Nobel da literatura: Orhan Pamuk
ESTOCOLMO (Reuters) - O escritor turco Orhan Pamuk, conhecido também como um forte analista social, ganhou na quinta-feira o prêmio Nobel de literatura de 2006.
Em sua menção sobre o prêmio de 10 milhões de coroas suecas (1,36 milhão de dólares), a Academia Sueca disse: "Na busca pela melancólica alma de sua cidade natal, (Pamuk) descobriu novos símbolos para o choque e a inter-relação de culturas".
Pamuk foi o primeiro autor no mundo muçulmano a condenar a "fatwa" contra Salman Rushdie.
A Academia disse que sua erupção internacional chegou com o terceiro livro, "Beyaz Kale" (O Castelo Branco), uma novela histórica sobre a relação de um escravo veneziano com o jovem erudito que o compra.
Notas Macroscópicas:
1. Não podíamos deixar passar este facto em branco, pois desta vez não nos saíu um zaramago na rifa, mas alguém já com uma experiência consolidada que tem escrito em torno de temas profundamente humanistas.
2. É um homem com coragem capaz de afrontar o seu próprio governo a propósito das minorias (arménias) que têm sido oprimidas ao longo da história pelo turcos. Essa relação tem-lhe custado alguns conflitos, mas ao afirmar as convicções em torno do que julga mais justo revela-se também um homem de carácter e solidário com as causas do seu tempo.
3. Depois a sua obra tem versado sobre os dois mundos, as duas civilizações, o Ocidente e o Oriente, o mundo cristão e o mundo muçulmano. Assim sendo, é um homem de fronteira móvel, com uma visão cosmopolita e naturalmente vocacionado para compreender as verdades, ânsias e expectativas desses dois mundos cujos personagens ganharam personalidade nos seus romances. O que é mais uma preciosa vantagem, sobretudo hoje em que boa parte dos conflitos entre povos, nações e Estados decorrem duma cultura de intolerância e incompreensão pelo "outro", só que esse outros somos nós sempre que viajamos e cruzamos as fronteiras naturais..
4. Há dias marcelo Rebelo Sousa dizia que um escritor pode ser muito bom independente das suas qualidades morais e humanas. Discordamos frontalmente. Um escritor para ser genial, i.é, estar ao nível dum prémio desta envergadura tem de ser, de facto, um homem completo. Alguém que consiga fazer convergir ao mesmo tempo qualidades técnico-literárias, culturais e humanas. De que nos serve um zaramago se cada vez que as autoridades nacionais solicitam a sua colaboração o homem só fala em "bexigas" e noutras "fatalidades", como se as suas próprias palavras espelhassem o que lhe vai na alma. Mas como marcelo já diz tanta coisa banal aos domingos muitas pessoas já nem ligam, e eu estou nesse role. E quando o vejo é, confesso, para ver e ouvir aquela sedutora vox da Maria Flôr Pedroso. Às vezes esqueço-me, e no prolongamento dos telejornais lá aparece ele a dizer a trivialidades analíticas do costume. Mas, como sempre, comunica muito bem. É um grande comunicador, e o historiador José Hermano saraiva também. E às vezes é cá com cada saraivada que a nacionalidade até deita fumo por Guimarães (a)fora...
Que mais há a dizer senão que a estruturação do mundo de um escritor inclui o argumento, as problemáticas, as personagens, os cenários e os lugares onde decorrem as acções, as narrativas, o vocabulário utilizado, a perspectiva do romancista, a sua visão de futuro, a sua atitude mais um sem número de qualidades imperceptíveis. Parece-nos, portanto, que Pamuk é um tipo com fibra moral, estaleca literária, grande experiência, empenhado com os outros (os que sofrem e são oprimidos) e, acima de tudo, consegue fazer com que o universo que cria no seio dos seus romances tenha correspondência com o nosso mundo - de carne e osso - revelando em todo o seu esplendor preocupações éticas e personalistas de valia universal. Afinal, um grande romancista é aquele que é capaz de criar um mundo com caracteres inconfundíveis. O mundo, no fundo, é um conceito espacial, mental, filosófico, uma mão cheia de peculiaridades... Uma mão cheia de dólares. Parabéns.
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