A personalidade do ano é bicéfala: Sócrates e Cavaco
PERSONALIDADE DO ANO SEGUNDO O MACROSCÓPIO: UMA ESCOLHA BÍCEFALA - SÓCRATES E CAVACO -
Vejamos porquê? 1. Ambos ganharam a maioria absoluta com os votos de todo o espectro partidário, coisa que as pessoas se esquecem. Socas foi eleito com os votos do centro e de boa parte da direita; Cavaco absorveu os votos tradicionalmente alinhados na esquerda Republicana e Laica, para desgoverno e irritação de Mário Soares e alguma satisfação relativa do poeta Alegre - que hoje não sabe o que fazer aos milhares de votos que granjeou. Razões mais do que suficientes para fazer deles personalidades do ano. Conquistaram as mesmas pessoas, apenas em tempos cronológicos diferentes, embora dentro do mesmo ciclo político. São o alfa e o ómega do mesmo relógio político, fazendo com que cheguem ao cais à mesma hora, quiça para o transbordo doutra caminhada, doutro mandato. Com MMendes no apeedeiro, acenando com o seu lenço branco...; 2. Têm ambos personalidades austeras, discretas e de low-profile, e utilizam a mesma estratégia com a mediacracia que, em rigor, não têm em grande conta. Ambos são pragmáticos e pouco ideológicos. Cavaco já teve carisma enquanto PM, Sócrates está a sedimentar esse íman que o maior sociólogo da modernidade - Max Weber - explicou como sendo quase um dom que magnetiza as pessoas, não se sabe bem para quê ou para onde, mas magnetiza. O que também os aproxima; 3. Encaixam nos perfis e nas maneiras de ser, tanto mais que Sócas - na intimidade das reuniões às 5ª feiras não trata Cavaco por Sr. PR, mas por Sr. Professor, partilhando com ele matérias da competência exclusiva do governo, o que cai bem a Cavaco - que assim recorda a sua função de PM - que hoje acumula com a de PR. Isto endeusa Cavaco por parte do governo (fazendo-o sentir-se locatário dos dois lugares mais importantes do aparelho de Estad), e Sócas, por seu turno, também se sente filho d' um deus maior contando com a cumplicidade estratégica e Belém. E ouvindo os dois em Belém trocando galhardetes semânticos ("só faltou dizer que se amam") - lembrei-me logo dum fórmula antiga e até algo corriqueira que exprime a configuração da relação: o rock e a amiga, onde está um, aparece o outro. É uma caricatura, é certo, mas todas elas encerram um ponto de verdade. Desde que Portugal beneficie... 4. Convergem ambos para o mesmo campo geopolítico: Espanha, Espanha, Espamha, Espanha, Espanha, Espanha. De lá, pensam, já não vem nem bom vento nem bom casamento, mas sim boas encomendas amigas da economia queo empresariado muito aprecia, o que permite exportar palmtops montados em Portugal e com software nacional. Esta aliança estratégica entre S. Bento e Belém encontra nos mercados exportadores mais pontos de contacto que faz de Espanha o mínimo ou o máximo denomidor comum entre ambos. Assim, nenhum incorre no risco de se perder no trajecto que vai de S. Bento para Belém, nem de Belém para S. Bento, e ambos sabem bem o caminho para Espanha, ainda que as portas da Europa de durão estejam fechadas. É a vantagem da tecnologia GPS. Estas quatro ideias-força fazem com que toda a oposição a esta dupla, a esta entente cordiale, a perspective como uma dupla portadora de todas as virtudes de que não gostam, e de nenhum dos vícios que admiram. Razões de sobra que legitimam a nossa escolha (bicéfala) da personalidade do ano recair em Sócrates e Cavaco. Translúcido no caso do PM, satisfeito no caso do PR. E Portugal, como se sentirá?!
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