quinta-feira

A (meretriz) da globalização, once again...

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"Joseph Stiglitz, afirmou esta terça-feira que, após vários anos de globalização, "o dinheiro flúi dos países pobres para os ricos".
A declaração foi proferida numa conferência de apresentação do seu novo livro "Globalization and Its Discontents", onde o autor se debruça sobre o fracasso do modelo neoliberal e defende que os governos devem intervir selectivamente quando os mercados não funcionam."
Em diversos países a globalização tem sido utilizada como desculpa para reduzir os salários e diminuir a protecção laboral", disse o prémio Nobel que também foi assessor de Bill Clinton.
Stiglitz criticou igualmente o Tratado de Livre Comércio da América do Norte, celebrado pelo México, Estados Unidos e Canadá, defendendo que o acordo "não é justo" e foi "desenhado para facilitar o acesso das companhias norte-americanas ao México sem reciprocidade"."Se fosse um tratado de livre comércio seriam apenas três páginas e teria eliminado as barreiras alfandegárias", afirmou o economista norte-americano.
Para Joseph Stiglitz, quase 13 anos depois de ter entrado em vigor, o Tratado de Livre Comércio ampliou o fosso entre países pobres e países ricos e não atenuou as pressões migratórias."

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Notas Macroscópicas:
Creio, contudo, que será mais útil pensar neste outro livro que deverá actualizar algumas linhas e histórias sobre o anterior. Talvez com igual imaginação, escrita acessível, visão prática, fundamento científico e académico, tudo características a que J. Stiglitz já nos habituou. Este novo book poderá oferecer um novo debate acerca das vias que podem reestruturar a globalização infeliz em que caímos, com os países pobres a ficarem cada vez mais pobres e os países ricos a enriquecerem cada vez mais. Em resultado de quê? se não de políticas públicas erradas, que o autor também critica no livro anterior.
Este Making Globalization Work é capaz de nos dar o refresco intelectual que precisamos, ainda que a tónica seja sempre a mesma: mexer no sistema financeiro global, nas condições de acesso ao comércio internacional (leia-se fair trade), abertura de mercados (com gradualismo e pouco neoliberalismo que só estraga...), políticas ambientais entre outras políticas e reformas que o autor já propôs no livro anterior.
Mas o que me apraz registar e sublinhar neste autor é a sua sempre sensibilidade social e moral para os problemas dos mais desfavorecidos, o que revela ser um homem comprometido com o seu tempo e, por certo, também fará dele um melhor cientista social capaz de perceber os problemas com maior profundidade e acutilância. Serão, em princípio, esses desígnios, dado que ainda não lemos o book, que farão desse documento mais um auxiliar útil ao processo de decisão global para transformar a globalização em algo de bom e útil - mas não é só para alguns, mas sim para o maior número.
Mas há sempre um but... E é nessa folga que aqui aduzimos uma crítica que creio ser legítima ao autor e que é, de resto, ventilada por outros economistas e cientistas sociais - aos quais aqui modestamente me associo, embora reconhecendo o alto valor intelectual e analítico de Stiglitz que muito respeito.
Até pela coragem e rebeldia que assumiu em todos os seus actos e comportamentos que o levaram a bater com a porta relativamente às chamadas três gémeas da desgraça: a OMC, o FMI e do BM. Depois foi despedido, mas primeiro desabafou e disse ao mundo o que eram as pulhices das políticas macroeconómicas (neoliberais) do FMI junto dos países africanos, asiáticos e sul-americanos que pediam ajudam junto dessas instituições da globalidade e que, em boa media, comandam o sistema económico e financeiro à escala global.
Tal crítica decorre do seguinte: considera-se que é a própria globalização financeira que proporciona aos países mais pobres tornarem-se ricos. Dado que é essa economia de escala que lhes permite aceder ao mercado global e obter a informação e transacionar os produtos que nos sécs. XIX e XX - ficavam fechados em mercados regionais ou mesmo nacionais. Nesta linha, a globalização financeira - que Stiglitz critica - acaba por ser um instrumento preventivo para crises económicas, operando como alarme e ajudando os agentes sociais e económicos a atalharem caminho e a terem mais cuidado na formulação das suas políticas públicas e que opções tomar num dado contexto socioeconómico e cultural.
Dito isto, será a própria globalização económica o elemento coadjuvante para a integração mais eficaz dos pequenos mercados e das pequenas e mais pobres economias - dos países do Sul, embora tudo isto seja, evidentemente, relativo e até algo impreciso. Mas fica a nota de crítica que, em parte, colhe algum fundamento.
Até porque nunca podemos esquecer-nos de que quando um cliente norte-americano encomenda um carro de marca Mercedes fabricado na Alemanha e não um Cadillac fabricado nos EUA está - por um lado - a tirar partido da tal globalização e, por outro, a contribuir para a riqueza, modernização e desenvolvimento de um país da Europa - que já é, de per si, dos mais ricos do mundo.
Seria, pois, vantagoso que este critério se pudesse aplicar aos inúmeros produtos agrícolas produzidos pelos países do Sul - que depois sentem imensas dificuldades em os escoar juntos dos mercados do Norte e das generalidade das economias ricas - que põem "n" entraves ao comércio internacional e a que as reuniões da OMC não conseguiram harmonizar. Daí ter emergido a reacção e a revolta de Seattle em 1999 como movimento anti-globalização - que pôs a ferro e fogo o mundo, a OMC e a economia mundial. A mesma que hoje precisa de ir ao mecânico e fazer as devidas reparações.
Veremos se há peças para ela e depois a traquitana funcional... Veremos!!!