos homens?

Outras referências:

O Jumento

Claro - que colocou uma questão ao Jumento, esperemos que responda...

Tugir

Causa Nossa

Abrangente

e Muitos outros