sábado

O grande Freitas

Freitas do Amaral foi entrevistado esta semanada por dona Judite de Sousa e, mais uma vez, foi igual a si próprio: um homem superiormente inteligente, estruturado, articulado, com dimensão e consciência históricas, manipulando bem os tempos da política, arguto, sincero, directo e conciso.. Nem parece que foi operado e nada lhe doía. E quando apontava para o braço ou a coluna para sinalizar as dores - parece que ninguém acreditava naquelas mazelas pós-operatórias. Mais parecia um roberto mais telecomandado numa feira de província, num teatro de 7ª categoria num club recreativo onde só já estavam alcoólicos..
Com a América de G.W.Bush já reconheceu que Condoleza Rice o enganou sonegando-lhe parte da informação, e quando somos enganados sentidos uma raiva terrível que depois se disfarça com uma falsa diplomacia, Diogo soube fazê-lo bem. Confesso que gostei de ver o prof. Diogo Freitas do Amaral on tv, ainda que na condição de político não tenha sido eficaz e consistente, e o caso dos cartunes ficarão para a história como uma das suas maiores inabilidades políticas de sempre. Nem parece que um dia foi Presidente da AG da ONU, com o apoio de Durão, note-se. Isto no tempo em que Durão barroso não era José Barroso, e ainda tinha algum capital-político que hoje desbaratou ante uma total inércia na condução dos destinos da Europa. Europa!!! Qual Europa? parece uma filial da República Imperial, um apêndice da Ásia, qual Velho Continente paralisado pelas novas guerras económicas..
Ressaltou com mestria as saídas de Winston Churchil do partido conservador, justificando com isso um paralelo partidário, ideológico e até pragmático e histórico que procurou assacar a si próprio, e, dessa forma, "matou" as críticas imberbes dos rapazes do partido do táxi liderado por PPortas que atingiram os píncaros do ridículo com a cena de retirada do retrato do Largo do Caldas. Uma acção que denota bem a personalidade mesquinha e vingativa do Paulinho das feiras que, não conseguindo gerir a inveja de Freitas do Amaral ter sido convidado para o governo socialista de José Sócrates - resolveu abrir mão da vendetta que tinha ao seu alcance: o retrato. Matar o símbolo, atingir a pessoa. Uma espécie de vuduu à la Paulinho das feiras. Uma fuga da razão, um acto falhado de Portas, mais pareceu uma briga entre marido e mulher na antecâmara do divórcio, em que ele não quer ficar com o televisor e ela não quer ficar com os talheres, e ambos querem ficar com a casa. E como não se entendem resolvem fazer a peixeirada na rua num teatro aviltante, diante de todos. Foi isso que me fez lembrar a estória do retrato manipulado pelo manipulador-mor: PPortas. Infelizmente, o país ficou a conhecer melhor PPortas, e do que ele capaz quando perde o governo para um seu ex-correlegionário e fundador de partido.
Em política externa também apreciei vê-lo reconhecer que teve razão antes do tempo em matéria de Iraque, e do diagnóstico que em 2003 desenhara quando na faculdade de Direito conferenciava ladeado por D. José Policarpo (aqui não há novidade), mas também por um brilhante economista - Anacleto Louçã do BE, ambos contra o formato da guerra dos EUA ao Iraque na sequência do 11 de Setembro de 2001. Hoje, o atoleiro do Iraque dá razão a Diogo - que se congratolou pela profecia. Mas os erros foram tantos durante a sua estadia nas Necessidades que até esse vaticínio saíu esvaziado, e por quem??? Pela srª Rice...
Malditos aviões, malditos terroristas, maldita autonomia dos tanques de combustível aviónicos que não conseguem fazer 10.000 kil. ininterruptos sem escalar em solo nacional. Porque é nessa escala que Freitas, ou melhor Durão - foram apanhados por uma Ana Gomes de mão na anca e um Carlos Coelhinho de dedo em riste -, e foi aí que se provou que os americanos não dão aftereigth aos terroristas, dão-lhes palmadas e cronhadas, e alguns deixam sangue plasmado nas janelas dos aviões, violando as convenções internacionais do direito de guerra e do direito humanitário. E que outras coisas poderiam levar os terroristas, senão cronhadas... Talvez bolo-rei e champagne Asti.. Esta Ana Gomes!! (ressabiada por não estar nas Necessidades), este Coelhinho!! (que faz o frete a fujão barroso), assim ninguém o responsabiliza por a Europa está como está: bloqueada. Derivação de atenção todos olham para o lado oposto aos problemas de durão na Europa...
Ainda que Freitas não regresse ao lugar do crime, as Necessidades, ainda que tenha sido um ministro abaixo da média e das expectativas esperadas, ainda que tivesse um chefe de gabinete que mais parecia um talhante da Infante Santo, e o substituía demasiadas vezes (que alguns embaixadores pensaram que o carneiro jacinto era o próprio MNE), ainda que cometesse múltiplos dislates com reflexos internacionais, Freitas fez uma boa entrevista. E como ainda está a convalescer e com muitas dores, e isso notou-se pela voz pontualmente embargada, até apetece dizer que ali vai Deus por obra e graça do Espírito Santo.
Mas o drama de Freitas do Amaral não é esse, o de ter sido operado com prejuízo do seu exercício de MNE, a sua tragédia é outra, bem outra: a de ter o peito e a coluna numa jaula onde se digladiam duas forças - a sua carreira de homem de Estado, que deixou memória fundacional do regime democrático e do rule of law com Sá Carneiro, e a sua consciência.
Por tudo, desejamos-lhes sinceras melhores e que nunca mais se meta com os norte-americanos, sobretudo se o seu interlocutor for negro...
Outro mal, é ter razão antes do tempo...