Ganchos, tachos e biscates de José Machado Pais -
Ganchos, Tachos e Biscates. Jovens, Trabalho e FuturoÉ uma investigação sobre jovens, suas trajectórias de vida e horizontes de futuro. Particular destaque é dado à precariedade de emprego e às formas múltiplas de ‘derenrascanço’ correntemente apelidadas de ganchos, tachos e biscates: trabalhos precários, “expedientes”, formas inventivas de ganhar dinheiro nos limites do legal e do ilegal, do legítimo e do ilegítimo, do formal e do informal. Mas é também uma pesquisa sobre as suas inquietudes da vida, seus tempos de incerteza, tensões que emergem quando o presente se confonta com o futuro, em situações de impasse e de ameaças de desemprego, ainda que as estatísticas o ocultem. Este é um livro de fronteira extremamente oportuno, apesar de já ter sido editado há três anos, merecendo até o Prémio Gulbenkian de Ciência 2003. Tenho o privilégio de ser amigo pessoal do seu autor e de conhecer estas Obras pela mão do próprio - o que me dá, confesso, um gozo intelectual acrescido. Mas isto pouco importa diante a valia intelectual e do potencial epistemológico das suas Obras, que já são mais de dez editadas em Portugal. Mas este é importante porque nos tráz um novo olhar sobre aquilo que já sabíamos existir: o trabalho (precário) - que o autor associa a uma lotaria; ao mistério do jovens desaparecidos nas teias das estatísticas do desemprego; a formação profissional; os labirintos e as trajectórias ioiô de par com um conjunto de vidas originais que passam pela distribuição de pizas, a vida de disc jockey, à mendicidade dos carrinhos do supermercado, às jovens acompanhantes e aquilo que o autor designa com propriedade - puta de vida que me faz puta; e, como não poderia deixar de ser - aos tachos na política. E destes os visados excusam-se a falar porque temem ver descobertas os cozinhados dos seus tachos, os arranjos culinários e condimentícios que os levaram aos sítios que ocupam, além de que o segredo é sempre o sucesso dum bom tacho. Aqui, não pude deixar de lembrar de durão, o zé barroso - também cognomidao pelo transmontano de Bruxelas, ou, simplesmente, o fujão... E foi aqui que lembrei automáticamente da dupla Zandinga & Gabriel Alves (leia-se Durão e santana) na política à portuguesa que não têm feito mais nada senão isso mesmo: arranjar tachos sem nenhuma contrapartida para a nação. Pergunto-me tantas vezes se um qualquer desses figurantes da política à portuguesa caísse no mercado de trabalho - com as qualificações que têm - quem é que lhes daria emprego??!!! Exceptuando, a EDP (cujo presidente oferece tachos aos amigos da política caídos em desgraça, como é o notório caso de Slopes) mais ninguém, talvez por isso é que foram para a política. Ora, é esta instabilidade do trabalho precário que leva muitas dessas pessoas a deitarem mão de estratégias cuja singularidade abala os modos tradicionais de entrada na vida activa, como refere o autor. Ganchos, tachos e biscates é uma Obra de leitura recomendável, não apenas por ser bem escrita e espelhar uma realidade que merece ser estudada, aprofundada e - públicamente - combatida (pelo Estado, sociedade civil, empresariado, etc..) - mas também porque nos ajuda a aperceber porque é que muita gente salta para a política - ante as incertezas e a instabilidade nos mercados de trabalho tradicionais. É que na política, ao menos, tipos como santana e durão, que se procuram fazer passar por homens de Estado e, na realidade, não passam de figurantes dum palco cuja peça já foi vista milhões de vezes, sofrem menos a instabilidade do chamado turbo-capitalismo (flexível) que além de ter bloqueado a racionalidade e linearidade das carreiras profisisonais - também bloqueou a economia mundial (e, dentro daquela, a economia portuguesa em particular). Mesmo que o autor tenha feito este livro a pensar nos jovens, fácilmente se percebe que este livro pode muito bem ter aqueles políticos como maus exemplos (a exigir estudo), de modo a compreender-se o mundo de máscaras em que vegetamos. Um livro, portanto a não perder de vista. Um livro de José Machado Pais.
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