A megalomania e o narcisismo do quarteto da desgraça
Por mais teoria e factualidade política que se debite à propos das condições que prepararam e executaram a guerra ao Iraque só se pode, com bom senso, chegar a uma conclusão: a megalomania e narcisimo destes quatro cáfilas fizeram a insegurança internacional (com a consequente crise económica) em que hoje o mundo vegeta. Vivemos hoje todos de forma mais insegura, temos todos mais medo e vivemos também com menos investimentos e somos mais pobres.
Na sequência dos bárbaros ataques do 11 de Setembro de 2001 - em que a América perdeu o mito da invencibilidade no seu próprio coração comercial, económico, político e simbólico - além das cerca de 4000 pessoas inocentes que então sucumbiram naqueles escombros, os EUA resolveram invadir o Afeganistão e o Iraque. Num caso porque se tratava de um Estado-santuário do terrorismo que directamente fomentava o treino e as acções terroristas para aniquilar a América e o Ocidente, além de ser para lá - nas montanhas do Afeganistão - que o terrorista-mor, Bin Ladden - líder da Al Qaeda - se escondera; noutro caso porque se suspeitava que Saddam tinha estreitas ligações a essa rede de redes - a Al Qaeda - e albergava no seu país armas nucleares, químicas e bactereológicas que poderíam representar um perigo maior para a Humanidade. O idiota da Casa Branca misturou as coisas, e agiu a quente confundindo alhos com bugalhos. Parece que já é habitual.
Para esbater essas dúvidas a ONU de Kofi Annan (que cedo percebera as motivações belicosas e vingativas do idiota locatário da Sala Oval, que queria vingar o pai) mandou instaurar um sério inquérito levado a cabo pela Agência Internacional de Energia Atómica (dirigida pelo Sr. ElBaradei/Link), que até foi Prémio Nobel da Paz em 2005. Deslocada ao terreno com técnicos especializados, e depois do jogo do gato e do rato entre saddam e bush, concluiu não existirem aquelas armas que Washington DC tanto desejaria que existissem a fim de legitimar políticamente a intervenção no Iraque e destruir o regime iraquiano e matar Saddam. Tudo, claro está, à margem da ONU, do CS (que mereceu a oposição da China, França e Rússia) e à revelia do proclamado Direito Internacional Público - que não passa duma treta que se aprende nos bancos das faculdades mas que na vida real só serve para limpar o rabo, e é depois de se lhe tirar a goma... Em vez de se acabar com a Filosofia no Secundário melhor seria extinguir esta cadeira, por ausência de aplicação e sucessivo desrespeito.
A par disso, o então secretário de Estado Collin Powell - homem inteligente, credível e moderado - reconheceu que as conclusões manhosas a que a CIA chegou para agradar ao idiota da Sala Oval, além de não colherem fundamento nos factos - eram motivo de chacota na cena internacional, e não foram poucos os cartoons, os outdoors, os mails e demais material virtual que inundou o ciber-espaço denunciando esse ridículo tão doentio quanto estúpido que só existia na cabeça dum homem tão doente quanto saddam, com a diferença de que apenas liderava a maior potência do mundo e é uma democracia: a América. O resultado disto conduziu a um gradual afastamento de Collin Powell - que cedo percebera a natureza "fascista" dos profetas neocons que tomaram conta da Casa Branca. O resultado só poderia concluir pelo seu afastamento, o que sucedeu quando o 2º mandato, infelizmente, deu nova maioria ao alcoólico da Sala Oval, em detrimento do candidato Democrata, John Kerry. Em seu lugar, uma académica, Condoleza Rice, assumiu a pasta. A mesma que iludiu Freitas do Amaral no caso dos vôos da Cia que servem hoje de gincana política entre a Europa de fujão Barroso (que assim distrai o mundo ante a sua incompetência e inércia) e alguns governos europeus.
Hoje, diante todos estes factos manhosos, e apesar da invasão do Iraque pela América de G.W. Bush, o Iraque está imerso numa guerra civil, os soldados norte-americanos morrem que nem tordos (como refere o Jumento naquele seu lúcido editorial (Link), a paz na região está ameaçada, o conflito israelo-árabe é um poço de conflitualidade (agravada desde a morte de Arafat), o petróleo beneficia e enriquece sempre os mesmos tiranos árabes (amigos da família Bush), a insegurança no mundo cresceu exponencialmente, e, ridículo dos ridículos, a cabeça da hidra - Bin Ladden - continua a andar por aí de satélite na mão, dando conferências de imprensa que depois envia em cassetes para serem lidas pela cadeia de tv Al Jazira - como se dum puzzle se tratasse a entreter o mundo.
Apesar de todo este dantesco cenário a que é que o mundo assiste? À setença do enforcamento de Saddam para daqui a um mês... Brilhante!!. É evidente que nada desculpará os crimes bárbaros cometidos por este energúmeno da história, mas, noutro plano, porque em contexto democrático, G.W.Bush, durão barroso, Tony Blair e o inepto Aznar - foram também corresponsáveis de tudo aquilo que se precipitou depois.
E tal deve-se, numa palavra, a um sentimento comum que toca aqueles quatro amadores da política que mancharam a transição do século e a entrada da Humanidade no III milénio. O orgulho egoísta, a ambição desmesurada, a ganância, a gula pelo poder, a soberba, aquilo que os psicanalistas definem como um padrão de vida narcísica. Vejamos: Bush vivia obcecado com o 2º mandato; durão barroso é um aborto político de Bush recuperado in extremis na Cimeira dos Azores - atormentado com uma carreira na Europa; Blair fez o papel de idiota útil (como diria Lenine, qual espécie de lacaio de luxo da Sala Oval que tudo faz para agradar a Washington); e Aznar é tão estúpido que a 1ª coisa que pensou - post-factum - aquando do atentado de Madrid de 2003 - foi imputar o acto terrorista que fez 200 mortos à ETA, que o fez perder as eleições para o socialista Zapatero. Todos eles foram atravessados por esse egoísmo e perfídia comum. Todos eles estão hoje em quebra acentuada de popularidade e a um passo de irem parar ao olho da rua do poder - que jamais devriam ter assumido.
É gente que se adora a si mesmo, ama o seu reflexo mas depois vive rodeado de suspeitas sobre si mesmo. No fundo, o mundo está hoje mais inseguro, pobre e perigoso, não apenas porque as forças do mal nos atingiram a todos, mas também porque a megalomania daquele execrável quarteto viu nas acções que empreendeu a única forma de sanidade mental do mundo esquizofrénico que acabou por gerar.
E tudo para quê??? senão para que a América de Bush planeie e programe a retirada deste novo Vietnam. Afinal, quem deveria ser julgado: Saddam, ou, também, aquele quarteto da desgraça?
- PS: agradeço ao Jumento aquela sua realista reflexão sobre o Iraque, postada infra. Se não fosse esse texto jamais teria feito esta análise. Em seu lugar estava a pensar falar no menino Jesus, no sentido da vida, na recriação do novo tempo e o mais próprio da época. Mas logo os factos me empurraram para dissertar sobre os actuais pulhas da história que operam em contexto democrático. A estes o sentido da História também os julgará. Soon, quite soon..
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