quarta-feira

Filosofia, teologia e hipocrisia - por - Vicente Jorge Silva

Já nos tínhamos aqui pronunciado sobre as declarações do Papa Bento XVI que geraram tanta polémica e até já alguns actos criminosos. Contudo, veja-se o interessante artigo do jornalista VJS:
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  • Achei por bem mergulhar num livro que editámos em 2000, As ONG(D) e a crise do Estado soberano, e ver o que por lá se diz nas pags. 56 e seguintes.
... o que essa sociedade civil pensa é consequência do que ocorreu há 500 anos; a invasão colonizadora sob a forma da dominação tecnológica, dos capitais que entram para explorar a mão-de-obra barata e a abundância das matérias-primas bem como a adopção de políticas que favorecem os poderosos do império e os seus aliados e subalternizam o povo[1].
Vejamos um texto que é sintomático e reflecte um gesto de alguns indígenas andinos para com Sua Santidade, o Papa João Paulo II. A importância do texto revela, por outro lado, outro dado importante: questiona, de certo modo, o papel de uma das maiores ONG do mundo: a Igreja Católica[2]: «(…) Sintomático é o gesto de alguns indígenas andinos para com João Paulo II, quando em 1985 esteve de visita ao Peru. Máximo Flores, do Movimento Índio de Kollasuyo (Aymara), Emmo Valeriano, do Partido Índio (Aymara) e Ramiro Reynaga, do Movimento Índio Tupac Katari (Quechua) entregaram ao Pontífice uma carta. Nela escreviam: “Nós, índios dos Andes e da América, decidimos aproveitar a visita de João Paulo II para lhe devolver a sua Bíblia, porque em cinco séculos ela não nos deu nem amor, nem paz, nem justiça. Por favor, tome de novo a sua Bíblia e devolva-a aos nossos opressores, porque eles necessitam dos seus preceitos morais mais do que nós. Porque desde a chegada de Cristóvão Colombo, se impôs à América, com força, uma cultura, uma língua, uma religião e valores da Europa»[3]. Ao explicar em público a carta, Ramiro Reynaga explicou que «a Bíblia chegou até nós como parte do projecto colonial imposto. Ela foi a arma ideológica deste assalto colonialista. A espada que de dia atacava e assassinava o corpo dos índios, e de noite convertia-se em cruz que atacava a alma índia»[4]. Foi, também, na América Latina que, como já foi referido, se multiplicaram tendências e organizações não governamentais e outros movimentos populares que aceitavam a violência como legítima no sentido de tornar realidade a doutrina católica. Padres, freiras e pessoas que se envolveram na acção social através de “pastorais populares”, como ensina L. Landim, desenvolviam as suas principais acções por intermédio das ONG. [1] G. Giraldi, La Conquista de América, con qué derecho? DEI, Costa Rica, 1988, pp. 17-34. [2] Que à luz da teoria do sujeito jurídico tem uma base territorial limitada (o Estado do Vaticano) e é portadora de interesses espirituais específicos. Sobre a matéria ver, com vantagem, André Gonçalves Pereira, Curso de Direito Internacional Público, Lisboa, Edições Ática, 2ª edição, p. 230, s.d. [3] Leonardo Boff, Nova Evangelização, Perspectiva dos Oprimidos, São Paulo, Editora Vozes ob. cit., p. 13. [4] Cfr. textos recolhidos por Rubén Dario García. Evangelización y liberación en la historia latinoamericana, in AAVV, Evangelization y liberación. Buenos Aires, 1986, pp. 56-57.
  • Bastaria esta justificação para "calar" o Papa Bento XVI e não recorrer ao método da morte para impôr uma doutrina ou uma cosmovisão. E é aqui que esses barbudos primitivos com bombas atadas à cintura perdem toda e qualquer razão para dizer o que quer que seja. Pois quem tira a vida a alguém não merece viver quanto mais opiniar sobre o Al Corão - cujos textos aqueles ignorantes nem sequer conhecem, senão apenas uma leitura degenerada desses textos para mais facilmente incitar os ódios que os fundamentalistas canalizam contra o Ocidente.
  • Post dedicado às vítimas dos fundamentalismos de ambos os lados: primeiro, com a sangria gerada pelas cruzadas e pela conquista católica e de conversão forçada do mundo sob a cruz de Jesus e a espada do homem; e agora pelos actos terroristas cometidos pelos fundamentalistas islâmicos.