Paul Castellano - um caso a reter - na história da máfia. Uma lição de (ciência) Política
A política está hoje cada vez mais ligada a duas ordens de factores: a corrupção e a incompetência. O aumento da incompetência leva, tendencialmente, esses agentes políticos (impreparados e sem projecto social) à busca do poder, seu reforço, o que se consegue "comprando poder", corrompendo A, B, C, D, E até esgotar o alfabeto e vira o disco e toca o mesmo. É assim na administração central mas também, por maioria de razão, ao nível micro das autarquias - em que se conhecem melhor as pessoas, lida-se de forma mais íntima com as suas fraquezas, desejos e debilidades: qualquer vereador de palmo e meio corrompe gente pobre que quer uma casa, um esgoto em condições, transportes perto de casa, segurança, escolas, saúde, etc. Ora o que se verifica em Lisboa é que muitos desses presidentes de secção que depois viram vereadores de coisa nenhuma - nada mais fazem do que assegurar o capital político dessas pessoas pobres e desprotegidas que assim são arregimentadas e instrumentalizadas para votarem nas listas que esses mesmos energúmenos de secção encabeçam. A isto poderemos chamar o efeito dinamite, que adiante explicitaremos. Infelizmente, é assim que se faz política em muitos locais de Lisboa: promete-se, corrompe-se, compram-se consciências e votos e assim os presidentes de secção lá vão a vereadores sociais, da educação das autarquias passando por gente importante e impoluta. Ora não são nem uma coisa nem outra. É gente sem cérebro, gente sem escrúpulos, gente desclassificada, capaz de tudo para obter um desses lugares de palmo e meio, como ser vereador-fantoche. Em breve apresentaremos aqui um estudo-de-caso com um desses nomes em concreto. Do PsD claro. É óbvio que isto dá um carácter negativo e doentio à política, confundindo-a com patologias graves que fronteiram na própria mafia. Vejamos aqui o exemplo do Paul Castellano que na década de 60 se tornou num dos mais importantes mafiosos nos EUA pelo facto de quando foi interrogado em tribunal não ter denunciado ou implicado "ninguém" da mafia. Assim ganhou prestígio e respeito entre os "seus pares", alargou contactos com a Família Gambino - de modo a que as suas empresas de carnes se tornassem ainda mais famosas e mais vendáveis. Um pouco como esses politiqueiros que compram cada vez mais votos e alargam assim o seu território eleitoral pelos bairros pobres de Lisboa (e arredores), comprando consciências, manipulando vontades, contando cabeças. Veja-se os truques que Castellano usava para fazer passar carne imprópria por carne fresca. Por analogia ao que hoje se passa em certas autarquias deste pobre Portugal. Vejamos o que Paul Castellano fazia para garantir esse negócio:
Conhecia o chamado processo de "branqueamento", em que a carne estragada é dessangrada de todos os líquidos fétidos, depois mergulhada num pó branco, conhecido por "dinamite", que a conserva e torna novamente vermelha e com bom aspecto. Castellano compreendeu o valor do formaldeído para mascarar o fedor da decomposição. Era exímio no uso de carimbos falsos do departamento da Agricultura para colocar nas carcaças uma data de expiração fraudulenta. Sabia que essa carne de vaca nem sempre vem de vacas e que carne de porco não tinha necessáriamente de ter pertencido a um suíno. O resto da história é contada em Joseph O´Brien, Boss of Bosses, The Fall of the Godfather, Simon & Schuster, 1991.A política local é, hoje, lamentavelmente seguidora destes processos de dinamite, em que os seus agentes branqueiam as decisões, observam a lei da omerta (pelo silêncio e encobrindo-se uns aos outros), governando-se mais a eles próprios do que as comunidades que era suposto servir. Esta gente menor dos partidos ataca em matilha, mal sabe ler, mas aponta sempre o dedo em riste, endogamizam-se entre si, cooptam-se. Hoje quem quiser estudar a Política tem primeiro de começar não pelo estudo das suas ideias e instituições, mas pelo terreno mais minado, pelo carácter subterrâneo dos processos decisórios, compreendendo as conexões que se estabelecem nos insterstícios dos micro-poderes e da cadeia de interdependências que aí afloram. Quem não perceber isto é melhor estar quieto e mudar de ramo, quem sabe - não acaba como presidente de secção duma jotinha partidária e depois acabar a vidinha como vereador duma autarquia perto de si... Hoje a política lusa está sofrendo um processo de "mafiosização" progressivo que se tem espalhado como um cancro por algumas instituições, organismos e pessoas que já vai fazendo uma considerável carreira doméstica e internacional à sombra desta rede. Tão considerável que quando os Relatórios internacionais avaliam à escala europeia (e mundial) a hierarquia da corrupção Portugal já se perfila lum lugar muito lamentável.
Dedicado a Sudjanski que foi agora para Katmandu à procura de falcões com pedigree e recuperar monumentos estragados pelos terramotos do Nepal.
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