quinta-feira

António Vitorino estreia na tsf. O Macroscópio deixa-lhe um desafio

Nota prévia:
António Vitorino (AV) estreiou hoje na tsf, o que é uma boa notícia e uma excelente decisão. Boa notícia porque é sempre um comentário qualificado que valoriza a opinião pública em Portugal; boa decisão porque faz esquecer decisões ruinosas anteriores da estação, como as que a tsf fez de seleccionar sLopes para dizer umas banalidades, nesta óptica "a boa moeda" revoga a "má moeda", apesar de lopes ser uma péssima moeda e já não haver teoria para o cobrir. Onde é que eu já ouvi isto...
Dito isto vamos ao sumo da sua intervenção matinal de António Vitorino, essencialmente dirigida à reforma do Ensino Superior que o PM terá de desenvolver na AR antes de fechar o ano de 2006. A propósito AV evoca, e bem, o relatório da OCDE que diz muita coisa, e que nem sempre deve ser lido à letra. Mas das suas conclusões muita coisa útil se pode extrair como verdadeiras para as universidades como para os politécnicos.
E é aqui que AV formula três desejos, em jeito de balanço de ano em matéria de reforma de Ensino Superior. A saber:
1. Que este debate seja o mais alargado possível à sociedade civil (não confundir com construção civil), e não ficar encerrado nos muros da universidade, endogâmica por natura em Portugal - onde campeiam muitos medíocres, avessos à mudança e à criatividade. Pelo menos onde ensino é assim;
2. Que o sistema de governo das universidades seja efectivamente alterado, não só em nome da eficácia como também no plano da responsabilidade de quem as dirige. Aqui, lamentavelmente, acrescento eu, impera a endogamia, a pequena corrupção, o nepotismo das amizades fáceis e da crónica teia de interesses bolorentos e de reuniões à porta fechada - mitigadas até com favores sexuais - em certos casos conhecidos de toda a universidade. Isto tem de parar;
3. Que a reforma conduza a uma investigação de qualidade medida pelo impacto na economia real e na modernização efectiva do país.
É uma boa prenda de Natal de AV a Sócrates, mas, confesso, gostaria de o ouvir falar - e ele sabe que sim - sobre algo que me preocupa a mim, a ele e a milhares de outras boas pessoas, certamente, e que é o fim do exame de Filosofia do Secundário, que constituía prova de acesso a mais de 350 licenciaturas. Estou convencido que AV irá reflectir nisto e, quando lhe for oportuno, explicitará esse problema na sua análise da semana no seu Notas Soltas.
Seria igualmente outra boa prendinha, desta feita - não já para Sócrates - para a geração de massa crítica no País - que hoje anda pelo nível dos projectos-de-livros que têm sido por aí publicados, e que até já nem conseguem distrinçar as percepções das realidades... Um pouco como o D. Quixote quando avistava meretrizes da corte logo as confundia com donzelas de alta educação, ou mesmo quando confundia os moinhos-de-vento com os gigantes ou um exército em fúria..
Mais intrigante ainda em tudo isto é vermos os ex-ministros de salazar, passeando a sua surdez pelos bastidores do prós & contras, ameaçando ministros legítimos da República - de dedo em riste - só porque o Estado entendeu que a avaliação do ensino superior seria mais eficiente com a dispensa de certas corporações, ou melhor, restos do ancien régime que transitaram impunenmente para a democracia, e aí se têm alimentado à manjedoura do Estado. Ora, a avaliação do ensino superior deve acautelar outros interesses, seguir outras metodologias de avaliação, contar com sangue novo, internacionalizar-se - e não ficar prisioneira dos "papas" do costume, que até plagiam mais do que se pensa. Bastar pousar os olhos no livro de Sociologia Política de Roger Gérard Scharwtzenberg para se perceber a dimensão do plágio. Ou, como aqui também temos vindo a defender, são os efeitos perniciosos dos restolhos na sociedade portuguesa - que ali encontra os principais óbices e adversários da mudança da tal Reforma do Ensino Superior em Portugal.

Enfim, tenho esperança que António Vitorino regresse a este importante ponto. Seja no Notas Soltas, na tsf, no dn ou até mesmo por blog. Mas poderia bem ser numa conversa informal no Martinho da Arcada.. , alí mesmo ao lado de Fernando Pessoa, estou certo que a memória deste não se importaria.

PS: Já agora, tanta vez me interrogo se António Vitorino tem um blog...O Macro deseja-lhe - bem como a todos os bons comentadores, raros em Portugal, um Feliz Natal e um Bom Ano de 2007.