Evocação do génio - Guilherme Shakespeare...
.. quem melhor compreendeu a alma (e o comportamento) humanos senão W.S. Hoje parece que um ex-político da nossa praça lançou um manual de auto-justificação que mais procura ser um manual de sobrevivência política. É o que faz o desespero: uns suicidam-se; outros editam livros, dona zita apoia.
Mas o tema desta lenga-lenga é outro, e não queríamos aqui desfeitear o génio dos génios: o nosso amigo Guilherme. Evocá-lo é também falar dos limites da interpretação. Ou seja, ao ler um texto, ao ouvir um político que edita um cardápio e mostra os dentes (quando, na realidade, já está desdentado), um académico, um player qualquer com responsabilidades sociais, não deixamos de tentar o que está para lá do que aquilo que ele verdadeiramente diz. Corporizamos esta intenção retomando a loucura do génio:
- O que te recorda esse peixe? - Outros peixes. - E o que te recordam os outros peixes? - Outros peixes.
(J. Heller, Catch 22, XXVII)
Vamos agora ao que mais interessa, à cereja no bolo:
- Hamlet - Vês aquela nuvem que tem quase a forma de um camelo? - Polónio - Santo Deus, parece mesmo um caamelo! - Hamlet - Acho que parece uma doninha. - Polónio - Tem o dorso de uma doninha. - Hamlet - Ou uma baleia? - Polónio - É mesmo uma baleia.
(Hamlet, III, 2)
- Agora vem o porquê desta evocação ao génio W. Shakespeare tomando por referência aquelas duas passagens. A primeira oferece pouco interesse à interpretação, é portadora de pouca curiosidade (peixes só no prato...). Mas a segunda - já reflecte mais o nosso mundinho (da política, dos negócios, enfim, das nossas vidinhas). São passagens que espelham na perfeição o facies da política moderna - tal como ela é hoje desenvolvida, i.é, seguidista, obediente, canina, enfeudada, mas também rebelde e vingativa - sem estrutura e sem espinha.
Enfim, a política que hoje predomina em Portugal é uma política canina, e uma política assim jamais poderá ter carácter nem produzir resultados sociais sustentáveis e portadores de futuro.
- Mas a vida é mesmo assim. Contudo, suspeito que tanto Hamlet como Polónio tinham razão. Mas se a tiverem, só o saberemos se voltássemos a ver aquela nuvem... Por isso dedicamos esta prosa ao génio dos génios: a W. Shakespeare - que nos ajudou a distrinçar as percepções da realidade... Para (também nós) nunca cairmos no ridículo (dentro e fora do círculo do poder)..
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