As razões de Marques mendes sobre o IVG
Num artigo de opinião publicado na edição do Correio da Manhã intitulado «As razões do meu não», Marques Mendes justifica porque irá votar «não» no referendo de 11 de Fevereiro argumentando que o aborto provocado, fora os casos previstos na lei actual, é «um acto arbitrário e injustificado que destrói um ser humano». O PSD não tem uma posição formal para o referendo sobre o aborto por entender que se trata de uma matéria da consciência de cada um. Apesar disso, Marques Mendes anunciou logo em Dezembro que iria votar «não», defendendo que a solução deverá passar pelo incentivo à natalidade. O «problema social» do aborto clandestino é igualmente abordado por Marques Mendes no seu artigo de opinião, que defende o seu combate com «medidas enérgicas, sociais, educativas e económicas», como o planeamento familiar, a educação sexual dos jovens ou o incentivo à adopção. «Numa correcta hierarquia de valores, a escolha só pode ser defender a vida, e não destruí-la», sublinha, insistindo que «o mal combate-se, não se legaliza». No artigo, o líder social-democrata fala também acerca do argumento repetidamente utilizado sobre a prisão de mulheres que fazem abortos, dizendo claramente que não é favorável à pena de prisão para uma mulher que decide interromper a gravidez, «seja antes ou depois da dez semanas». Não contestando o direito da mulher de só ter um filho «se e quando desejar, usando da sua plena liberdade e utilizando os métodos contraceptivos que entender», Marques Mendes preconiza, contudo, que essa escolha tem de ser feita «responsavelmente, antes da concepção de um novo ser».
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Obs:
1. Com efeito o aborto combate-se, não se legaliza. Mas isso deveria ocorrer num país em que os políticos fossem competentes e congruentes e contribuissem decisivamente para ciclos de expansão e de modernidade da nossa economia e perspectivas de vida, o que não sucede;
2. Num país em que os políticos uma vez no poder tenham, de facto, tomado medidas de incentivo à natalidade, à educação, ao planeamento familiar, à educação sexual entre os jovens, em suma, medidas económicas que fossem estruturantes e não meros paliativos. Uma coisa são as declarações de mendes, outra são as medidas concretas que tomou in concreto enquanto governante nos governos do psd;
3. Num país onde a igualdade de oportunidades é cada vez menor, obrigando os jovens casais a duas coisas: a emigrar e a abortar. É a chamada "geração aborto" que emigra por falta de condições de vida dentro do rectângulo;
4. MMendes, ao invés do que afirma no seu artigo, já vinculou ou pelo menos conotou o seu psd com o Não ao aborto, i.é, à actual VERGONHA NACIONAL feita de hipocrisia e de negociatas entre clínicas e parteiras; Mendes, en passent, socorre-se dum argumentário tão débil quanto banal e aceite por todos, nada alí é novo. O problema é outro. E como o país e os políticos do país não mudam por decreto ou por vontade de Mendes - somos levados a crer que aquele seu argumentário é apenas para inglês ver, porque ineficaz e, a ser levado a sério, deixaria tudo na mesma. Portanto, um verdadeiro aborto político.
5. Depois ninguém tem a certeza de que uma vez despenalizado o Aborto - estes passem a aumentar, aqui os comportamentos humanos são irracionais e pouco lineares. Gostaria de perguntar daqui ao sr. deputado MMendes se ele tivesse uma filha que engravidasse aos 17 ou aos 22 anos de um namorado por quem não estivesse apaixonada ou vida estabilizada, sem meios económicos, sem família que ajudasse ou compreendesse esse inesperado - se ele - suposto Pai dessa jovem - continuaria a dizer as banalidades que diz ou seria o primeiro a meter-se no carrinho com a filha e ir alí a Espanha "resolver o assunto". Se calhar era o primeiro a fazê-lo a fim de poupar a filha à censura da sociedade - uma vez confrontada com um filho sem Pai à vista...
6. Já nos habituámos a não levar muito a sério toda a política de oposição levada a cabo por Mendes, mas ele terá de compreender o sentido duma expressão popular que traduz bem a sua demagogia: águarrás no rabinho do nosso vizinho para nós é Coca-Cola. Ele tem de perceber uma coisa simples que se chama perspectivismo, e se quando MMendes vai de comboio e mira pela janela as cabrinhas a pastar na paisagem poderá bem ver que elas - as cabras - estão tosquiadas de um lado - ele desconhece como estão do outro. É, pois, esse "outro" lado que só é visto por quem efectivamente está em dificuldades e se apercebe que do outro lado da colina as tais cabrinhas têm a lã toda (por tirar)...
7. Lamentavelmente, o actual líder do psd diz que essa é a sua opinião pessoal e até diz que se trata duma questão de consciência, mas até aqui ele foi infeliz, hipócrita e dúplice e tentou capitalizar aquilo que, na prática, ainda lhe vai subtrair mais votos e credibilidade, para a pouca que já tinha. Com Mendes é assim, cada cavadela uma minhoca... E esta é a minhoca de MMendes..., alí tão bem acompanhado pelos restos políticos e pelo sub-produto ideológico de dona zita seabra (que enquanto membro do pcp era uma defensora do aborto) - a qual tem "ajudado" a transformar este psd num albergue espanhol, como um dia alguém referiu: um partido que abre as pernas e mete tudo lá para dentro.
8. Por último, gostaríamos de referir aqui a Mendes que as pessoas abortam pela mesmíssima razão com que o fazem quando impelidas para emigrar. Neste caso trata-se da emigração económica; na questão do aborto o caso é similar, com a agravante de se mitigarem aqui questões morais, religiosas, pessoais, emotivas e o mais. Tudo isto seria diferente se o País vivesse uma fase de expansão económica e de francas perspectivas de modernidade e de crescimento e também, como condição sine qua non, tivesse políticos mais responsáveis e mais competentes ao longo de todos estes anos post-integração de Portugal na União Europeia.
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