O carácter de Luís Amado
Susete Francisco (in DN)
O ministro dos Negócios Estrangeiros, Luís Amado, admite que os voos que passaram por Portugal, referenciados como sendo da CIA, sejam mesmo da secreta norte-americana: "Falou em informações sobre 130 voos da CIA que passaram por Portugal. Eu até admito que grande parte fosse voos da CIA, mas não temos provas", disse Luís Amado numa resposta ao deputado Fernando Rosas, do Bloco de Esquerda.
(...)
Mas disse também não ter recebido ainda qualquer carta de Carlos Coelho, a propósito da anunciada vinda de representantes da comissão a Portugal. Neste ponto, acabou por ser Osvaldo Castro, que preside à Comissão de Assuntos Constitucionais, a lançar um dado diferente para a mesa, questionando "se alguns países da Europa ocidental e de leste não estão a tentar sacudir a água do capote e a tentar fazer submergir Portugal" - uma referência para países como a Polónia ou Roménia, sobre os quais já foram apontadas suspeitas de terem prisões clandestinas da CIA. "Não haverá eurodeputados a ser instrumentalizados?", perguntou Osvaldo, no que viria a ser secundado por Henrique de Freitas (PSD): "Temos um conjunto de países que poderão estar a tentar empurrar Portugal para circunstâncias que não estão contempladas em nenhum relatório."
[O sublinhado é nosso].
Notas Macroscópicas
É curioso notar como um deputado do PS (Osvaldo Castro) e outro do PSD (H. de Fretas) se põem de acordo quanto à irrelevância estratégica de Portugal no xadrez EUA, terrorismo, contexto internacional. Cremos que Portugal é pequeno demais para ver o seu nome associado a uma questão que tem vindo a ser inflacionada precisamente por aqueles que - directamente ou indirectamente - mormente por relações de amizade (e cumplicidade) política procuram inflacionar o papel de Portugal como alegado colaborante das práticas ilícitas de que a República Imperial vem sendo acusada. Aqui o sr. carlos Coelhos terá de parar para pensar e olhar-se ao espelho e perceber que por trás dele estão milhares de anos de história, de teoria e que o seu magro contributo para este número de circo luso-bruxelense com escala nos Açores e muito sangue no Iraque - só denuncia uma coisa: o pagamento em conta que ele faz ao seu amigo durão Barroso, o transmontano de Bruxelas, por este o ter incluido nas listas ao Parlamento Europeu. De resto, a memória que fica do sr. Coelho é aquele deputado português mui zelosinho, atinadinho, certinho e fiel ao dono, aos donos, obediente, ainda por formar e que tem feito desses expedientes todos um modus de vida que no seu caso tem funcionado. Mas é um triste exemplo de carreirismo político que, infelizmente, tem contagiado muita gente sem escrúpulos que têm demandado às jotinhas partidárias para aí fazerem carreira e seguir os passos - imagine-se de quem?! do sr. Coelho. Passos, curtos, portanto. Falando agora de coisas mais sérias, este episódio que, em rigor, deveria ser explicitado por Freitas do Amaral e o sr. Durão Barroso - que até poderia reportar directamente dos Açores, remete-nos para dois fenómenos relacionados entre si:
Ora, num estado autocrático, o segredo de Estado não é a excepção, é a regra, v.q, as grandes decisões políticas devem ser tomadas ao abrigo dos olhares indiscretos de todo o público, que também não percebe peva da filigrana da alta política porque as paixões os invadem privando-os de toda e qualquer ideia racional. Portanto, aplica-se aqui a máxima de que onde o poder supremo é oculto tende a ser oculto também o contrapoder (sr. Coelho, durão e compª.) Quanto a nós, Luís Amado esteve bem, salvo no ponto em que afirmou demitir-se caso se prove uma conivência nacional com o alegado terrorismo de Estado (aéreo) dos EUA em espaço aéreo de soberania portuguesa. Aqui Luís Amado deve ter sido acometido dum lapso: o que ele pretendia dizer era que caso se prove essa conivência quem se deveria demitir seria o sr. "fujão" Barroso de bRuxelas. Enviando-se, de regresso, uma coroa de cravos secos a Freitas na Quinta da Marinha com um cartão da Guia dizendo: afinal, onde te meteste este tempo todo!??... pois deve ter sido a convalescença mais longa da vida de um político que um dia queria ser PR.O fenómeno do poder oculto ou, ou o que se oculta e o fenómeno do poder que oculta, i.é, que se esconde, escondendo. Aquele inclui o tema clássico do segredo de Estado; este, envolve o tema igualmente clássico da mentira lícita e útil, ou seja, lícita porque útil da razão de Estado, que remonta ao velho homem de ombros largos que foi Platão, o grande biografo de Sócrates, o de Atenas.
<< Home