quarta-feira

CIA, Durão, vôos charters & Company

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Todos nós sabemos como se faz uma política externa ou o que ela vale em termos de aliança no quadro das relações internacionais contemporâneas. Há 20 anos ouvia Durão Barroso falar nisso numa universidade privada, repositório dos ex-salazaristas, era além de fastidioso um tédio desnecessário. Consabidamente, os amigos d'hoje são os inimigos de amanhã, dizia um desses docentes de cigarro na mão, mas a fórmula vinha de trás, remontava a Talleyrand, Maquiavel - que dizia que os Estados fortes têm de ter boas leis e boas armas, assim se farão respeitar. Portanto, há que ter muitas cautelas com os amigos, eles poderão rápidamente trair-nos e passar-se para o lado dos adversários, já que em democracia não há inimigos.
Foi essa traição execrável que Durão fez a Portugal, e que será julgado pela história como uma página negra da nossa história política contemporânea; foi nessa armadilha para ursos conformistas (nome dum interessante blog) em que Freitas do Amaral caíu, aliás, estamos mesmo convencidos que a descalcificação das suas vertebras começaram a fraquejar a partir daí: enquanto Freitas oferecia o seu manual de Direito Administrativo à srª Rice, esta, por seu turno, e em representação da República Imperial (como Aron designara os EUA), mentia-lhe para prosseguir uma política anti-terrorista na sequência do 11 de Setembro e da invasão da guerra do Iraque que só veio precipitar as coisas em matéria de (in)segurança mundial.

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Hoje todos os papéis neste filme negro estão trocados: Durão deveria estar à frente do governo português, foi um cobarde e pirou-se para a Europa (ante disso Guterres, com menor gravidade, tinha feito o mesmo mostrando que as legislaturas já não são de 4 mas de 2 anos); Freitas deixou-se enredar e foi operado às costelas e nunca mais quis sair da Quinta da Marinha e dos ares do mar do Guincho; em seu lugar está o aristocrático Luís Amado - hoje com a batata quente nas mãos - e, apesar de não ter participado nesses contextos prévios e nesses sistemas decisórios labirínticos, foi o único titular ministerial que teve a coragem de dizer que caso seja provado alguma conivência entre os alegados vôos da CIA à revelia da legalidade portuguesa - que se demite.
Confesso que gostei de ouvir. A política sem teatro não é política. Nem o teatro sem é teatro sem palco... Foi de homem, foi de ministro, revelou carácter, estofo moral e destreza intelectual, além de desapego ao poder. Parabéns Luís Amado. Que terá agora de contar com mais uma investigação de Anacleto Louçã para provar que o ministro terá, sob qualquer das formas, de se demitir. Mas ao mesmo tempo que ouvia tais declarações pensei, ainda que por instantes, que quem deveria estar a proferir tais palavras era um sujeito que se pirou para Bruxelas e foi a verdadeira cabeça da hidra: reportamo-nos, naturalmente, ao sr. Durão, o transmontano de Bruxelas que era quem, na realidade, deveria ser demitido. E caso não tivesse coragem para o fazer, a teoria democrática, em nome do alto interesse comum europeu, deveria aqui rasgar uma excepção e permitir o seu saneamento compulsivo.
O que merecia da nossa parte, portugueses, atenções redobradas, já que com o seu afastamento de Bruxelas Portugal chamaria a si um ex-inimigo que, ao regressar, poderia provocar mais estragos do que se ficasse na Europa - cultivando a a rotineira inércia desta diante as forças do mundo.
Durão, pela sua formação ideológica e intelectual, vindo do maoismo - colega de Pacheco Pereira, hoje ambos na dita social democracia de trazer por casa que integra a dona zita seabra, é um tipo de sujeito político que sempre actua por ocultação das suas intenções, mais parece um espião com três coberturas e 5 passaportes. Sempre disposto a manter as pessoas na dúvida e no escuro, jamais revelando o propósito dos seus actos, mesmo aquando da realização da Cimeira dos Açores, embora os mais sagazes topassem à distância o que estava em gestação: o processo decisório que o concitaria para presidente da CE. Durão sempre actuou levando as pessoas pelo caminho errado até bem longe, enganando os portugueses, ludibriando-os, envolvendo-os numa cortina de fumo (como ora faz com o seu comparsa e carreirista C. Coelho), porque quando perceberem as suas intenções, será tarde de mais.
É por este conjunto de defeitos e de condutas lamentáveis e verdadeiramente lesivas do interesse nacional português, que seria Durão, o transmontano de Bruxelas, o player que hoje deveria estar do Parlamento português assinando a sua demissão, e não Luís Amado teatralizando a sua, não obstante ter revelado ser um homem de carácter.
Quanto aos demais personagens do espaço público, só poderemos designar que a política internacional é a esfera das pulhices e das sacanices, é a zona regulada pela força, pela habilidade e hipocrisia, pela manha e pela imoralidade, background apetecido para certos politiqueiros da nossa praça fazerem carreira e, assim, tratarem de vida. Mesmo que Portugal nada ganhe com isso. E é pena...

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