segunda-feira

Um Portugal dois retratos - a azul e preto no mercado da C& T

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  • Nota prévia:
Se a reflexão estratégica deve preceder a acção, também a deve conduzir a ela. Eis a lógica que comanda todos os sistemas de planeamento das organizações. Aqui temos duas visões: uma comandada por Belém e que é portadora de esperança e pujança económico-empresarial com nomes sonantes da economia mundial deixando um eco positivo pelas expectativas e pelas eventuais parcerias e mercados que pode gerar; a outra é oriunda da sociedade civil e defronta-se com imensas dificuldades para se integrar no mercado de trabalho, designadamente no chamado trabalho científico. Se o diagnóstico está certo - e é bom e promissor num caso e mau e pesimista noutro - esperemos que as prescrições evitem a ratoeira das conclusões traduzidas com demasiada rapidez.
É aqui que a chamada análise estratégica - dado que estamos num cruzamento marcado pelo jogo da economia, dos mercados, dos Estados, das pessoas e das competências, em suma pelo futuro de Portugal - recomenda "casar" as duas abordagens de prospectiva e de planeamento de molde a que a reflexão possa desembocar na acção.
Mas o que é mais curioso (e desafiante) são estas duas faces da mesma moeda chamada Portugal: num caso oferecendo um cenário de referência positivo e promissor; noutro um cenário pessimista e "emigrante", dado que aqui não existem condições de vida dignas para as pessoas trabalharem e criarem raízes.
Será que Belém sabe disto? Nós que não somos egoístas e estamos comprometidos com o futuro faremos os possíveis para que saiba...

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PORTUGAL BLACK & BLUE
A Presidência da República faz questão de negar qualquer ligação entre a iniciativa apadrinhada pelo Chefe do Estado, e que toca numa área de intervenção do Executivo, e a reunião magna dos socialistas. Coincidência ou não, a verdade é que a intervenção de Cavaco Silva no encontro de empresários, que se deverá realizar na Quinta da Penha Longa, concorrerá com a de José Sócrates em Santarém, onde decorrerá o congresso socialista nos dias 1o, 11 e 12 de Novembro.
A história do Conselho para a Globalização data de Maio. No terceiro Encontro Nacional de Inovação Cotec - Associação Empresarial para a Inovação (luso-espanhola), Cavaco Silva propôs a criação do conselho e disse estar disponível para dar o seu patrocínio à instituição. Segundo a proposta, o conselho seria constituído por personalidades e líderes empresariais nacionais e estrangeiros com conhecimento e experiência da economia global.
O objectivo enunciado pelo Presidente era o de contribuir para a compreensão e divulgação do fenómeno da globalização e as suas implicações, criar na sociedade o sentido de urgência para as mudanças no mundo globalizado e criar e estreitar laços entre líderes de empresas nacionais e internacionais "com ambição de vencer e dar mais visibilidade económica a Portugal".
Artur Santos Silva, que substituiu Murteira Nabo na presidência da Cotec, ficou incumbido desde Maio de dar forma ao Conselho para a Globalização. "E desde essa altura que a Cotec tem trabalhado nesse sentido", garante Belém.
Na ligação com a Presidência estão Diogo de Vasconcelos e Alexandre Relvas, director de campanha de Cavaco e uma das principais figuras do Compromisso Portugal. Organização que se reuniu em Setembro último, no Convento do Beato, e apresentou um conjunto de propostas para dinamização da economia portuguesa, algumas divergentes das do Governo de José Sócrates. Entre elas, as mais polémicas foram as da redução do número de trabalhadores da função pública em pelo menos 200 mil pessoas em cinco anos e a reforma do sistema de Segurança Social para um modelo misto com uma componente de capitalização bolsista.
No que toca às PME, a base da economia portuguesa, o discurso é mais consensual entre o Governo, a Presidência e os patrocinadores do Compromisso Portugal. Todos defendem que a internacionalização das empresas portuguesas depende da inovação e da aposta nas novas tecnologias. Este foi, aliás, um dos motes da recente viagem de Estado de Cavaco Silva a Espanha. O Presidente convidou para a sua comitiva um leque de empresários ligados a empresas que apostam na vanguarda das tecnologias e actuam em sectores inovadores.

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"Este falhanço, sublinham os dirigentes da ABIC, é a imagem do desinteresse e da falta de investimento das empresas portuguesas em recursos humanos qualificados, nomeadamente para o desenvolvimento de actividades de investigação e desenvolvimento (I&D). E este também é um dos bloqueios ao emprego científico (e ao desenvolvimento económico do País) há muito identificados por todos.
"O Estado tem por missão apoiar a formação avançada de recursos humanos, como está a fazer, e não pode ser o único empregador", sublinha a este propósito o presidente da FCT, João Sentieiro, notando que "o crescimento do emprego científico depende também do crescimento do próprio País".
Apesar do sinal desencorajador que a falta de comparência das empresas na iniciativa da ABIC constitui, a leitura do ministro da Ciência sobre esta realidade é optimista: "Há algo que está a mudar aí", garante. E refere como indicador positivo a adesão de duas dezenas de empresas portuguesas em vários sectores da indústria aos programas no âmbito dos acordos com o MIT e Carnegie Mellon - que lhes exige a duplicação de actividades de I&D, o aumento de registo de patentes e de contratação de um determinado número de doutorados.
Outro sinal idêntico, para Mariano Gago, é o aumento do número de pequenas empresas de base tecnológica lançadas em Portugal por jovens cientistas, nos últimos anos, à semelhança do que aconteceu com Manuel Rodrigues (ver depoimento). Mas, como diz o próprio Manuel Rodrigues, esta não pode ser a solução para todos e para quem, aos 30 e tal anos, continua a somar bolsas de pós-doc, ou outras situações precárias, porque não têm outra saída, esta acaba por ser uma situação frustrante.
"Houve um grande esforço na formação avançada de recursos humanos, mas com o bloqueio do sistema científico, muitos destes jovens não têm perspectivas para além da renovação de bolsas", diz Margarida Fontes, investigadora no INETI, que tem estudado esta questão.
Margarida Fontes apresenta hoje, em Braga, um estudo preliminar sobre jovens doutorados portugueses que saíram do País (ou não regressaram) porque não encontraram aqui as condições necessárias para trabalhar em ciência.
"Não há números globais sobre esta questão e é pena, porque eles poderiam ajudar a conhecer a realidade e a perceber, por exemplo, se está a haver fuga de cérebros, como parece, e a orientar as políticas na ciência", nota.João Sentieiro admite que esses estudos são importantes e diz que a FCT vai passar a fazê-los.

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