quinta-feira

A revista Focus fala de blogues

Confesso que não sou leitor de nenhum jornal ou revista de papel, consulto alguns on-line. Mas ontem, numa daquelas grandes superfícies, lá fui cometer um acto mais oportunista: consultar à borla as suas páginas. E verifiquei que a revista Focus fez uma matéria sobre os blogues em Portugal, e o Jumento - entre outros espaços que não conheço - apareceu em grande destaque. Confesso que gostei. Mas pergunto-me porque razão só agora um suporte de papel se virou para o tema? Será por moda? Para acompanhar o comboio do consumo, do marketing e da nova economia? Até porque o blog citado manda um balanço significativo com cerca de um milhar de visitas/dia... Embora nem sempre quantidade traduza qualidade. Todavia, há aqui um drama que é bom não escamotear: a maior parte das revistas, até a Visão, líder nesse segmento, estão a sofrer a erosão crescente com a perda progressiva de leitores, também por causa da blogosfera, sobretudo a intelectualmente mais exigente que tem desviado milhares de leitores. E agora, para inverter essa situação, algumas revistas viram-se para a blogosfera com o fito conquistar algum capital de atenção nesse imenso mercado. Nós, aqui, estamos já a contribuir para ele - divulgando a revista... Tudo questões que exigem alguma profundidade e reflexão a que a Focus não deu atenção, nem esse era o objectivo da matéria. Mas agora, exposta pela rama o assunto da blogosfera nacional, fica o desafio de tratarem o tema com alguma profundidade. O Macroscópio, desinteressadamente, tem dado dezenas de exemplos no empenhamento dessa reflexão. Fica apenas um exemplo.. Mas sempre que o nível de reflexão aumenta os leitores emigram. Isto também reflecte outro drama na capacidade intelectual e nos gostos de leitura dos portugueses. Ora é esta prevalência da imagem sobre o inteligível - que conduz à verdadeira compressão do tempo - que me preocupa. Tanto mais que o novo agente soberano passou a ser essa máquina hiperbólica que é o Computador, em relação ao qual temos de ter a maior atenção para evitar que essa unificação da palavra, do som, das imagens nos empurrem para níveis de não-realidade, de não-compreensão, i.é, de realidades simuladas/virtuais que em vez de nos alargarem os horizontes apenas nos infundem nóias e um novo quadro de alienações que revelam, à saciedade, a atrofia cultural em que os portugueses hoje navegam. Julgo que conseguimos inverter isto quando passarmos a desvalorizar mais as imagens e a valorizar mais os conceitos e as ideias que eles regulam. Invertemos essa atrofia cultural quando nos jornais, nas revistas e nos media em geral profissionais de qualidade, com preparação científica, técnica e cultural "tomarem de assalto" a actual mediania intelectual que hoje colonizou inúmeras dessas redações. Infelizmente, também aqui o país é deficitário. Mas nunca é tarde para...
  • Pronto!!! Lá está o Macroscópio a dizer das suas, pensando em vox alta aquilo que já muitos pensam em vox baixa. Aqui é só uma questão de intensidade, timbre e de velocidade, mais nada.. No fim, até estamos (quase) todos de acordo. Dedicamos este post a quem nos media ainda consegue pensar e escrever com qualidade e reflexividade, apesar das grilhetas do espaço disponível que é sempre limitado.