quinta-feira

Fomento à família. Ir ao bowling para jogar sózinho

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A notícia d'ontem oriunda da Alemanha acerca das medidas de apoio à família dão que pensar, até numa perspectica comparada. Vinte e cinco mil euros é quanto o Estado alemão concede a cada família que tenha um filho a partir de jan. de 2007, se julgo ter percebi bem.
Num mundo inteiro a família entrou em crise, a ordem decrescente dos seus membros é ruinosa para todas as indústrias (alimentar e de lacticínios, vestuário, serviços vários) que acabam por ter um impacto socioeconómico negativo. Na origem deste colapso estão os divórcios e separações, o desemprego, a falta de dinheiro, a falta de auto-estima e o mais.
As famílias, à semelhança das outras organizações, estão a atravessar o seu momento de crise. Especialmente pela falta de tempo, espaço e estrutura. Ou seja, muitas crianças crescem hoje com vários pais e várias mães, algumas meias-irmãs, com a qual nem sequer se dá. Com relações plurilocalizadas na outra ponta do mundo. Depois crescem, e já não trabalham para um só patrão, numa só empresa, não se fidelizam a nada, as lealdades são sempre múltiplas.
Tudo isso revela que o conceito de família tradicional que não passa duma memória, duma heresia do tempo. E até parece, heresia das heresias, que as pessoas mais empenhadas na instituição do casamento são precisamente os homosexuais, pasme-se! Copiando a forma de vida dos heterosexuais. Agora vem os bónus à natalidade. Na Alemanha, na França - que sempre endeusou a família, prática que remonta ao Código Napoleónico de 1804 - em que se defendia que a família ultrapassa a lógica económica.
A conclusão aparente a que se chega é aquilo que se vê: a fragmentação, o individualismo, o isolamento.. São estas as novas realidades sociológicas. É como admitir conhecer muita gente, ainda assim as pessoas sentem-se sós. É o fenómeno da multidão solitária que H. Marcuse e David Riesman falavam na década de 70. As pessoas hoje estão sózinhas numa saleta apinhada de gente, é triste reconhecer isto. Mas não o fazer é assobiar ao coxixo, como diria o outro. Temos muitas redes, mas estamos famintos de sentido de comunidade. Mais do que a rede, fomos apanhados na teia.
E a teia é, segundo a expressão feliz de Robert Putnman, Bowling Alone, quando descobriu na década de 80/90 - que as pessoas nos EUA iam jogar bowling sózinhas auamentaram cerca de 10%. Enquanto que o número de pessoas a jogar bowling em equipas federadas diminuiu cerca de 40%. Números que nos deixam a pensar. E nós até já imaginamos o que muita mulher portuguesa pensaria fazer se o Estado Português se comportasse como a Alemanha. Muitas delas pediam aos maridos, amigos, namorados que fossem com elas jogar - não bowling - mas ao bilharau...