Sociedade-Ikea: suspensão da existência
Qual de nós já não foi ao Ikea, essa grande multinacional...já nem digo a nacionalidade com medo de não errar, porque isso muda à velocidade da lux. Ao longe parece uma grande fábrica de leilões de presuntos-gigantes, ao perto assemelha-se mais a uma multidão de turistas e de refugiados andando aleatóriamente como se tivessem saído de um ninho de cucos. Pois é, eu também lá fui comprar um caixote para arrumar livros. É quase preciso um doutoramento para perceber aqueles trajectos, não vão as pessoas girar em torno de si próprias. Mais do que a dona Branca, alí promete-se o paraíso na terra, e com todas aquelas embalagens ficamos drogados. Primeiro pela visão, depois pelo cheiro e lá damos com a embalagem que queremos. Delgadinhas, compridas, compactas, bem cheirosas... Depois não cabem no carro. Mas isso pouco importa, porque o limite é o céu.. O que interessa é que aquilo parece um estádio da Luz cheio de moscas numa frenética sexual, doentia, com pessoas a mandarem-se literalmente para cima dos colchões, a esfregarem-se, a abrirem as pernas, a fazer convites aos namorados e maridos - alí - diante da malta toda - que parece não ligar - porque todos, afinal, fazem o mesmo, todos comungam da mesma pacotilha cultural e psico-comportamental. Talvez isto seja um exagero, mas aquele grande leilão de presuntos importados que nos ilude acaba por nos fragmentar, por nos dividir, ou seja, por nos converter (nós próprios) em mercadorias. Exactamente iguais aos taipais que sobem por aqueles tectos acima em direcção ao céu. Somos mais uma commodity padronizada igual a tantas porcas, parafusos, anilhas, cadeiras, sofás, colchões, garfos e outras girafas que por lá anda na passarelle. Mas, de facto, se as pessoas dispusessem de um autentico poder de escolha iriam alí parar??? Alí sentimos que todos estamos no mesmo barco, mas, ao mesmo tempo, sentimos que também somos completamente diferentes uns dos outros, de modo que aquilo é uma fábrica de presunto de satandardiza também as diferenças, embora sob a capa de que somos todos iguais. Mas o que me pareceu mais grave, e só por isto é que partilho aqui esta estorieta sem interesse nenhum, é que enquanto por lá vegetava deixei de saber quem era, perdi a identidade, senti que tomei as pílulas da alienação, "(desi)existencializei-me". Passou-me quando cheguei a casa, apesar dos taipais ficarem todos fragmentados... à semelhança da sociedade que temos. Portanto, empate 0-0...
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